Com a chegada de Zidane, o  Real Madrid manteve-se igual a si mesmo: um conjunto cheio de estrelas, cheio de egos mas que, em campo, parece manifestamente pouco quando tenta competir com um conjunto mais carborado e bem mais comprometido com o jogo propriamente dito, como o do Barcelona.

Hoje analisamos o que mudou com a chegada do novo técnico. Se é que, hoje em dia, é possível mudar alguma coisa no Real Madrid.

Nunca é suficiente 

Quando qualquer treinador chega à galáxia madrilena, vê automaticamente desconfianças, acerca do seu possível sucesso, surgirem. Os adeptos e a cultura do Real Madrid são o que são. Goste-se ou não, os títulos nunca chegam, os recordes nunca chegam, os golos nunca chegam e o futebol nunca chega.

O próprio termo "sucesso" adquire, quando pensamos no Real Madrid, contornos diferentes daqueles que, normalmente, estão por detrás da palavra.

Tem sido, o Real Madrid, bem sucedido? Foi, Pellegrini, bem sucedido no Real Madrid? Foi, José Mourinho, bem sucedido no Real Madrid? Foi, Carlo Ancelotti, bem sucedido no Real Madrid? Foi, Rafa Benítez, bem sucedido no Real Madrid? Tem, Zidane, condições para vir a ser bem sucedido no Real Madrid?

O denominador comum entre todos estes treinadores que marcaram esta década dos blancos chama-se Florentino Pérez. Parece que, analisando o paradigma atual do futebol atual, há um pré e um pós Real Madrid, tendo como referencial o retorno do milionário presidente. 

(Foto: Facebook Oficial Real Madrid FC)
(Foto: Facebook Oficial Real Madrid FC)

Desde que Florentino Pérez regressou à sua cadeira de sonho, em Junho de 2009, o Real Madrid voltou a ser uma máquina económica de marketing absolutamente rentável. Cristiano Ronaldo, Karim Benzema, Kaká, Di María, Mesut Özil, James Rodíguez ou Gareth Bale... Todos estes são nomes que, tendo a si associado um número (não o da camisola, ou seja, não o do futebol, mas o dos milhões), escreveram a página de história madrilena que corresponde à segunda década do novo século, aos anos 10 se quisermos.

Mas a mudança do panorama do futebol mundial nesta nova década, não se esgota com a reascenção dos blancos galáticos que, recorrendo ao que têm no bolso, compraram um lugar no topo do futebol europeu. Enquanto Pérez voltava ao Real Madrid, do outro lado do topo do futebol espanhol nascia uma ideia de futebol absolutamente única em toda a história, uma ideia com um nome e um rosto: Pep Guardiola.

A eterna rivalidade 

É no início da temporada 2009/2010 que tudo muda no futebol europeu, tudo o que se passa a partir daí não é por acaso: a queda competitiva da Premier League, a crescente bipolarização do futebol espanhol e, consequentemente, do futebol mundial.

É na Liga dos Campeões e nas grandes competições de seleções (Europeus e Mundiais) que se dá o choque cultural entre ideias de futebol. São esses os contextos competitivos que servem de laboratórios para se testarem qual é, no momento, o jogo mais eficaz, mais belo, mais vencedor. E aí, os resultados, apesar da recente vitória alemã no mundial de 2014 (que também não se pode dissociar da introdução da cultura de Guardiola na Bundesliga), têm sido arrebatadores.

Não são só os dois Europeus e o Mundial conquistado pela Espanha que provam que, hoje, para se ser a melhor equipa de Espanha, não chega, nunca, ser-se a segunda melhor equipa do Mundo.

Desde 2009/2010, altura em que se torna real o confronto constante entre os dois gigantes de Espanha, tendo de um lado o milionário e potente Real Madrid e, do outro o elegante e sustentado Barcelona de Guardiola (Tito Villanova, Tata Martino e Luís Enrique beneficiaram da base criada pelo génio catalão), os dois emblemas espanhóis bateram, sucessivamente, recordes de pontos e golos e, como se isso não bastasse, nas 5 épocas (esta é a sexta) em que este confronto aconteceu, Real Madrid e Barcelona foram 4 vezes semi-finalistas da Liga dos Campeões em simultâneo. 

