Este sim, será daqueles Clássicos ‘de nervos‘, pois será determinante na atribuição do papel de principal favorito à conquista do título nacional. Em caso de vitória do Sporting, lançará os leões para um estatuto de principal candidato sustentado em quatro pontos de vantagem transformados em cinco em virtude da vantagem no confronto directo, com o jogo de Alvalade a juntar-se aos 3-0 favoráveis ao clube leonino na deslocação ao Estádio da Luz. Mas o inverso também se aplica. Isto porque, caso seja o Benfica a sair vencedor, teremos uma mudança de líder e uma vantagem pontual de pelo menos dois pontos para os bicampeões nacionais em título; se, por outro lado, a partida terminar empatada, ainda existirá o reforço da candidatura do terceiro candidato FC Porto, que caso no mesmo fim-de-semana derrote o Sp. Braga num confronto entre 3º e 4º classificados que ao mesmo tempo funciona como antevisão da final da Taça, se recoloca na disputa…

Em caso de empate entre líder Sporting e vice-líder Benfica, o dragão coloca-se a um ponto do 2º lugar e dois da liderança, numa Liga que passaria a ser ‘de loucos’. Dentro de todo o interesse que rodeia o derby - este sim, será o Clássico dos Clássicos como insistentemente muitos chamam a este encontro, mesmo que o desafio não tenha grande valor classificativo ou esteja incluído na Taça de Honra da AF Lisboa ou competição de nível semelhante - existe uma dúvida muito particular. Esta é uma questão criada pelos seguidores da modalidade, imprensa especializada e a crítica protagonizada por Jonas, que desde a sua chegada ao Benfica, onde cumpre a sua segunda temporada, ainda não logrou marcar ao Sporting num caso que parece ter uma explicação simples, em especial na presente temporada e que se explica pela irrepreensível marcação de que foi alvo nas ocasiões em que defrontou o leão.

Ao contrário do que se evidenciou em outras competições, nas quais se podem apontar várias desconcentrações defensivas ao Sporting, em especial na tentativa frustrada de entrar na Liga dos Campeões - na qual a defensiva leonina não revelou ‘estofo’ para ultrapassar o play-off e na Taça CTT na qual defrontou conjuntos largamente inferiores - a equipa verde-e-branca nunca descurou a sua capacidade defensiva nos anteriores derbies frente ao rival de sempre.

Foto: Facebook do SL Benfica
Foto: Facebook do SL Benfica

Contributo de Jonas foi inexistente nos três derbies disputados na presente época

Com isso o grande prejudicado foi mesmo o actual rei dos artilheiros da Liga. Outro mérito que contribui para a eficiência defensiva deste Sporting, como principal justificação para a ‘pólvora seca’ de Jonas frente ao leão, é a forma inteligente como recorreu praticamente ao mesmo sector mais recuado do qual Jorge Jesus não abdica, salvo qualquer contrariedade em termos físicos, o que ajuda ao entrosamento na zona central.

Nos três anteriores clássicos foram apenas três os jogadores que se encarregaram directamente de travar Jonas: Naldo, que disputou a Supertaça e a 1ª volta na Luz, Tobias Figueiredo, que havia entrado cinco minutos antes de Jonas no prolongamento do desafio referente à Taça, e acima de tudo Paulo Oliveira, que disputou com evidente sucesso os três encontros. Esse poderá ser também um factor a explorar - a garantida ausência do central português. Com uma dupla de centrais completamente nova pela frente, Jonas estará ciente de que a marcação que lhe será imposta será muito provavelmente diferente, pois a nível de características Sebastián Coates apresenta-se como um central diametralmente diferente de Paulo Oliveira, e o seu parceiro poderá também ser uma novidade para o atacante, em questão Ewerton caso Jesus opte por esta opção em detrimento de Naldo. Esta batalha particular, Jonas - centrais do Sporting, começará praticamente do zero com novos intervenientes, o que poderá beneficiar o goleador benfiquista que certamente tudo fará para se adaptar melhor a esta dupla do que num passado recente conseguiu, com a dupla formada por Paulo Oliveira e Naldo/Tobias. 

Com 26 golos marcados após 24 jornadas decorridas, o experiente avançado brasileiro tem pela frente novo teste de fogo num encontro no qual se esperarão, como sempre e face à actualidade mais ainda, vários lances polémicos e discussão antes, durante e após o tempo de jogo. Para desta feita levar a melhor, será também determinante a manutenção da dupla que tanto sucesso tem obtido, com Rui Vitória a segurar a dupla de ataque Jonas/Mitroglou. Esta dupla encontra-se perfeitamente ‘oleada’, tendo o grego já mostrado ser capaz de dificultar a missão defensiva sportinguista com um golo marcado nos primeiros minutos do desafio relativo à Taça, feito que, como sabe, Jonas nunca alcançou, um aspecto que poderá ajudar a libertar o brasileiro para a ocupação de outros espaços e quem sabe resultar em golos - e consequentemente a maior proximidade de uma eventual vitória.

