No rescaldo do Sporting 3 Académica 2, relevo para os médios Adrien Silva e João Mário que têm sido fundamentais para a táctica de Jorge Jesus. A garra na pressão, a qualidade de passe e o talento das pérolas da cantera leonina tornam os verde e brancos numa equipa mais sólida e capaz de lutar pelos 3 pontos até ao último suspiro.

Agosto de 2015: lesão de William juntou Adrien e João Mário

A lesão que William contraiu no Europeu de sub-21 fez soar o alarme de Jorge Jesus. O número 6 foi considerado o melhor jogador da prova e tratava-se de um imprescindível para o técnico de Alvalade. Com esta lesão, Jorge Jesus foi obrigado a juntar no miolo leonino Adrien e João Mário. Com a Super Taça frente ao Benfica no horizonte, a expectativa quanto à real capacidade da dupla improvável no meio-campo era enorme. No desenho tático do treinador verde e branco, o número 6 representa um jogador forte, alto e com inteligência técnico-táctica o que criou desconfiança na capacidade de Adrien Silva em alinhar nesse posto.

Na vitória do Sporting diante o Benfica na Super Taça por 1-0 notou-se que o posicionamento de Adrien e João Mário surpreendeu os encarnados com os médios a asfixiarem o meio-campo benfiquista com pressão alta e transições rápidas para o ataque. Para compensar a carência física, Adrien fez valer da sua garra e qualidade de passe para na hora de recuperar o esférico impulsionar o jogo para a frente com João Mário a assumir o papel de construir lances de desequilíbrio com passes de ruptura para os extremos.

No triunfo frente ao rival, a fórmula Adrien-João Mário resultou, mas em jogos em que o adversário se fecha na defesa torna-se mais difícil penetrar tal como foi o caso da primeira jornada da Liga. Os leões foram até ao estádio de Aveiro e bateram o Tondela por 1-2 com golos de Adrien e João Mário. O Tondela como se esperava distribuiu-se em campo com um bloco baixo o que permite analisar de forma diferente o contributo de Adrien e João Mário. Na partida da Super Taça, os centro campistas travaram batalhas no miolo de igual para igual com o Benfica, mas neste jogo frente ao recém promovido Tondela, os médios tiveram de alterar o modelo na abordagem aos lances. Perante um adversário tão fechado, o miolo leonino teve de circular a bola com critério e jogar com paciência para não oferecer o esférico ao Tondela. Os médios lusos tiveram de pensar tacticamente o jogo e só com a ajuda dos laterais e dos alas puderam impulsionar o ataque sem que criassem lances de contra ofensiva ao Tondela. O jogo não foi fácil e nem mesmo o golo de João Mário na primeira parte impediu o Tondela de manter o xadrez de jogo numa postura cautelosa. De bola parada, os homens da casa chegaram ao empate e a partir daí os leões foram à procura da vitória de forma esmagadora. Nos instantes finais, o Sporting beneficiou de uma grande penalidade e Adrien assumiu a responsabilidade oferecendo os 3 pontos ao conjunto verde e branco, mostrando a frieza de um verdadeiro capitão que num momento tão fulcral da partida não tremeu diante o guardião do Tondela.

Em suma foi notório que nos primeiros dois meses da temporada a dupla de meio-campo superou as expectativas tendo a capacidade de compensarem as fraquezas um do outro. Os exemplos da Super Taça e da primeira jornada mostraram que diante oponentes diferentes com maior ou menor dificuldade Adrien e João Mário foram o cérebro da equipa pensando sempre de forma inteligente quais eram as necessidades do colectivo. Ou seja impulsionar o ataque quando era propicio mas também preservar a posse de bola quando o jogo assim pedia. Mérito evidente para Jorge Jesus que contornou a lesão de William trazendo menos poder fisico mas maior dinâmica na circulação de bola e imprevisibilidade na saída rápida para lances ofensivos.

