O nível e importância do jogo faziam por merecer a maior casa alguma vez registada em Alvalade. Em concreto, 49 699 espectadores puderam assistir a um Clássico que valia a liderança da Liga NOS, e no qual residia a curiosidade sobre a forma como o Benfica entraria em campo, aconselhando-se, ainda antes do apito inicial, uma abordagem à… Bayer Leverkusen para os encarnados.

Ou seja, ter em atenção as entradas fortes e emocionais dos leões em sua casa respondendo com bola, controlando o jogo desde bem cedo. E foi mesmo isso que o Benfica fez, mantendo-se próximo da área de Rui Patrício até que, num lance de alguma felicidade, uma tentativa de corte de William Carvalho acabou por "morrer" nos pés de Kostas Mitroglou que, com a frieza de um verdadeiro ponta-de-lança, não desaproveitou a única oportunidade que teria em todo o jogo.

Em desvantagem, o leão procurou uma reacção que teve maior expressão ao minuto 39, momento em que Jefferson fez tremer o travessão da baliza das águias que, a partir desse período e até ao apito final, abordaram uma postura mais sóbria e consistente, no que será um exemplo a repetir na próxima 4ª feira perante o Zenit de Danny, Hulk e companhia. Uma equipa que, tal como o Sporting, tem como característica marcante as fortes entradas nos minutos iniciais.

Foto: Facebook do Sporting CP
Foto: Facebook do Sporting CP

Em abono da verdade, da eficácia benfiquista e da maior percentagem de posse de bola do Sporting, o golo foi obtido no único remate da 1ª parte e o único enquadrado com a baliza em todo o encontro, facto também explicável com a diferente missão que os extremos apresentaram nesta partida. É disso exemplo Pizzi, que passou mais tempo a travar os ímpetos de Jefferson pelo seu flanco do que a atacar, o que lhe trouxe um desgaste acrescido e uma substituição por cansaço visível.

A aliar ao sacrifícios dos extremos Pizzi e Gaitán, que foram preciosas ajudas para André Almeida e Eliseu, em especial o segundo que se encontra no melhor momento da época, o Benfica teve neste derby um trio de ‘meninos de ouro’ face à capacidade das suas prestações num ambiente tão hostil, e frente a um adversário tão adverso.

Esperava-se bem mais das unidades mais ofensivas do Sporting

Ederson, que rendeu com mestria o titularíssimo Júlio César e correspondeu com duas preciosas defesas na 2ª parte, Victor Lindelof, que esteve exímio no corte e sempre colocado na posição de homem-alvo que os leões procuravam visar, e o habitual Renato Sanches. Três grandes exibições que ganham personalidade, tendo em conta que este era um desafio de exigência bem superior a um qualquer encontro na Luz frente a uma equipa que disputa a manutenção…

Ederson, Lindelof e Renato foram as figuras do Benfica // Foto: Facebook do SL Benfica
Ederson, Lindelof e Renato foram as figuras do Benfica // Foto: Facebook do SL Benfica

Em suma, apesar de o Sporting ter sempre tido mais bola - as estatísticas serão favoráveis aos leões em todos os aspectos - foi o Benfica que mais parece ter ‘querido’ a vitória, posicionando-se e defendendo a preceito, perante uma linha ofensiva leonina que, por seu turno, se mostrou manifestamente ineficaz. O que, na realidade, acabou por ser uma desilusão, tendo em conta que todos eles se conhecem como futebolistas experientes e internacionais pelos respectivos países.

Pode dizer-se que as águias tiveram supremacia no aspecto mais importante do que todos os outros, o do controlo emocional, e que, apesar de todo o orgulho que as unidades mais avançadas do Sporting possam ter procurado mostrar, os visitantes tiveram uma dose extra de paixão - e isso, na maior parte das vezes, garante a conquista de pontos.

Na raça e no querer, os bicampeões nacionais ganharam ‘de goleada’ numa vitória tangencial, na qual até foram durante mais tempo a equipa ‘dominada’, num contraste completo com o da jornada anterior, na qual manteve o União da Madeira recuado sobre o seu reduto. Estratégia pouco normal, é certo, mas verdadeira, e já adoptada com sucesso na época passada na visita ao Dragão, onde o bicampeonato praticamente se decidiu com o 0-2 final.

Foto: Facebook do Sporting CP
Foto: Facebook do Sporting CP

Desta feita, não se pode dizer que este 0-1 em Alvalade tenha sentenciado a Liga. No entanto, pode mesmo ser o jogo-chave, tal como a acima mencionada vitória no terreno do FC Porto na época transacta. A título de curiosidade, com esse desafio este encontro partilha a semelhança de ter sido o único Clássico vencido pelos encarnados em toda a temporada, e tal bastou para a conquista do bicampeonato.

Para além da desinspiração, Jorge Jesus também não revelou acerto nas mexidas

Por seu turno, para o Sporting não deixa de ficar a mesma sensação que pairou logo no início da época com a eliminação da Liga dos Campeões aos pés do CSKA de Moscovo: a ideia de que se pode ter deixado escapar um objectivo determinante para a época e por entre o nevoeiro… levantado pelas tochas da claques de ambos os conjuntos, saiu por cima o Benfica.

Isto principalmente após dois momentos que invalidaram por completo as possibilidades dos verde-e-brancos em pelo menos evitar a derrota. Não, a águia não voltou a marcar, mas o efeito não foi muito diferente: enorme desperdício de Bryan Ruiz, atirando por cima com a baliza completamente ‘escancarada’ aos 72, e aos 76 uma precipitação de Jorge Jesus, que esgotou as substituições com a entrada de Schelotto sem qualquer efeito prático.

Foto: Facebook do Sporting CP
Foto: Facebook do Sporting CP

Acabou por ser fácil para Rui Vitória atenuar o lançamento do lateral leonino, mais fresco, chamando Salvio a jogo para dividir o terreno de jogo precisamente na zona de acção de Schelotto. Isto acabou por representar a "queima" de uma alteração, quando no banco ficou um atacante como Barcos, que poderia ter dado "força" à ofensiva leonina na procura do golo.

Entre o anseio de colocar mais próximo o final de um jejum de 14 anos sem conquistar o título nacional pelos leões e a vontade de não permitir que a ‘seca’ de vitórias sobre o Sporting se prolongasse para os dois anos por parte do Benfica, acabou por imperar o pensamento das águias, festejado de forma calorosa por toda a comitiva encarnada, o único momento em que se afastou do silêncio escolhido para preparar este encontro.

Silêncio esse que se manteve após o apito final. Na zona mista, Eliseu reconheceu mesmo junto de VAVEL Portugal que “sobre o jogo nada posso falar pois se o fizer a multa é grande”, já depois de Júlio César se ter recusado a prestar declarações sobre o seu problema físico. Mas se em palavras os jogadores benfiquistas nada disseram, em actos mostraram grande vontade e alívio. Ver-se-á com que efeitos para o futuro desta Liga.

Foto: Facebook do SL Benfica
Foto: Facebook do SL Benfica

Com este resultado, o Benfica assume assim a liderança isolada do campeonato, com 61 pontos somados, seguido de perto pelo Sporting com 59. A diferença é pouca e, com 9 jornadas por disputar, o título está longe de ser decidido, mas com certeza que o Benfica registou uma importante vitória, que poderá ser um grande passo rumo ao tri-campeonato.