Frente a frente estarão o vice-campeão espanhol diante do campeão da Premier League, numa segunda mão dois oitavos-de-final que decidirá quem se junta a Bayern, Atlético Madrid, Mónaco, PSG, FC Porto e Real Madrid (Borussia e Juventus também hoje lutam pelo passaporte europeu). De um lado, jogando em casa, o temível Barcelona de Luis Enrique - renovado, refrescado por um 2015 que trouxe novo sangue técnico-táctico e uma revigorada abordagem mental aos desafios; do outro, o Manchester City de Manuel Pellegrini, ofensivo em aparência mas de tracção atrás na prática dos embates equilibrados.

O clube inglês terá de pegar no jogo e tomar para si os custos e despesas da busca pela reviravolta na eliminatória - o Barcelona, com dois golos forasteiros, deixou os «Citizens» perto da eliminação, e, hoje, em Camp Nou, a turma de Pellegrini terá de remar contra a força das bancadas e contra um Barcelona enérgico e motivado pelo facto de ter ascendido à liderança da Liga BBVA. O clube «blaugrana» vive, de facto, o seu melhor momento nesta temporada - ultrapassou o Real na tabela classificativa, regressou às sólidas exibições, Messi revive uma forma espectacular e Luis Suárez afinou o seu fatal «killer instinct».

O Manchester City, segundo classificado da liga inglesa, vem de uma derrota perante o modesto Burnley - a equipa de Manchester bem tentou perfurar o bloco baixo e unido do oponente, mas, sem sucesso. Hoje, Pellegrini poderá contar com o crucial médio «box-to-box» Yaya Touré, coração da equipa, que falhou o embate da primeira mão, devido a castigo; desta feita, Fernando deverá ter a companhia do costa-marfinense na zona central, enquanto Samir Nasri, David Silva, James Milner e Kun Aguero ocupam o último terço do campo, finalizando o habitual 4-2-3-1 dos «Citizens».

Ora, o 4-2-3-1 inglês terá do outro lado da barricada um 4-3-3 esfíngico do meio-campo para a frente; Marc Bartra ocupará o lugar de Javier Mascherano no centro da defesa já que o argentino terá de vestir a pele do trinco Sergio Busquets, lesionado. À frente do pêndulo defensivo, Luis Enrique colocará o mago Andrès Iniesta e o croata Ivan Rakitic, uma dupla de construtores de jogo com visão ofensiva tremendamente apurada. A parte esfíngica da tactica catalã começa, tradicionalmente, a partir de ambos - dois médios de pantufas, dois olhos virados para o carrossel triunvirato que reside no ataque do Barcelona.

Como encaram o jogo táctico Barcelona e Manchester City

Entremos agora na discussão da abordagem táctica do duelo, para dissertarmos sobre as disposições tácticas de ambas as equipas e suas estratégias defensivas e ofensivas. O Barcelona irá dispôr-se num 4-3-3 estrutural que se define pela utilização do médio defensivo, pêndulo da retaguarda que patrulha a zona que antecede a área, e pela utilização de três avançados; o Manchester City apresentar-se-á num 4-2-3-1 em que o fundamento táctico se rege pela utilização de um duplo pivot defensivo em que assenta todo o esqueleto da equipa - depois, mais à frente, na linha de três, um médio ofensivo de construção liga o miolo ao ataque.

Se o Barcelona começa a pensar o seu futebol na zona intermédia, com a química criada entre Iniesta e Rakitic, os dois mentores da fluência ofensiva, o Manchester City inicia as suas primordiais sinapses ainda mais atrás, com a pulsão física e a disponibilidade técnico-táctica de Yaya Touré, todo-o-terreno capaz de orientar, com critério, os passes de construção do ataque dos «Citizens». David Silva será o seu par na dança da organização ofensiva. Nasri, a espaços, também poderá coadjuvar o espanhol nessa tarefa. Como irão, então, Barcelona e Manchester City medir forças? Que estratégias aplicarão?

Estratégias para triunfar em Camp Nou

O Barcelona quererá, à partida, isolar jogadores particulares, cortando linhas de passe através de posicionamentos de cobertura zonal que impeçam a saída de bola do Manchester City. O bloco alto dos catalães tentará pressionar logo na primeira tentativa de construção, ainda em terrenos defensivos do City, cortando a ligação a Yaya Touré ou obrigando-o a recuar para pegar no jogo - sabendo de antemão o Barcelona que, caso tal recuo suceda, toda a estrutura tenderá a recuar também, para encurtar as brechas tácticas. O tridente ofensivo Messi, Neymar e Luis Suárez tentará impedir o primeiro passe, obrigando ao jogo directo.

A estratégia defensiva do Barcelona passará pela tentativa de isolar Yaya Touré mas também pelo isolamento dos criativos Nasri e David Silva, obrigando ambos a descerem no terreno para orquestrarem o jogo engasgado do Manchester City. Dessa forma, o Barcelona poderá, empurrando tacticamente, subir no terreno e impôr ao adversário um mínimo espaço para construir jogadas. Caso consiga ter sucesso, o jogo dos «Citizens» ficará partido, com largos metros entre linhas e desconexão entre sectores. Aí, o Barça poderá, à semelhança do que fizera na primeira mão, dispôr-se num 4-1-4-1 ou 4-5-1 expectante, dando ao oponente o ónus da iniciativa.

Se a maleabilidade táctica do Barcelona poderá rondar do 4-3-3 para o 4-1-4-1 ou 4-5-1, o Manchester City tenderá, como fez na primeira mão da eliminatória, a organizar-se entre o seu 4-2-3-1 e o clássico 4-4-2 linear, consoante a necessidade táctica e até o estado de alma da equipa - quando mais confiante, poderá alinhar-se em 4-2-4 pressionante, tentando matar as jogadas catalãs logo à nascença; quando menos assertivo, poderá render-se ao 4-4-2 claro, fazendo alinhar os extremos com os centrocampistas, cobrindo assim mais efectivamente a zona central do campo. Terá de evitar sim, a todo o custo, a inferioridade numérica no perímetro Yaya Touré/Fernando.

Isto porque, caso a pressão alta falhe, a estrutura de Pellegrini poderá deixar esvaziar o alerta central, restando a cintura táctica Yaya Touré/Fernando totalmente desprotegida ante um 4-3-3 que aplica um carrossel de derivações e deambulações, quer de Messi, quer de Neymar e Suárez - mas, principalmente, Messi: um perigo à solta. O argentino procura incessantemente o espaço, caindo nas zonas mortas e recuando para combinar com os colegas, contornando as patrulhas zonais e criando, de raiz, o espaço livre onde buscar o golo ou o desenvolvimento da jogada.

O génio de Messi transforma o ataque do Barcelona numa esfinge imprevisível, onde nenhum local é pisado pelo argentino duas vezes seguidas. La Pulga está em constante movimento, lendo em antecipação e procurando baralhar as marcações defensivas do rival. Sem posição fixa, Messi funciona como «avançado fantasma» que não se oferece à marcação - o que permite a Neymar e Suárez explorarem maiores amplitudes, na tentativa de complementarem o carrossel de Messi e beneficiarem da incessante desmarcação do argentino.