Crónica VAVEL

A temporada do Benfica não começou da melhor forma, com vários altos e baixos na incerta pré-época dos encarnados. A diáspora do plantel, qual fuga de talentos, deixava antever uma redução significativa na qualidade global do colectivo das águias; os maus resultados da preparação provocavam dúvidas quanto à capacidade do Benfica em lutar contra um Porto mais apetrechado.

Com internacionais mundialistas como Yacine Brahimi, Bruno Martins Indi, Herrera e Jackson Martínez, aos quais se juntavam valores seguros como Alex Sandro, Danilo, Quaresma e promessas de alto calibre como Óliver Torres, Cristian Tello e Casemiro, o Porto assenhorava-se das melhores perspectivas para a época, enquanto o Benfica, ainda em remodelações (após as saídas de Markovic, Oblak, Siqueira, André Gomes, Cardozo, Rodrigo e Garay), titubeava no planeamento da temporada.

No reino encarnado, a baliza permanecia um tabu: Artur Moraes não reunia as condições técnicas nem psíquicas para suceder ao frio Oblak, Jardel ainda causava dúvidas no processo de sucessão do internacional vice-campeão do mundo Ezequiel Garay, e o meio-campo, órfão de Matic e prestes a perder Enzo (a novela prosseguiu até Janeiro, mês em que o argentino abandonou finalmente a Luz), causava alguma apreensão devida à adaptação de Samaris e à não-utilização de Cristante.

A temporada arrancou e, apesar do sucesso contínuo na Liga, o Benfica voltou a debater-se com obstáculos que o acabaram por derrubar com estrondo. Em Dezembro, o Benfica conseguiu sair dos carris em três competições: na Liga dos Campeões, apenas com um triunfo, o Benfica ficou em último do seu grupo, falhando até a Liga Europa; na Taça de Portugal, saída igualmente precoce, às mãos do SC Braga, em plena Luz. Agora, Jesus estava obrigado a conquistar o tão apregoado bicampeonato.

Com todos os contratempos, e, inexoravelmente obrigado a cortar a meta do título em primeiro lugar (posto que ocupou na grande maioria da Liga), o Benfica de Jorge Jesus, possivelmente a enfrentar a última época de parceria, concentrava-se totalmente na conquista da Liga (com o objectivo secundário da Taça da Liga). A luta contra o rival Porto, no entanto, nunca foi uma pedra no sapato do Benfica - a liderança encarnada nunca foi abalada e permaneceu sólida como uma rocha.

O renovado Porto de Julen Lopetegui nunca foi capaz de abanar a hegemonia benfiquista na presente edição da Liga - descontextualizado, sem raça competitiva nem astúcia para ferir a Águia, o Porto permaneceu sempre na perseguição mas falhou sempre nos momentos cruciais: derrotado em casa por dois golos de Lima, o Dragão foi perdulário na Choupana e salvou o Benfica da pressão de uma perseguição mais intensa (após derrota em Vila do Conde), acabando por deitar tudo a perder no clássico da Luz.

Sem chama, sem garra, sem sangue quente nem noção da responsabilidade desportiva de se impôr na Luz até à última gota de suor, o Porto de Lopetegui viu a luta do campeonato esvair-se a cada minuto que se esgotava no reduto encarnado. O Benfica de Jesus, confortável com a incompreensível apatia portista, limitou-se a olhar para o relógio, deixando o jogo terminar, e, com ele, morrerem as esperanças do FC Porto em conquistar a Liga. 

Numa época atribulada, que, convenhamos, nem sempre foi positiva para as aspirações benfiquistas (a eliminação total e precoce dos afazeres europeus foi chocante), o Porto falhou em incomodar o Benfica, estendendo a passadeira vermelha do campeonato, perecendo às mãos de um Benfica mais sólido, mais experiente e mais maduro. Apesar de todos os problemas com que o Benfica se deparou nesta temporada 2014/2015, o Porto nunca foi, surpreendentemente, um deles.