Pedro Martins saiu por cima e Jorge Jesus ficou a perguntar-se como havia o Benfica perdido: em Vila do Conde, os encarnados até arrancaram a todo o gás, com um brilhante passe longo de Pizzi e uma desmarcação furtiva do extremo/avançado Salvio.  Mas logo o campeão retirou o pé de acelerador e permitiu que o tempo se arrastasse e jogasse a favor do Rio Ave, que foi ganhando confiança para desconfiar do adversário.

Sem caudal ofensivo de assinalar, o Benfica deu a ideia de estar a gerir a magra vitória forasteira, enquanto o Rio Ave, esforçado mas pouco perigoso, soube acordar a tempo para reagir nos últimos vinte minutos de jogo. As entradas de Ukra e Diego Lopes vieram dar a dinâmica técnica e táctica que os vilacondenses não tinham tido; o jovem brasileiro, ex-Benfica, pisou o nervo do meio-campo encarnado, orquestrando direcções que nem um volante - Del Valle e Ukra, nas pontas, davam largura ao jogo caseiro.

Pela banda encarnada, Talisca, colado à canhota, nunca foi capaz de dar largura ao ataque da Luz, preferindo Jorge Jesus apostar na sua tendência para jogar pela faixa interior; aposta falhou e, como se viu após a entrada de Ola John, maior furtividade pelas alas teria dado asas ao Benfica (Ola John assistiu com primor Lima, mas este falhou escandalosamente). O golo vilacondense, nascido de uma grande penalidade cometida por Samaris, desabilizou a Águia.

O aviso tinha sido dado escassos minutos antes, com Diego Lopes a controlar a bola no abdómen táctico dos encarnados, desferindo, sem marcação efectiva, um remate que embateu no poste de Júlio César. O médio ofensivo do Rio Ave gozou de liberdade para gerar pânico no meio-campo do Benfica; Jesus terá percebido isso e reagiu: tirou Samaris, amarelado, e colocou em campo Rúben Amorim, mas, a expulsão de Luisão, aos 85 minutos, foi um enigma ao qual Jesus não soube responder.

Três minutos depois, o banco encarnado coloca o central devido, Lisandro, mas, ao invés de retirar, de modo cauteloso, um dos avançados (Jonas ou Lima), retirou um dos dois centrocampistas - o escolhido foi Pizzi. O resultado foi um Benfica espraiado num 4-1-4 totalmente partido e desligado, sem conexão entre sectores nem unidade táctica no miolo. Em inferioridade numérica e perante um ascendente natural do Rio Ave de Martins, Jesus abdicou da solidez do miolo e o máximo que acautelou foi responsabilizar Jonas com tarefas de intermitente médio central - algo que difcilmente se colaria à necessidade real do jogo.

Totalmente anárquico, o Benfica perdeu a réstia de solidez táctica que tinha e passou a actuar de modo partido, com largas clareiras entre sectores e pouca fiabilidade táctica. O lance do segundo golo (que parte de uma desconcentração de Maxi, de um lançamento lateral falhado) é reflexo do erro técnico de Jesus: meio-campo desguarnecido, distante da defesa, e colocado em posições altamente comprometedoras. Tarantini furou pela auto-estrada, serviu Lopes que por sua vez serviu Del Valle.

Na fase final da jogada que resulta no golo do 2-1, o Benfica dispõe apenas de três jogadores defensivos para três atacantes vilacondenses, numa altura do jogo em que o ascendente caseiro era evidente e a inferioridade numérica de um Benfica desorientado pedia maior segurança táctica na abordagem aos minutos finais. Com Amorim como único médio de uma suícida táctica 4-1-4, apenas disfarçada pelo incaracterístico recuo de Jonas para funções de médio centro puro, Jesus desmontou o Benfica.

Em vez de optar pela saída de um dos avançados, Jesus retirou um dos dois médios, tornando o meio-campo num espaço sideral. Pedro Martins, inteligente, agradeceu - com Wakaso, Tarantini e Diego Lopes na faixa central, o golo do 2-1 foi ocorrência natural. Demérito para o Benfica, mérito para a irreverência do Rio Ave.