Quando, após triunfar de forma esplendorosa sobre o colosso germânico Bayern Munique, a comitiva técnica do FC Porto, liderada por Julen Lopetegui, embarcou para Munique, a fim de defrontar o colectivo bávaro treinado por Pep Guardiola, os adeptos portistas banharam a equipa com cânticos de glória, incentivo, brio europeu e esperança no, então, possível apuramento para as meias-finais da «Champions».

Decorria o mês de Abril da temporada 2014/2015 quando o Porto, apesar de segundo no campeonato nacional, mostrava laivos de brilantismo nas andanças milionárias da Liga dos Campeões. A vertigem da vitória sobre o Bayern (por 3-1, chocando a Europa) e o percurso imbatível na prova davam ao novo técnico Julen Lopetegui a legitimidade que, jornada a jornada, ia escasseando na cena interna (com a eliminação precoce da Taça e exibições medíocres na Liga).

Não valerá a pena contar, em detalhe, o resto da estória: o Porto seria cilindrado em Munique e, de forma impiedosa, abandonaria a competição, vergado, sim, mas de cabeça erguida e com o sentimento de dever objectivo cumprido: voltar aos grandes palcos da Europa, duelar com os melhores e atingir as fases últimas da prova. Não é a derrota no Allianz Arena que importa para esta análise, mas sim a contraposição óbvia e irónica que agora retrata a pulsação e a sorte de Julen Lopetegui neste Porto 2015/2016.

Seis meses depois desse embarque portista, envolto num mar azul de adeptos galvanizados, o mesmo Porto da era Julen Lopetegui (aquele dos avultados investimentos e craques de valia inegável) vê-se agora sitiado pelos mesmos adeptos que o encorajavam e o saudavam em Abril, quando a comitiva do Dragão encarava com esperança a Europa. Agora, que a formação portista falhou os oitavos-de-final da mesma «Champions», à espera, no mesmo aeroporto, estavam os adeptos azuis, irados, revoltados, exigindo a demissão do técnico basco.

Sem progressos aparentes no plano interno (segundo lugar continua a ser o lugar cativo do FC Porto de Lopetegui, até agora), tudo isto reflecte apenas o motivo que tem segurado Lopetegui no cargo de treinador do ambicioso Dragão: a Europa do prestígio e dos milhões. Agora que esta se foi, por entre invenções tácticas e políticas de rotatividade, o vazio elitista da «Champions» e o castigo da secundária Liga Europa deixam os adeptos portistas de caras com a obrigatoriedade de fundo, sempre omnipresente, de ser campeão. 

E, a julgar pela ira e fúria demonstrada pelos adeptos que receberam a comitiva portista no Aerporto Sá Carneiro, a crença na capacidade do técnico basco para liderar a equipa rumo ao título parece ser diminuta. Cabe a Lopetegui responder com a consagração nacional no final da temporada. Caso o faça, terá, novamente, os mesmos adeptos, não insultando, mas prestando-lhe vénias de agradecimento e respeito.