Se pensa que os dois golos do FC Porto, no jogo-relâmpago dos primeiros dez minutos, foram coincidência, pense outra vez - os jogadores portistas executaram sim, na perfeição, uma estratégia delineada por Julen Lopetegui, que, ao analisar o perfil do colosso Bayern, vislumbrou, claramente, os pontos fracos da equipa de Pep Guardiola. Nos cadernos de Lopetegui não constam segredos: são sobejamente conhecidas as debilidades do Bayern na saída de bola dos seus defesas e sempre que Xabi Alonso não tem espaço sequer para inspirar fundo.

Passemos a explanar: primeira ordem - pressionar fortemente, cortando espaços e galgando metros, anulando linhas de passe logo na primeira transição do Bayern (na zona de troca de bola entre Neuer, Dante, Boateng, Rafinha e Xabi Alonso) e apoquentando jogadores mais permeáveis à pressão e à redução do tempo de reacção (casos do defesa central de Dante e Boateng). Segunda ordem - subir, em simultâneo, o bloco de médios/alas para perto dos extremos/avançado, congestionando o meio-campo e acentuando a dificuldade do oponente em construir jogadas, no fundo, em respirar com bola.

Terceira ordem - trancar a mira no pivot de construção da equipa, Xabi Alonso; alocar recursos para tapar as linhas de passe do espanhol (que variadas vezes recua para a linha defensiva para catapultar o futebol do Bayern) ao mesmo tempo que, com fôlego e assertividade, se impede o médio playmaker de receber a bola com tranquilidade, com tempo para alinhavar jogadas e pensar nas suas ramificações. Se Xabi Alonso pensa com bola no pé, o futebol bávaro flui; caso contrário, corre o risco de estagnar entre passes frívolos no coração da zona defensiva, onde o erro pode ser fatal. E foi.

O FC Porto, montado no seu escudo 4-3-3, alocou Jackson Martínez para cair em cima de Alonso, incomodando a posse de bola do espanhol e sufocando o seu compasso pensativo. Nas alas, Quaresma e Brahimi, afoitos, pressionaram Dante e Boateng (que alargam a linha recuada para dar mobilidade táctica à saída de bola) e tentaram tapar as vias de Rafinha e Bernat. O meio-campo acompanhou a pressão: Óliver Torres subiu muitas vezes para pressionar o miolo defensivo do Bayern (por vezes auxiliando Jackson) e Herrera tentou ocultar o raio de acção de Thiago Alcântara

O plano foi seguido à risca enquanto houve possibilidade, ou seja, na melhor altura para surpreender um colosso: nos minutos inaugurais. O Porto entrou com fulgor, correndo bastante e tapando os espaços para que o Bayern não entrasse confortavelmente no jogo. Xabi Alonso foi fortemente atacado pelo bafo de Jackson Martínez e Dante e Boateng tremeram sempre que tiveram a bola - nos dez primeiros minutos, o Porto roubou duas vezes a bola e por duas vezes bateu Manuel Neuer. Ou seja, antes da expectável avalanche ofensiva do Bayern, o Porto encheu a barriga para depois se preparar para sofrer

A estratégia de Lopetegui, assim como a potente entrada do Porto, foram cruciais para a edificação da vitória por 3-1. Sabendo da superioridade bávara, o Porto entrou no jogo como um relâmpago e nas duas vezes que se abeirou de Neuer, não perdoou. Numa eliminatória que estará sempre, em termos teóricos, a favor do colosso germânico, era vital amealhar golos enquanto o gigante dormia. Foram dez minutos que poderão ser fatais para o Bayern