O Jamor assistiu a uma das mais emotivas e empolgantes finais da História da Taça de Portugal - o SC Braga entrou com atitude de conquistador e, beneficiando de erros individuais da defensiva leonina, adiantou-se no marcador logo após findar o primeiro quarto de hora de jogo; reduzido a dez unidades, o Sporting sofreu o segundo golo e foi-se afundando na partida à medida que o tempo passava e os assobios salpicava o espírito dos jogadores leoninos. Quem adivinharia que, no fim, seriam eles a festejar?

25 minutos de fúria arsenalista e aselhice leonina

Quando Djavan arrancou feito uma seta, rumo à baliza de Rui Patrício, a Taça de Portugal tingia-se de tons arsenalistas: Cédric Soares carregou o lateral brasileiro já dentro da área, provocando uma grande penalidade e recebendo ordem de expulsão - Éder não tremeu (ao contrário do momento crítico do desempate) e inaugurou o marcador. O inferno leonino teria continuação logo a seguir: Miguel Lopes, que entrara para o lugar de João Mário, deixou que Rafa lhe roubasse a bola e, com calma, batesse um indefeso Patrício.

Aos 25 minutos, o Sporting estava morto e o SC Braga vivinho da silva, dois golos de vantagem e uma superioridade numérica que jogaria sempre a favor da tranquilidade psicológica e física dos bracarenses e contra a integridade mental e física dos Leões. Mas...seria mesmo assim? A primeira parte terminaria com o natural domínio do Braga de Sérgio Conceição perante um Sporting incauto, duvidoso das suas capacidades e visivelmente fragilizado.

Sporting «in-extremis» salvou-se inesperadamente

A segunda parte começaria na mesma toada, com o Sporting a redundar em passes falhados e cavalgadas inconsequentes. O Braga, que tentava dar a estocada final (através das correrias de Pardo e Rafa), começou a recuar no terreno à medida que o tempo se esgotava. Sem nada o fazer prever, o mundo bracarense cairia rapidamente aos pés da equipa, em apenas dez minutos. Slimani aproveitou uma falha defensiva (mau alívio) do Braga para reduzir para 1-2.

O golo de Slimani (Kritciuk ajudou, posicionando-se de modo errático) foi como um renascimento leonino: a auto-estima aumentou, a confiança sofreu um impulso e a esperança, verde, cobriu o espírito do colectivo de Alvalade. O Braga, inversamente, desce ao inferno de onde o rival acabara de sair com o tento do argelino, aos 83 minutos. Adivinhava-se o golo redentor do Sporting, que obrigasse o jogo a entrar em prolongamento - e assim foi; Fredy Montero, que entrara aos 73 minutos, marcou aos 93 e toda a nação sportinguista rejubilou.

Com a Taça na mão, o Braga resolveu deitar tudo a perder

Apática, lenta e anestesiada, a defensiva bracarense pregou-se ao relvado e deixou que a onda de confiança leonina varresse a vantagem construída nos primeiros 25 minutos da primeira parte. Titubeante e enfiado dentro da sua própria área, o Braga permitiu a sorte leonina e, mesmo jogando em superioridade numérica, parecia estar, ele sim, reduzido a residuais escombros tácticos e até psicológicos. Montero fugiu por entre os centrais e, à saída de Kritciuk, empatou a partida - no banco, Conceição nem queria acreditar no repentino descalabro.

Quem adivinharia que, com dois golos de vantagem e em superioridade numérica desde os 15 minutos, o SC Braga iria deitar tudo a perder, desconcentrando-se a ponto de oferecer, após mau alívio do central bracarense, o golo da motivação e, dez minutos depois, sofrer o golo do empate, de forma displicente? Mérito para a resiliência leonina e demérito extra para a desfaçatez organizacional dos arsenalistas - o tabuleiro virava a favor do Sporting, que, apesar de reduzido a 10 unidades, entraria para o prolongamento com ascendente psicológico.

Prolongamento morno aqueceu com remates de Nani e Agra

O prolongamento foi jogado com as máximas cautelas: o Sporting, em inferioridade numérica, tentou controlar o ritmo e a ocupação dos espaços, mantendo a coesão colectiva; o Braga, ferido psicologicamente, jogava a medo e já não possuia a capacidade para arriscar. Mauro, precipitado, recebeu o segundo cartão amarelo e deixou o duelo em igualdade numérica. De ressalvar, apenas um tiro em jeito de Nani e um remate de Salvador Agra rechaçado por um estóico Rui Patrício. 

Nas grande penalidades, a lógica da inversão do ascendente psíquico vigorou, sem grandes surpresas: o Braga, hesitante e magoado pela reacção leonina, vacilou perante o sereno Rui Patrício e tanto nervosismo e insegurança até resultaram em dois penalties que nem sequer levaram a direcção da baliza (Éder e Agra chutaram para longe, André Pinto permitiu a defesa de Patrício). O Sporting, revigorado pela injecção de esperança, saira do inferno para disputar a derradeira possibilidade de ser feliz na Taça. E conseguiu -  Adrien, Nani, Slimani marcaram os tentos que culminaram na conquista do troféu

Quem adivinharia?

Ninguém adivinharia que o Sporting, quase enterrado no Jamor aos 25 minutos, viria a celebrar a conquista da sua décima sexta Taça de Portugal da História; a desilusão total de Sérgio Conceição espelhava a tristeza que assolava a cara dos «Guerreiros do Minho». Na face dos Leões, a jovial expressão de quem fintou a desgraça e ascendeu aos píncaros da alegria, quebrando um jejum de títulos que perdurava há sete anos. No relvado do Jamor, o Sporting suspirou de felicidade e o capitão Patrício ergueu a primeira Taça da era Bruno de Carvalho.