O Bayern tinha de reagir cedo para contrariar a caminhada triunfal do Barcelona rumo à final da Liga dos Campeões: três golos de vantagem teriam de ser anulados por uma entrada de leão dos bávaros orientados por Pep Guardiola. E, se havia cenário sonhado pelo conjunto alemão, esse foi certamente aquele que se presenciou no Allianz Arena, mas...apenas durante quatorze minutos.

Bayern: começou como devia...mas só até o Barcelona querer...

Sete minutos apenas chegaram para que o Bayern desse o essencial primeiro passo rumo a uma remontada que se exigia épica; perante um Barcelona demolidor encabeçado por um trio maravilha Messi-Neymar-Suárez, o Bayern frágil da primeira mão das meias-finais teria de mostrar garra, superioridade táctica e ímpeto indomável. Mesmo não atingindo todos esses requisitos (Rakitic foi o primeiro a demonstrar que o Bayern continuava periclitante na defesa...salvou Neuer) os bávaros marcaram o tão desejado golo madrugador - Benatia, qual ilha, cabeceou sozinho para o fundo das redes de Ter-Stegen após canto.

Sete minutos, 1-0, estádio vibrando ao som do prenúncio da remontada. Seria? Não, puro engano apenas, aliás, rapidamente corrigido pelo Barcelona logo que o trio ofensivo sentiu necessidade de acalmar as hostes e recolocar a eliminatória no trilho que a primeira mão traçara. Messi descobriu Suárez, que, por sua vez, uma vez rasgada a defesa bávara, tocou com altruísmo a bola para o isolado Neymar celebrar - 14 minutos de jogo, silêncio na Arena.

Barcelona: trio maravilha nem suou para voltar a marcar

Pesado nas movimentações de cobertura e manietado pela panóplia infinita de desmarcações e passes de ruptura do oponente, o sector recuado do Bayern limitava-se a ser rompido pela velocidade interligada de Messi, Neymar e Suárez. Sem o apoio de um pivot defensivo, Benatia e Boateng ficavam largados às três feras, que, cheirando o medo, se encostavam a eles, esperando um passe de ruptura para acelerar o jogo e deixá-los para trás - a receita da primeira mão voltaria a ser aplicada no segundo golo catalão, marcado aos 29 minutos por Neymar: Messi, de cabeça, solicitou a desmarcação (batendo Benatia) de Suárez e este, com régua e esquadro, assistiu o brasileiro. Tiro rente ao poste, 1-2 na Arena.

O Bayern, qual embarcação rota, via a água afundar o navio: o sistema táctico de Guardiola, arriscado porque permeável na ligação entre a defesa e o meio-campo, permitia a perfuração do trio de ataque de Luis Enrique, que, em velocidade, ultrapassava a ténue linha subida composta por Rafinha, Boateng, Benatia e Bernat. O campeão da Bundesliga tentava reagir e, com cabeçadas de Schweinsteiger e Lewandowski, obrigava Ter-Stegen a duas belíssimas defesas. A primeira parte terminava com nova vantagem «culé», e, se a primeira parte tinha sido de futebol atraente, a segunda, por culpa dos treinadores, foi menos exuberante.

Segunda parte: Barcelona passivo, o melhor Bayern fora de horas

O Barcelona entrou passivo e pronto para remeter-se a uma atitude defensiva - os primeiros minutos da segunda parte logo desvendaram as ordens pragmáticas de um Luis Enrique aparentemente amedrontado com a possibilidade de dominar o jogo na Arena. Linhas recuadas, menos sede de bola e menos intensidade aquando com ela nos pés, o Barcelona permitiu, injustificadamente, a subida do Bayern no terreno. O Bayern aumentou a intensidade do seu jogo apoiado e, Lewandowski, após sublime finta, rematou para o 2-2 aos 59 minutos de jogo - exibição de alto nível do combativo polaco.

Se o Barcelona havia dominado a vasta maioria dos minutos de toda a eliminatória, nesta segunda parte anulou-se a si mesmo, perdendo o controlo do jogo e assistindo à subida de forma do colosso alemão. Thomas Muller, à entrada da área, rematou com efeito e balançou as redes do compatriota do Barcelona, colocando o Bayern na frente do marcador aos 73 minutos - mas jogava-se apenas pela honra ao cair de pé e não pela disputa de um lugar da final. Guardiola, que esperou até aos 85 minutos para lançar Mario Gotze, voltou a ser conservador nas suas substituições e também não optou por arriscar um milímetro. Não o fizera em Camp Nou, voltou a não fazê-lo em casa.

O Barcelona está na final da Liga dos Campeões, esperando agora pelo resultado do duelo entre os italianos da Juventus e o seu rival nacional Real Madrid. A caminho de Berlim, o Barcelona do estreante europeu Luis Enrique (primeira «Champions» em que participa enquanto treinador) poderá não só ser coroado rei da Europa mas também total conquistador das provas internas.