Os encarnados levaram a melhor sobre os colchoneros que não perdiam no seu estádio em provas europeias há 24 jogos. Rui Vitória arquitetou a equipa de uma forma exemplar e até bateu certo a inclusão de Raúl Jiménez na frente de ataque ao lado de Jonas. Esta "estrelinha" acompanhou-o também nas substituições, na forma como geriu o jogo. Mitroglou a entrar bem, Fejsa agressivo nos desarmes e Pizzi ostensivo no contra-ataque. Boas apostas do técnico encarnado. 

33 anos depois, encarnados voltam a ganhar em Espanha nas competições europeias 

Os pupilos de Rui Vitória atiraram-se para o combate com toda a alma e coração. Perante um adversário que parecia ter as ideias de jogo bem claras os encarnados encheram o peito e levaram a melhor sobre os colchoneros. A invulgar passividade no banco de Diego Simeone, face à acentuada intervenção de Rui Vitória, deixava adivinhar que a noite seria das águias. O assalto triunfal ao Calderón, paralisou Diego Simeone, que saiu derrotado pela primeira vez em competições europeias ao serviço do Atlético de Madrid, na condição de anfitrião. 

O Atlético de Madrid iniciou a partida muito forte, com pressão alta e intensidade máxima. Apesar de uma ou outra intervenção no jogo, como é exemplo o remate de Jonas (6 minutos) ao lado do poste direito da baliza defendida por Oblak, a estratégia dos colchoneros estava a semear o pânico na organização táctica construída por Rui Vitória. A entrada forte do Atlético de Madrid encostou o Benfica às cordas.

O primeiro aviso foi dado pelo internacional português Tiago. O ex-Benfica rematou de primeira, fortíssimo, à entrada da área, após um canto executado por Gabi. A bola ainda esbarrou no braço de André Almeida mas Gianluca Rocchio, juíz da partida, nada assinalou. A pressão intensa dos homens de Simeone manteve-se e o columbiano Jackson Martínez também tentou a sua sorte (21minutos). Isolado, por obra de Gabi, o ex jogador do FC Porto rematou por cima. O Benfica sobreviveu à máquina de futebol bem oleada do Atl. Madrid até ao minuto 23. Correa concluiu da melhor forma uma jogada que iniciada por Juanfran e magistralmente embelezada pela assistência (de primeira) de Griezmann.

Até à meia hora de jogo o Benfica esteve por baixo do jogo em quase tudo. Digo em quase tudo porque os encarnados foram superiores na paixão e no querer. Os meninos de Vitória encheram o peito e cresceram na batalha. Nico Gaitán, o argentino que faz maravilhas, despertou e polvilhou lances mágicos saídos da sua varinha de condão. Todos sabem ao que me refiro, aquele pé esquerdo que escreve histórias em cada jogo que disputa. Após centro do jovem Nélson Semedo, e gozando de um mau alívio de Godín, o argentino rematou forte para o fundo das redes colchoneras. 

Nos minutos iniciais, Nico, voltou a abrir o livro. Depois de uma tabela com Jonas, o argentino arrancou por ali fora e centrou para Guedes, o jovem de 18 anos que joga como gente grande. Lance eximio de contra ataque concluido da melhor forma. Naquela altura, os adeptos do Atl. Madrid e Diego Simeone deveriam estar a interrogar-se porque não insistiram na contratação do camisola 10 benfiquista. Quem diria que o Benfica, equipa mais fraca na antevisão do encontro, se mostraria seguro de si e consciente do que tinha a fazer em campo. Quanto mais o tempo progredia, mais as águias acreditavam e sentiam-se confortáveis dentro da fortaleza dos colchoneros. O Atlético de Madrid reagiu de forma previsível e precipitada permitindo aos encarnados um maior controlo dos lances próximos da sua baliza. 

Rui Vitória, ao contrário de Diego Simeone acertou nas substituições. O técnico encarnado refrescou a equipa no timing certo, sem mexer na estrutura (tirando os instantes finais em que colocou Pizzi no lugar de Jonas). Por outro lado, Simeone não viu as suas trocas darem frutos. A inclusão de Vietto e Torres não ofereceu ao ataque a inspiração e intensidade perdida com o decorrer do encontro.   

Uma vitória para a história 

O Benfica de Vitória, que ainda não tinha marcado nem triunfado fora de casa esta temporada, chegou a casa de uma das melhores equipas europeias da atualidade, de salientar que a equipa orientada por Diego Simeone, não sofria golos em casa, para a Champions há sete jogos, com adversários como o Real madrid pelo meio e saiu como rei e senhor de um castelo que não é o seu. O clube da Luz nunca tinha começado a fase de grupos da liga dos campeões com dois triunfos. Foi a 23ª vez que o Benfica enfrentou equipas espanholas e esta foi a sua 6ª vitória, sendo que, a última aconteceu, em Sevilha (1982) diante o Bétis. 

Quatro dias depois de ter marcado o seu primeiro golo oficial ao serviço da equipa principal do Benfica, Gonçalo Guedes voltou a assumir um papel determinante, assinando o tento que permitiu às águias derrotarem o Atlético de Madrid. Primeiro jogo oficial entre os dois clubes e primeira vitória fora do Benfica esta época. Rui Vitória já conseguiu fazer o que Jorge Jesus nunca conseguiu: ganhar os dois primeiros jogos na fase de grupos da Liga milionária. Nasceu ontem o novo Benfica. 

Simeone chora ocasiões falhadas 

No final do encontro, "El Cholo", articulou elogios ao Benfica. «Foi um jogo entretido. No primeiro tempo tivemos ocasiões para avolumar mais o resultado para além do 1-0, o Benfica esteve muito bem mas fez o golo do empate no pior momento para nós. No segundo tempo, num bom contra - ataque o Benfica chegou ao segundo golo, e nós já não criámos tantas ocasiões mas ainda tivemos algumas», disse o treinador salientando o desperdício de oportunidades de golo. 

Foguetes só depois do apuramento 

Rui Vitória mostrou-se feliz com a conquista naquele que foi o primeiro encontro oficial entre águias e colchoneros. «Os aspectos fundamentais para esta vitória foram os que referia na antevisão: jogar no limite, uma disponibilidade enorme, concentração no limite e depois a inspiração dos jogadores. Quando têm a capacidade de passar isto para dentro de campo sou um treinador feliz, os meus jogadores interpretaram bem as ideias e passaram-nas à prática no campo, com inspiração.» O treinador salientou que a vitória não pode ser motivo para festejos desmedidos: «Temos ainda um caminho longo pela frente. A vitória é saborosa mas ainda falta muito e a pior coisa é pensarmos que as coisas estão conquistadas: cabecinha no lugar, pés assentes no chão", afirmou Rui Vitória, ciente das dificuldades presentes numa competição como a Liga dos Campeões. 

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Sobre o autor
Ricardo Cruz
Apaixonado pela natureza. Ama-a de uma maneira distinta, desde o estrepitoso rebentamento da onda ao mais reservado olhar de um animal. Frequenta o curso de Ciências da Comunicação na FCSH/UNL e ambiciona trabalhar como jornalista. Jogador de futebol federado desde os sete anos entende que o desporto liberta o ser humano da tensão diária. Confiante, resolvido consigo mesmo e ousado, procura na sua família inspiração para sobrepujar os desafios diários.