(Foto: Etv.co.za)
(Foto: Etv.co.za)

Hoje em dia, qualquer espectador de futebol, só se agarra à televisão na Liga dos Campeões para saber quais serão as duas equipas que acompanharão Real e Barcelona nas meias-finais. Dizem os números que só a partir das meias-finais é que há incerteza na competição.

O próprio confronto entre Messi e Ronaldo, que marca o nosso tempo enquanto amantes da modalidade, não é mais do que uma personificação do verdadeiro confronto: o confronto entre Real Madrid e Barcelona.

Voltando ao princípio... 

Agora que estão identificadas as duas equipas que disputam entre si o trono do futebol europeu e mundial, analisemos o que nos dizem os números...

Desde 2009/2010, Messi tem quatro Bolas de Ouro e Ronaldo tem duas.

Desde 2009/2010, O Real Madrid venceu um campeonato espanhol e o Barcelona venceu três.

Desde 2009/2010, o Real Madrid venceu uma Liga dos Campeões e o Barcelona venceu três.

O problema do sucesso do Real Madrid não está na qualidade da sua equipa, está na qualidade imensamente superior, neste momento, do seu opositor

Será o carisma de Zidane suficiente  para contrariar a hegemonia espanhola e europeia que tem pertencido ao Barcelona? Parece difícil, mas é evidente que também há explicações técnicas por detrás destes resultados.

Os adeptos blancos certamente guardarão na sua memória a época 2013/2014, época em que conquistaram a tão procurada décima. Todos os adeptos do futebol se lembrarão como aquela fantásica equipa de Ancelotti, com um meio-campo composto por uma simbiose perfeita entre Xabi Alonso, Modric e Di María destruía muitos adversários. O que, certamente, não se lembrarão os adeptos, é a forma como, a poucas jornadas do fim, perderam o campeonato para o Atlético de Madrid, quando foram obrigados a jogar com Illarramendi e Casemiro a formarem um meio-campo titular de um candidato ao título. 

(Foto: Facebook Oficial Real Madrid FC)
(Foto: Facebook Oficial Real Madrid FC)

É mais que sabido que a primeira linha de pressão do Real Madrid não existe, nunca existiu, nesta nova era futebolística. É possível que o treinador que mais próximo esteve de conseguir que elementos como Özil e Ronaldo garantissem um primeiro momento defensivo forte tenha sido Mourinho, mas, mesmo esse,  apenas contou com compromisso competitivo da parte destas estrelas para um campeonato em três possíveis.

....para regressar aos tempos recentes

Hoje não há Özil, mas há James ou Bale e a capacidade defensiva destes elementos, o seu compromisso em todos os momentos do jogo é a mesma, nenhuma ou quase nenhuma. Quando jogadores que tentam competir com um Barcelona como aquele desenhado por Guardiola, não conseguem ter esse compromisso competitivo com a equipa, os resultados estão há vista.

Há jogos que exemplificam perfeitamente o que estamos a tentar dizer. A melhor fase do Real Madrid esta temporada, fase em que o Real estava a três pontos da liderança do Barcelona, coincide com a presença de Casemiro no onze. Casemiro conseguia ser o garante defensivo que uma equipa que entra de início com Ronaldo e Bale precisa...

No Real Madrid-Barcelona, jogo em que, no Bernabéu o Real podia igualar o Barcelona no topo da liderança, Benítez cedeu à pressão dos adeptos e deixou Casemiro de fora do onze. O resultado é conhecido, Real Madrid 0 - Barcelona 4.

(Foto: Facebook Oficial Real Madrid FC)
(Foto: Facebook Oficial Real Madrid FC)

É difícil prever se Zidane terá ou não sucesso, mas para que o tenha, Zidane tem de conseguir que a equipa defenda e ataque como um bloco, tem de conseguir que um conjunto de estrelas abdique do seu ego e se junte para formar uma verdadeira equipa.

Se Zidane o conseguir, fará algo que nem Pellegrini, nem Mourinho, nem Ancelotti, nem Benítez conseguiram.