As críticas têm estremecido o Benfica. Desde a passividade de Rui Vitória, à avançada idade de Luisão ou até mesmo a má gestão de Luis Filipe Vieira. Todos têm sido objeto de reprovação por parte da comunicação social e de um grande numero de adeptos benfiquistas. Ainda assim, a águia ao estilo de fénix, renasceu das cinzas. O laboratório de Vitória fez a diferença.

O almirante Gaitán norteou a tripulação. O jogo ofensivo do Benfica passou quase todo pelo numero 10 das águias. Luisão, o eterno líder, regressou aos golos europeus na Luz. Jonas, voltou a puxar da pistola e relembrou o sabor de marcar nas competições europeias (o último golo europeu tinha acontecido na capital francesa, a 6 de março de 2013) e o barco vermelho e branco que tanto se questionava que poderia naufragar conseguiu distanciar-se da tempestade, seguindo de vento em popa pelos mares milionários da Liga dos Campeões.

Uma vitória da alma... e do querer

Rui Vitória falou em grandes marinheiros na hora da tempestade e a tripulação encarnada partiu, sem receios, à descoberta do baú dos milhões. O Benfica demonstrou equilíbrio em todos os momentos do jogo. Uma vitória justa, uma exibição bem conseguida, uma equipa solidária. Com a vitória sobre os turcos do Galatasaray, os encarnados rubricaram aquela que é a sua melhor campanha de sempre na fase de grupos da Liga dos Campeões. Importante será dizer que, em 21 anos, os vermelhos e brancos nunca conseguiram tantas vitórias (3), nem tantos pontos (9) à 4ª jornada da fase de apuramento da competição. Rui Vitória, alvo das mais diversas críticas, superou desta forma Artur Jorge (1994/95) e o atual técnico do Sporting, Jorge Jesus (2011/12). O que mudou? Será que o Benfica que foi atropelado pelo Sporting desvaneceu?

A resposta passa pela insistência no sistema tático. Vitória, continua fiel à sua estrutura, o 4x4x2. Quando maior parte das pessoas anteviam uma alteração na construção do desenho tático devido a baixas de peso como Samaris, Fejsa ou Mitroglou, o técnico manteve-se devoto aos seus ideais. André Almeida jogou mais recuado com Talisca no apoio. Um auxílio que se revelou fundamental. Pedia-se ao baiano que soubesse conduzir a equipa no trajeto ofensivo e, apesar de nem sempre o ter feito da melhor forma, conseguiu chefiar o jogo. Gaitán, o marinheiro mais dinâmico, jogou e fez jogar. Genial em maior parte dos momentos, até no da expulsão, o argentino evitou um contra ataque que poderia ter afundado a nau encarnada.

O quarteto defensivo teve atenção redobrada às referências do Galatasaray. Dos quatro (Sílvio, Luisão, Jardel e Eliseu) o capitão encarnado é o que merece maior destaque. Afinal de contas, "12 anos não são 12 dias" e Luisão prova-o jogo após jogo. Esteve alerta o jogo todo e depois de ter exigido a todos os que marcaram presença na catedral, "Respect", ainda evitou o 2-2, mesmo no final do encontro. Um jogador que sente o emblema que carrega no peito.

Na frente, o golo apareceu a Jonas e continuou a fugir a Jiménez. O brasileiro foi o que mais correu na procura da bola e através de um remate de primeira fez o gosto ao pé. Já o mexicano tem fracassado no momento de finalizar. Assistiu Luisão e protagonizou várias movimentações dentro de campo... mas não chega.

O atual treinador das águias, no Vitória de Guimarães, utilizava com extenso sucesso os lances estudados para fazer golos. Não deixa de ser curioso que foi no seguimento de dois lances de bola parada que o Benfica se adiantou, por duas vezes, no marcador. Nos primeiros 15 minutos, a afluência ofensiva da equipa encarnada asfixiou a construção do Galatasaray. O Benfica subiu as linhas e fez várias recuperações altas. A troca de flancos entre Gaitán e Gonçalo Guedes permitiu uma melhor exploração dos movimentos diagonais. Vitória, mexeu, mas fê-lo sem mexer na tática, primeiro com Carcela no lugar de Guedes e depois subindo Talisca para ocupar o lugar de Jonas colocando Pizzi no meio campo.

O técnico encarnado já lançou a recomendação: "Quanto menos respeito nos tiverem mais nos fortalecem". O clube da Luz fez o mais difícil, contudo, falta ainda concretizar o maior objetivo: a qualificação para os oitavos. Uns mais , outros menos, toda a equipa revelou espírito de luta, vontade e entrega ao jogo. Uma vitória arrancada a ferros no momento em que os adeptos pediam respostas a uma equipa com muitas dúvidas. Um triunfo que segundo o treinador das águias responde a quem desrespeitou a equipa. Resta saber se depois da tempestade a bonança vai imperar ou se será apenas sol de pouca dura.