O jejum do Leão dura desde 2006, mas, será que sob a liderança de Jorge Jesus, num período de ambição renovada, o Sporting conseguirá finalmente impôr-se no Estádio da Luz, em jogos a contar para o campeonato nacional? No primeiro round deste aceso duelo, actualmente ateado pela controvérsia gerada em torno da saída de Jorge Jesus para Alvalade e pelo tom visceral das palavras de Bruno de Carvalho, o Leão levou a melhor (arrecadando a Supertaça em Agosto) em terreno neutral mas...e na Luz, será capaz de vencer e deixar o rival Benfica a uns distantes 8 pontos?

É da lógica reinante que se afirme que o favoritismo teórico está no factor-casa quando se analisam jogos desta dimensão, em que os actores são equipas fortíssimas e onde o duelo de forças se adivinha equilibrado - realmente, o Benfica tem dominado os «derbies» na Luz, para a Liga: desde o início do milénio, o Sporting apenas triunfou em três partidas num total de 16 partidas contadas desde o ano 2000. As águias têm-se servido bem do factor-casa mas apenas nos últimos anos, já que 6 das 8 vitórias desde 2000 se verificaram entre 2008 e o presente.

Ou seja, apesar do Sporting mostrar grandes dificuldades para sair da Luz com os três pontos, o Benfica também só se apropriou de um claro domínio (neste milénio) a partir de 2008, com Quique Flores no comando (2-0 na Luz) e com Jorge Jesus até 2015. O treinador de 61 anos levou o Benfica a cinco triunfos consecutivos (em jogos para a Liga, na Luz) entre 2009 e 2014, dando corpo à superioridade das águias neste milénio, no que toca a jogos na Luz. Mas antes de 2008, o Benfica registava apenas duas vitórias desde 2000, contra três do Sporting.

A primeira foi marcante, com o Benfica a bater o Leão por 3-0 com José Mourinho ao leme e golos de João Tomás (2) e Pierre Van Hooijdonk. A esse triunfo caseiro de 2000 seguir-se-ia, apenas em 2005, novo triunfo na Luz, por 1-0, através de um golo de Luisão que deixou a Catedral em polvorosa e praticamente decidiu o título de 2004/2005 a favor das águias, na era da velha raposa Giovanni Trapattoni. Pelo meio, dois triunfos leoninos abalaram a Luz: 1-2 em 2003, com Ricardo Quaresma e João Vieira Pinto a abaterem as águias, e 1-3 em 2004, com golos de Rochemback, Elpídio e Sá Pinto contra tento solitário de Luisão.

Até 2006, o Sporting levava vantagem nos duelos realizados na Luz, para a Liga; isto porque, a desempatar, à data, a contenda, chegou o 1-3 memorável que embaraçou a Luz e fez brilhar jogadores como Liédson, um experiente Sá Pinto e um talentoso João Moutinho. Nesse «derby», que marca a última vitória leonina na Luz em duelos da Liga, o Sporting começou por massacrar a baliza de Quim mas foi o Benfica que se adiantou no marcador, através de Simão Sabrosa, de grande penalidade (aos 27 minutos). Mas a Luz adivinhava a reacção do Leão.

A resposta do Sporting chegaria também na marcação de uma grande penalidade, executada sem mácula por Sá Pinto, aos 64 minutos. O tónico foi mais que suficiente para dar ao Sporting a pontaria que até então faltara: aos 73 minutos, Liédson encarou Luisão, fintou-o e disparou para o fundo das redes de Quim, silenciando o Estádio da Luz e atirando a equipa de Ronald Koeman para as cordas. Não contente, a formação de Paulo Bento carregou no acelerador e fez o 1-3 aos 82 minutos - Liédson, isolado, ultrapassou Quim com classe e empurrou com calma para as redes vermelhas.

Desde esse dia 28 de Janeiro de 2006, não mais o Sporting voltou a celebrar na Luz em contendas da Liga portuguesa, tendo-se registado três empates e seis vitórias do Benfica, cinco delas obtidas na era de Jesus, que no Verão trocou o Benfica por Alvalade. Sem os heróis de outros tempos, capazes de façanhas forasteiras como a de 2006 (Liédson ou Moutinho são exemplos), o Sporting almeja agora atacar a Luz com novos talentos que se impõem com qualidade indiscutível, como William Carvalho, Rui Patrício, Adrien, João Mário ou Islam Slimani - Jesus, agora de verde, também poderá, no dia 25, ajudar a inverter a tendência.