Adrien e João Mário mudam de posições mas não de rendimento

Com o regresso do William Carvalho às escolhas de Jorge Jesus e o afastamento de Carrillo da competição por motivos disciplinares, o treinador português foi obrigado a reformular o xadrez táctico do jogo leonino. A nova face do 4-4-2 de Jesus passou então a ter William Carvalho como médio defensivo, Adrien Silva a número 8 como pivot e João Mário encostado à extrema direita com ordens para compensar no meio-campo passando a ter duas funções nas quatro linhas. No caso de William foi visível que o contributo de Adrien ajudou o 6 leonino a recuperar os índices físicos necessários para voltar aos velhos tempos. O capitão, Adrien tinha portanto a função de distribuir o jogo no miolo não deixando de auxiliar William nas tarefas defensivas. A grande surpresa, neste novo modelo de Jesus é sem dúvida João Mário que passou de um médio número 8, para um ala direito. Com o afastamento de Carrillo, o internacional português passou a jogar na extrema direita onde mostrou aptidões para oferecer largura ao jogo leonino com o apoio de João Pereira, não deixando ainda assim de auxiliar estrategicamente William e Adrien, que em vários jogos tiveram de travar duras batalhas a meio-campo, com adversários que alinhavam num sistema táctico com 3 ou mais centro-campistas.

O exemplo mais paradigmático em que este novo sistema de Jorge Jesus resultou na sua plenitude, remonta ao jogo que os leões bateram na Luz o rival Benfica por 0-3 em jogo a contar para o Campeonato. Nesta partida, William Carvalho e Adrien Silva estiveram incansáveis no bloqueio do meio-campo vermelho e branco e João Mário baralhou por completo as marcações da defesa e do meio-campo benfiquista. Com as linhas subidas no terreno, o Sporting chegou ao estádio da Luz e pressionou os encarnados intensamente ganhando bolas no centro do terreno que rapidamente formavam lances de perigo para as redes de Júlio César. Neste triunfo de 0-3, João Mário foi preponderante na medida em que se juntava facilmente à dupla William-Adrien formando nas diferentes fases de jogo um trio de meio-campo que desorganizava as marcações encarnadas. Jorge Jesus pensou nesta estratégia ao pormenor, o que permitia ao Sporting criar vantagem numérica no meio-campo e impulsionar o ataque com João Mário a criar lances de perigo pela direita, onde curiosamente nasceu um dos tiros certeiros do duelo entre os velhos rivais. A supremacia leonina evidenciou-se no talento de Bryan Ruiz e Slimani, mas no duelo táctico as movimentações do meio-campo com William, Adrien e João Mário foram fundamentais para definir quem iria vencer o confronto.

Neste sentido, relembre-se que no embate recente frente ao Porto, que o Sporting venceu por 2-0, mais uma vez se verificou o papel essencial do meio-campo para que os golos de Slimani pudessem decidir o encontro. Se é verdade que no jogo do 0-3 frente ao Benfica, se notou movimentações dinâmicas e velozes do meio-campo sportinguista, neste embate frente ao Porto, o que prevaleceu foi o jogo de paciência que o leões tiveram de construir com uma posse de bola segura e de qualidade. Destaque para os incansáveis Adrien Silva e João Mário que impediram o organizado miolo portista de imprimir a dinâmica habitual. A capacidade de passe de Adrien e a inteligência técnico-táctica de João Mário fizeram com que o domínio dos homens de Alvalade prevalecesse durante os 90 minutos. Em conclusão, apesar de William Carvalho não se encontrar bem em termos exibicionais, fica o registo para a incrível forma de Adrien e João Mário que com Jorge Jesus denotam cada vez mais entrosamento, polivalência e rigor táctico que visivelmente melhorou com o trabalho realizado desde Agosto com o treinador português.

