Esqueçam os milionários, as vedetas galácticas, os «tiki-takas» geracionais e os colossos da vida - por estes dias, a glória europeia pertence ao FC Porto, que ontem, contra todas as expectativas, socou, por três vezes, o gigante Bayern no Estádio do Dragão. A eliminatória poderá acabar perdida, mas o feito histórico de bater o Golias bávaro pertence já à memória colectiva do futebol nacional. A brava estoicidade do Dragão perante o excepcional Bayern, essa, ninguém poderá já obnubilar.

Na retina da Europa, para além da momentânea mas estrondosa queda germânica, ficaram os lances dos golos portistas: sob pressão quase atemorizadora, Dante e Xabi Alonso tremeram como verdadeiras varas verdes e permitiram a Jackson Martínez e Quaresma fustigarem Manuel Neuer. O lance do terceiro golo, iniciado num passe milimétrico de Alex Sandro que deixou Boateng nas covas, foi a cereja em no topo do bolo, colocado, com preciosismo, pelo avançado colombiano.

Muito poderemos dissertar sobre as claras flutuações da equipa de Julen Lopetegui nas variadas competições, mas, a verdade indesmentível dos factos diz-nos algo incontornável: o FC Porto é, em Abril, numa fase bem adiantada da Liga dos Campeões, a única equipa imbatível na Europa dos milhões. Em onze partidas já disputadas (não esquecer pois, a eliminatória de acesso, diante do Lille) o FC Porto nunca foi derrotado - mérito a quem o merece. Desvalorizar tal feito com teorias rascas de inferiorização dos oponentes é por demais mesquinho. Lidemos com os factos e deixemos as apreciações subjectivas de lado.

A verdade desses números diz-nos que nem Real Madrid, nem Bayern, nem Barcelona ou Juventus foram capazes de se manter imbatíveis nesta edição da Liga dos Campeões. Mais: o FC Porto é, em igualdade com o Bayern, a equipa com mais golos marcados nesta edição da competição, 24 tentos já apontados, três dos quais contra o campeão da Bundesliga. Com uma média de 2,67 golos por jogo, o FC Porto deixa, por exemplo, o rival Benfica a milhas - apenas 0,33 golos por jogo (em 6 duelos). Equipas como a Juventus e o PSG, ainda em prova, também ficam distantes desse registo (1,44 golos por jogo).

Na análise dos dados defensivos, novamente o FC Porto em destaque: a equipa do Dragão sofre, em média, 0,56 golos por jogo, número apenas igualado pela Juventus e somente batido pelo Atlético Madrid (com 0,44 golos por jogo). Em suma, à beira de discutir, em Munique, o apuramento para as meias-finais da Liga dos Campeões (quando todos pensavam que o jogo de ontem mataria esperanças) o Porto pode orgulhar-se de uma campanha extremamente positiva na prova. Pergunta: que outra equipa lusa pode vangloriar-se de ter estado onze jogos consecutivos sem derrotas na «Champions»?

Terá o Benfica de Jorge Jesus conseguido? Não, nem por sombras; terá o Porto de Vitor Pereira atingido esse feito? Longe disso também; de facto, atente-se ou não na análise subjectiva dos adversários do Porto, a verdade é que não há registo, neste milénio, de uma senda superior de resultados neste milénio - apenas o FC Porto campeão europeu de José Mourinho consegue igualar (com 11 jogos sem perder, com a diferença de serem 11 jogos de fase final) a senda de Julen Lopetegui na «Champions»- factos são factos, números são números. Matemática apenas.