Foto: Facebook do SL Benfica
Foto: Facebook do SL Benfica

Outro factor a ter em conta, e com o qual o atacante encarnado voltará a ter de lidar, é o grande conhecimento que o treinador adversário, Jorge Jesus, possui em relação à sua movimentação pelo facto de ter sido, até à anterior época, o seu técnico. Um conhecimento profundo sobre o Benfica que terá sido um dos aspectos que mais pesou no momento em que Bruno de Carvalho optou pela contratação do treinador, e que mais contribuiu para os três sucessos até ao momento. Muito pelos êxitos frente ao Benfica, Jesus goza da admiração do seu presidente, bem díspar em relação à distância no trato entre Bruno de Carvalho e o anterior técnico leonino, Marco Silva, e travando, neutralizando Jonas, o Sporting estará bem encaminhado para levar de vencida o seu rival da 2ª Circular. Em resposta a essa atenção que lhe será dedicada, o atacante terá de aproveitar cada oportunidade que tenha como se de uma partida a eliminar se tratasse.

Deve ainda salientar-se o momento em que se realizaram os anteriores derbies, os desafios referentes à Supertaça e à 1ª volta da Liga: na altura apresentou-se um Benfica em construção e ainda bem distante do núcleo que agora parece completamente formado, na altura muito devido aos equívocos em algumas das contratações que acabaram por não trazer qualquer benefício ao grupo de atletas a utilizar com maior frequência e neste tipo de exigências. Bastará recordar que no início da época era procurado um lateral esquerdo para ultrapassar Eliseu, tendo chegado Marçal para desde logo abandonar o clube tão depressa quanto chegou; do Rio Ave chegaram Ederson, Diego Lopes e Ahmed Hassan - apenas o primeiro foi aproveitado como alternativa a Júlio César e os restantes dois nunca chegaram sequer a trabalhar com Rui Vitória. Quatro jogadores contratados até 2020, apenas um permaneceu…

Respeito e carinho demonstrados pelos adeptos benfiquistas poderão ser fundamentais para o brasileiro

Com o início da temporada depressa se percebeu que o onze-tipo do Benfica da temporada anterior era espremido ao máximo e as novidades apenas chegaram a conta-gotas. Isso custou uma Supertaça e por altura do derby na Luz, o Benfica dependia de Nico Gaitán e Jonas como se dois heróis se tratassem, com alternativas escassas e privado de alguns titulares, bastando recordar que Sílvio, atleta a quem muito raramente é dada a oportunidade de competir, foi o titular na lateral direita…

Isolar duas individualidades em detrimento de um colectivo torna-se bem mais fácil e Jesus terá sabido disso melhor do que ninguém ao segurar Jonas por duas vezes - pode contar-se a terceira com o brasileiro a ter sido utilizado no confronto válido pela Taça nos 15 minutos finais do prolongamento, em virtude de se encontrar limitado por uma pubalgia - e com isso o Benfica foi presa fácil em termos ofensivos.

Foto: Facebook do SL Benfica
Foto: Facebook do SL Benfica

Actualmente a viver o melhor momento da sua carreira, Jonas tem a oportunidade de responder da melhor forma - uma espécie de redenção a um rendimento demasiadamente escasso tendo em conta a sua importância para a equipa. Em seu benefício e como factor motivacional, Jonas poderá utilizar o grande carinho que os adeptos benfiquistas nutrem pelo seu futebol e produtividade goleadora, vendo-o já como uma das suas glórias. Tal consiste num feito ao alcance de poucos e com um peso ainda mais forte tendo em conta o facto de Jonas não ser português, não conhecer a realidade portuguesa até á época passada e principalmente por ter chegado, visto e vencido no clube já com 31 anos de idade, apresentando um letal pé direito que se responsabiliza por 15 dos 26 tentos até agora apontados na presente temporada.

Em resumo, o eventual sucesso do homem que disputa a Bota de Ouro com craques como Higuaín, Aubameyang, Suárez, Messi e Ronaldo dependerá essencialmente de dois factores - a protecção que lhe for destinada, que funcionou na perfeição nas anteriores ocasiões, e do seu próprio momento de forma presente. No futebol não existem ‘bruxarias’ e as ‘bestas negras’ ou se vencem ou se explicam com os superiores argumentos do adversário. Uma vez mais, Jonas terá rivais à sua altura.