Nova fórmula: ao intervalo, Jesus muda e Adrien e João Mário resolvem

A polivalência que Adrien Silva e João Mário têm vindo a revelar ao longo desta temporada 2015/2016 tem sido uma mais valia para os 51 pontos conquistados pelos leões, até ao momento na Liga NOS. A quebra de rendimento de William Carvalho, explorada pela VAVEL Portugal nos jogos frente ao Benfica e ao Porto tem sido ainda mais evidente nas últimas 3 semanas de competição no futebol leonino. Recordando a reviravolta histórica dos sportinguistas diante o Braga que terminou 3-2 para os comandados de Jorge Jesus e o empate frente ao Tondela a 2 bolas, encontramos um denominador comum: ao intervalo William é substituído e entra Gelson Martins. Se aparentemente esta substituição é simples trata-se na verdade de uma alteração complexa no sistema táctico que muda toda a forma táctica do 4-4-2 de Jesus. Com a substituição de William ao intervalo, Jorge Jesus pretende regressar à fórmula Adrien-João Mário no meio-campo reeditando a dupla de médios que iniciou a temporada na Super Taça. Com Adrien Silva a 6 e João Mário a 8, o jovem e talentoso Gelson passa para extremo direito transformando por completo o xadrez de Jorge Jesus.

Adrien, João Mário e Gelson: a nova fórmula de Jesus.
Adrien, João Mário e Gelson: a nova fórmula de Jesus.

Na partida para a Liga NOS, em que o Sporting recebeu e venceu o Braga por 3-2, foi notório que para recuperar de uma desvantagem de 0-2 ao intervalo era necessário alterar a dinâmica e aumentar a circulação de bola no meio-campo adversário. Este jogo foi um exemplo fantástico desta nova fórmula que Jorge Jesus encontrou de recuperar de um resultado desfavorável, na medida em que com Adrien Silva e João Mário, Sporting ganhou no 2º tempo maior dinâmica, velocidade, o que fez com que se abrissem brechas na muralha defensiva do Braga, que culminaram com a reviravolta histórica para o 3-2 final.

A peculiaridade do empate do Sporting diante o Tondela a 2 bolas foi um dos jogos menos felizes do meio-campo leonino. Na 1ª parte, Rui Patricio foi expulso e o Tondela chegou ao intervalo em vantagem. O técnico, Jorge Jesus tentou mudar o rumo dos acontecimentos, recorrendo novamente à substituição de William por Gelson. Com menos uma unidade em campo, esta estratégia era de alto risco, uma vez que para além dos três homens da frente também Adrien e João Mário integravam os lances de ataque. Neste segundo tempo, os leões deram a volta ao marcador para 2-1, mas o desgaste pedido à dupla Adrien-João Mário levou a que o Tondela num contra-ataque letal conseguisse igualar o encontro.

Em traços gerais é de salientar a inteligência de Jorge Jesus em observar que o rendimento de William Carvalho não tem sido eficaz no seu sistema táctico levando o técnico a recorrer à fórmula de sucesso da Super Taça, com Gelson também em evidência.

Adrien e João Mário: em ano de europeu

A tão falada versatilidade dos dois médios formados em Alvalade, tem surpreendido o futebol português na medida em que com Jorge Jesus se descobriram novos métodos de sucesso para melhor aproveitar o talento dos dois jogadores. Até ao momento, Adrien Silva leva já 2215 minutos nas pernas em todas as competições dos quais resultaram 6 tiros certeiros na Liga NOS e 1 na Taça de Portugal. Um destes golos foi marcado no passado Sábado no triunfo de 3-2 frente à Académica, onde o português deslumbrou com um pontapé incrível que não deu hipótese de defesa ao guarda-redes dos estudantes. O compatriota João Mário alinhou em todas as provas em 1927 minutos e conta com 2 tentos marcados ambos para o campeonato.

Em ano de europeu, Fernando Santos terá a dor de cabeça de escolher quais os médios que estarão presentes em França, mas com certeza seria inteligente aproveitar o entendimento que Adrien e João Mário têm vindo a demonstrar de leão ao peito. Os dois jogadores estão ainda em processo de evolução e têm sido dois dos principais pilares do líder Sporting, que pretende reencontrar o caminho do título que foge já há mais de uma década.