O Benfica atingiu, por entre o frio denso da bela São Petersburgo, os quartos-de-final da UEFA Liga dos Campeões - os encarnados levavam na bagagem uma vantagem caseira de 1-0 e, apesar do golo inaugural do Zenit, já na segunda parte, foram capazes de desfazer o empate técnico através de um golo de Gaitán. Já nos cartuchos finais da partida, Talisca colocou a cereja no topo do bolo europeu, fazendo História. Pela primeira vez, uma equipa lusa triunfou na cidade russa.

A tarefa adivinhava-se dura, ainda que a motivação encarnada contasse com a vantagem tardia adquirida na Luz, aquando da primeira mão dos oitavos-de-final. Com o golo de Jonas, o Benfica visitava a gélida São Petersburgo com o objectivo de atingir, pela quarta vez (no actual formato da prova), os quartos-de-final do torneio dos milhões. Sem Jardel (já para não falar de Lisandro López) e André Almeida, Rui Vitória lançou Nélson Semedo e adaptou Samaris, que faz parelha com o jovem Lindelof.

O Zenit, que abordou o jogo sem o lateral Criscito e sem o trinco Javi García, tentava, desde cedo, abanar a tranquilidade benfiquista, buscando um golo que pudesse lançar a incerteza no resultado. Mas André Villas-Boas estava avisado: o Benfica, que ainda não ficara em branco em partidas da Liga dos Campeões 2015/2016, não poderia marcar, sob pena da formação russa estar obrigada a marcar nada mais nada menos que três golos. E até foi o Benfica, aos 5 minutos, o primeiro a assustar: Jonas, de livre directo, obrigou Lodygin a sacudir para canto.

A resposta russa surgiu dois minutos depois, pelo possante avançado Dzyuba - o remate saiu perto das redes de Ederson, estreante na «Champions». À passagem do minuto 20 o Zenit tinha já consolidado o expectável domínio, contra um Benfica recuado. Levando água ao seu moinho, os encarnados conseguiram adiar o golo russo, beneficiando de uma noite pouco inspirada de Hulk e Danny. Samaris, que entrara titubeante, foi crescendo exibicionalmente e por duas vezes interceptou jogadas de perigo elevado. 

À passagem do minuto 60, Villas-Boas tentou animar o ataque, lançando o extremo veloz Shatov e o lateral Smolnikov, que passado poucos segundos obrigou Ederson a uma defesa de recurso, com os pés. No contra-ataque, Jonas, isolado perante Lodygin, viu o seu remate esbarrar no corpo do «keeper» russo. Aos 65 minutos, Ederson voltou a brilhar, interceptando um centro venenoso do activo Smolnikov, que, de facto, mexeu com o jogo. Dois minutos depois, Rui Vitória lançou Raúl Jiménez e tirou o cansado Mitroglou.

Aos 70 minutos, o gelo russo finalmente arrefeceu o Benfica: Zhirkov roubou a bola a Semedo, perfurou o flanco esquerdo e, com calma, assistiu Hulk, que, de cabeça, igualou a eliminatória. Quando se adivinhava um crescendo anímico da formação da casa, o Benfica mostrou que estava preparado para o que restava da batalha: Lindelof subiu ao segundo andar e, de cabeça, obrigou Lodygin a fazer uma defesa deslumbrante. Vitória reagiu e fez entrar Salvio, retirando Pizzi. Dzyuba ainda teve tempo de semar o pânico pela área encarnada, mas o remate foi bloqueado por Ederson.

Mas seria, aos 85 minutos, o gelo de São Petersburgo a ser derretido pela chama encarnada: Raúl Jiménez ajeitou com a coxa e, sem deixar cair a bola, disparou um míssil de longa distância que obrigou Lodygin a uma defesa de recurso - na recarga, Gaitán agradeceu e, com um toque subtil de cabeça, empurrou o esférico para as redes russas, aniquilando as chances da formação de Villas-Boas. Mas a festa das Águias teria ainda novo capítulo: Talisca, entrado aos 90+2 minutos, precisou de pouco mais de 3 minutos para fazer o gosto ao pé mais fraco, batendo Lodygin após passe de Gaitán.

Com este triunfo (o primeiro da uma equipa lusa no reduto do Zenit), o Benfica arrecada mais 6 milhões de euros no trilho da «Champions», tendo assim amealhado, até agora, um total de 28,5 milhões de euros. No seu primeiro ano no Benfica, Rui Vitória consegue assim igualar a melhor temporada de Jorge Jesus na prova milionária, atingindo os quartos-de-final, marca que o anterior técnico da Luz apenas por uma vez celebrou, de entre cinco tentativas. 

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