Se dúvidas existissem quanto ao peso bruto de Nicolás Gaitán no rendimento da equipa da Luz, essas dúvidas ficam rapidamente desfeitas mal se analisa o comportamento encarnado nos duelos em que o extremo criativo não pode dar o seu contributo - em 2015, todos os pontos perdidos pelo Benfica na Liga NOS aconteceram em jogos nos quais o atleta argentino não participou.

Oito pontos sem Gaitán para acudir

O Benfica perdeu 8 pontos nesta segunda volta do campeonato, e, em todas essas três partidas, Gaitán não pôde dar o seu contributo à equipa comandada por Jorge Jesus - a contas com impedimentos de ordem física, Gaitán ausentou-se por várias semanas e apesar dos encarnados terem sobrevivido ao seu afastamento da competição, a verdade é que, contra Paços de Ferreira, Sporting e Rio Ave, o Benfica sucumbiu por duas vezes (na Mata Real e nos Arcos) e empatou outra (em Alvalade).

Ainda que Ola John tenha sido um substituto minimamente competente (até fez o gosto ao pé por mais que uma vez) na faixa esquerdo do ataque encarnado, a verdade é que o jovem holandês não empresta à estratégia de Jesus a criatividade táctica e a capacidade de multiplicar mecanismos ofensivos mais complexos que o argentino empresta - isto porque Gaitán não se resume a desempenhar as funções de extremo.

Mais que um extremo, um «10» que pensa o jogo encarnado

O internacional argentino não faz apenas magia com o seu tecnicista pé esquerdo; Gaitán veste muitas vezes a pele de organizador de jogo atacante do Benfica, carregando a bola até zonas de decisão, servindo os colegas com inteligentes distribuições e rompendo pelo interior, gerando desequilíbrios em toda a amplitude do último terço do terreno. Com o argentino em campo, o jogo encarnado ganha imprevisibilidade e maior coordenação ofensiva - servindo como elo de ligação ao ataque (Lima e Jonas), Gaitán é muitas vezes um «10» mascarado de extremo.

Nas modalidades tácticas do múltiplo modelo de Jesus (4-4-2 de base que se aplica em campo num 4-2-4 ou num 4-1-3-2) Gaitán assume um papel-chave; aliás, juntamente com a preponderância dos dois centrocampistas, Gaitán resume as sinapses do cérebro do Benfica. Sem ele, o jogo encarnado torna-se menos acutilante, menos fluído, menos corrido; Jonas e Lima perdem a sua ponte táctica e somente Pizzi (enquanto «8») e Salvio (na direita) não chegam para empurrar, com qualidade, a equipa para a frente.

Num esquema com Ola John na esquerda e Salvio na direita, o Benfica ganha profundidade em ambos os corredores mas perde critério técnico-táctico: sem um jogador astuto e controlador, que possa pegar na bola e guiar a equipa rumo ao ataque, o Benfica perde as asas, por muito que as tenha prontas para descolar. John e Salvio resumem-se a excelentes dribladores com óptimas qualidades no momento de penetrar na área e gerar pânico nas defensivas contrárias, mas aos dois falta-lhes a inteligência para gerar jogadas de envolvimento colectivo - as mais perigosas no futebol.

Órfão de Enzo e dependente de Gaitán...por agora

Não é, pois, por acaso, que nas três perdas de pontos do Benfica em 2015, Gaitán tenha estado ausente - sem ele, o Benfica está sempre um pouco mais perto de ter areia na engrenagem ofensiva. Além disso, a gestão do jogo torna-se menos criteriosa e menos eficiente, algo que é acentuado pela ausência de Enzo Pérez, o outro grande maestro da equipa de Jorge Jesus; sem Enzo e sem Gaitán, o Benfica torna-se uma equipa sem a faísca doutros tempos. Jesus sabe, actualmente, que só Gaitán sabe elaborar com mestria o futebol ofensivo do Benfica.

Enquanto Pizzi desenvolve a sua capacidade de organizar jogo e Talisca espera por uma oportunidade para convencer enquanto médio «box-to-box», o Benfica permanecerá sem um maestro central que não Gaitán, o que poderá causar alguns calafrios sempre que o Benfica se veja privado do argentino e sempre que se depare com equipas arrojadas, sem medo de atacar e de ter a bola no pé, como foi o caso do Rio Ave, na jornada passada (destaques para Diego Lopes, Ukra, Del Valle e Tarantini).

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