Chegar, ver e marcar

Apesar de terem chegado ao futebol português no mesmo ano, e de hoje serem hoje a principal referência ofensiva das respectivas equipas; Vincent Aboubakar e Jonas apresentam trajectos que, embora díspares em vários aspectos, têm o condão de desaguarem na mesma foz; mais cedo, ou mais tarde, ambos os pontas-de-lança mostraram todo o seu valor ao público português, chegando às vésperas de um embate directo em grandes momentos de forma.

Jonas chegou ao Benfica já a janela de Agosto tinha fechado, contudo, o brasileiro era um jogador livre e podia assim assinar com qualquer clube. Apesar dos seus 30 anos, o avançado brasileiro não perdeu tempo em mostrar todos os seus atributos, contribuindo com trinta e um golos para a conquista do bi-campeonato e da Taça da Liga por parte das águias. O impacto e qualidade demonstradas pelo ponta-de-lança canarinho valeram-lhe também o prémio de melhor jogador do campeonato 2014/2015.

No início desta época, Jonas parece querer dar continuidade à sua enorme veia goleadora, contabilizando já cinco golos em seis partidas, e que colocam o brasileiro na liderança dos melhores marcadores do campeonato.

Para Aboubakar o caminho foi outro; também chegado no defeso da época 2014/2015, o camaronês chegou ao FC Porto, não para ser titular de imediato, como foi Jonas, mas para ser alternativa a Jackson Martínez, titular indiscutível nos dragões. Apesar dessa situação, o camaronês foi sabendo aproveitar as oportunidades dadas por Julen Lopetegui, tendo apontado oito golos em vinte jogos oficiais.

O final da temporada e a iminente saída de Jackson Martínez criou alguma especulação em torno do possível substituto do avançado colombiano; todavia, o arranque da presente época mostrou que Lopetegui apostou em Aboubakar para sucessor de Jackson, oportunidade que o avançado africano parece estar a aproveitar por completo. Com apenas cinco jogos oficiais esta época, o "9" azul-e-branco leva já seis golos, quase tantos como na temporada passada, tendo marcado nas últimas três partidas. (foto: dn.pt)

Independentemente de idade ou clube, a verdade é que estes dois pontas-de-lança causaram um impacto imediato nas suas equipas a partir do momento em que assumiram a titularidade, sendo hoje peças insubstituíveis nos respectivos onzes.

Jogar sozinho...mas não abandonado

Como é sabido, a tática de Lopetegui no FC Porto esplana-se no 4x3x3, onde Aboubakar é o único ponta-de-lança; apesar disso, o camaronês tem o constante apoio de alas que frequentemente procuram o jogo interior, assim como dos homens de meio-campo. Esta dinâmica permite aos dragões. por vezes, colocar quatro ou cinco homens na zona de finalização, aumentando assim as probabilidades de sucesso.

Mas a referência ofensiva é, ainda e sempre, Aboubakar, um jogador que, mesmo quando sozinho perante as defesas, usa da sua capacidade física para esperar pelo apoio dos colegas, ou até mesmo conseguir ele próprio resolver sozinho a situação. (foto: dn.pt)

Todos os atributos físicos e técnicos do camaronês estavam cá desde o ínico, a grande diferença de uma época para a outra resume-se a dois pontos: o primeiro prende-se com o assumir do papel de titular e da consequente motivação que esse estatuto trouxe ao avançado azul-e-branco; ao contrário do ano passado, Aboubakar é hoje um jogador mais confiante e solto de movimentos.

O outro factor prende-se com a dinâmica do jogador em campo. Na temporada passada viamos frequentemente Aboubakar muito preso à sua posição central, funcionando quase somente como homem de área; este ano isso mudou, o avançado dos dragões surge agora mais irrequieto, procurando outras zonas do terreno para desiquilibrar e baralhar marcações. Atentemos ao mapa de movimentos do camaronês na última partida diante do Dínamo de Kiev. (foto: uefa.com)

Apesar de, naturalmente, concentrar a maioria dos seu posicionamento no corredor central, verifica-se a deslocação de Aboubakar para os falncos e terrenos mais recuados, resultado da dinâmica e estratégia do próprio jogo, mas também indício de um novo papel em campo, de um homem de área para um homem de equipa.

Águias atacam aos pares

Para quê mudar o que está certo? Deve ter sido assim que Rui Vitória terá pensado aquando da dinâmica ofensiva do novo Benfica. Todavia, e já sem contar com Lima, o técnico encarnado começou a temporada, no jogo da Supertaça, com Jonas sozinho no ataque, algo que se revelou um erro. Se há facto comprovado para os lados da Luz, é que só com um sistema de dois avançados é que Jonas é capaz de por em acção todo o seu futebol; e se no ano passado Lima parecia ser o único par, este ano o brasileiro conta com Mitroglou e Jiménez como possíveis companheiros de ataque.

Independentemente de com quem faz parceria, o brasileiro assume o papel de avançado mais recuado, podendo até, em alguns casos, servir de apoio ao equilíbrio do meio-campo. Dos avançados encarnados, Jonas é aquele que parece mostrar mais mobilidade, não deixando, contudo, de estar sempre presente quando se pede para finalizar. Bem indicativo disso mesmo é o exemplo das movimentações do avançado brasileiro na última partida do Benfica diante do Astana. (foto: uefa.com)

Ao contrário do congénere portista, Jonas concentra grande parte do seu jogo no corredor central, com maior foco, naturalmente, para as zonas de finalização. Todavia, é de notar alguma presença na zona intermediária, prova do papel de Jonas como um dos principais dinamizadores do ataque encarnado.

Duas equipas, dois estilos de jogo diferentes, dois perigos à solta junto das balizas adversárias. No clássico deste Domingo é principalmente sobre as costas de Aboubakar e Jonas que cai a responsabilidade do golo, mas se há algo que as primeiras jornadas do campeonato já provaram é que ambos estarão certamente à altura dos acontecimentos. Veremos quem leva a melhor.