A equipa de Fernando Santos reagiu ao desaire frente à Bulgária e triunfou esta noite de terça-feira diante a poderosa Bélgica, por 2-1. A homenagem às vitimas dos atentados de Bruxelas arrepiou todo o Estádio de Leiria, numa cerimónia que fez parte do show antes de o jogo começar. Com a bola nos pés, a nação de Camões deu espectáculo com 2 golos, um de Nani e outro de Cristiano Ronaldo, contra apenas um de Lukaku, na segunda parte. A vitória mostrou uma equipa portuguesa coesa e repleta de talento para em junho viajar para França, em busca do sonho de vencer o Europeu.

Primeira parte: classe pura e boas indicações antes do Euro

O Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, vestiu as cores do fair-play e a atmosfera arrepiou os apaixonados do futebol com um momento lindo de homenagem às vitimas dos atentados em Bruxelas. Nas bancadas do recinto de jogo eram visíveis bandeiras de ambas as nações, que se uniram massivamente como só o desporto rei proporciona. Os hinos aqueceram ainda mais o ambiente, e o minuto de silêncio emocionou todo o mundo. No jogo nas 4 linhas, Fernando Santos apostou em Rui Patrício, Cédric, José Fonte, Pepe, Raphael Guerreiro, Danilo, Adrien, André Gomes, João Mário, Nani e Cristiano Ronaldo, uma aposta que levou a nação das quinas a alternar um 4-3-3 com um 4-4-2. Na Bélgica, a ausência de Hazard notou-se, mas uma equipa que tem Witsel, Fellaini, Mertens e Lukaku diz muito da excelência futebolística deste conjunto.

Os 10 minutos iniciais pareciam indiciar um domínio territorial belga, porque neste período Fellaini e Witsel dinamizaram o meio-campo de uma forma que acabou por surpreender as marcações de Danilo e Adrien. De realçar ainda que, mesmo controlando a posse de bola, a Bélgica não conseguiu criar qualquer lance de perigo nesta fase para as redes de Patrício. A partir daí, Danilo, Adrien, André Gomes e João Mário encheram o campo, dando início a uma primeira parte avassaladora da turma das quinas. Portugal passou a recuperar bolas na luta feroz do meio-campo, com André Gomes e João Mário a serem solicitados como falsos extremos para tentarem conduzir o esférico até Nani e Cristiano Ronaldo. 

A Bélgica começou no domínio da partida
A Bélgica começou no domínio da partida

À passagem do minuto 10, lance extraordinariamente bem desenhado pelo miolo lusitano, com Cristiano Ronaldo a baralhar completamente as marcações belgas com um lance verdadeiramente espantoso de calcanhar, que humilhou a defesa contrária. O esférico sobrou para João Mário, que encarou Courtois, um dos melhores guarda-redes do mundo, rematando forte para uma parada soberba do guardião do Chelsea. Na recarga, Adrien rematou, com a bola a cheirar o poste belga. A intensidade de jogo portuguesa aumentava a um ritmo alucinante, com relevo para uma subida frenética de Cédric pelo flanco direito, com um cruzamento fabuloso que culminou num remate de Nani, que mais uma vez não inaugurou o marcador porque entre os postes estava o "monstro" Courtois, que defendeu para canto. Na sequência, Pepe subiu mais alto que os oponentes, registando um cabeceamento potente que Courtois desviou para a barra. 

Aos 20 minutos, as trocas táticas constantes dos 4 da frente permitiram a CR7 iniciar uma jogada no flanco esquerdo, servindo depois André Gomes, que encontrou solto de marcação Nani para inaugurar finalmente o marcador com um remate de pura classe, que não deu qualquer hipótese de defesa a Courtois (Nani leva já 18 golos ao serviço da seleção). Depois do tento luso, a intensidade de jogo baixou, com o esférico a ser controlado pelo meio-campo português, sendo notável testemunhar a qualidade de classe mundial que Danilo e Adrien imprimem, contando sempre com a ajuda estratégica de João Mário e André Gomes, que não deram qualquer hipótese à Bélgica de mostrar o porquê de serem a primeira selecção do ranking FIFA, atualmente. 

Cristiano Ronaldo soma 56 tentos em 125 internacionalizações
Cristiano Ronaldo soma 56 tentos em 125 internacionalizações

À passagem da meia-hora a Bélgica decidiu rematar à baliza, com Mertons a obrigar Patrício a uma defesa extraordinária. A 6 minutos do intervalo, João Mário apareceu oportunamente no flanco direito e cruzou de forma notável para Cristiano Ronaldo ampliar a vantagem portuguesa para 2-0, com um cabeceamento subtil, mas cheio de classe. Ao intervalo a vantagem lusitana só pecou por ser escassa, e fica o registo para o golo 56 de Cristiano Ronaldo em 125 internacionalizações pela equipa de todos nós (está a 2 partidas de igualar Figo na lista dos que mais representaram a camisola portuguesa). 

Segunda parte: gerir a vantagem e testar opções

Para o segundo tempo, Fernando Santos promoveu na equipa das quinas uma autêntica revolução, fazendo entrar, no decorrer do mesmo, Renato Sanches, William Carvalho, Quaresma, Danny, Éder e Bernardo Silva. Estas alterações modificaram a forma de Portugal jogar, e a dinâmica da primeira parte não mais viria a brindar os adeptos em Leiria com o futebol bonito e perfumado que Cristiano Ronaldo e companhia desenvolveram na primeira etapa do jogo. A Bélgica, por sua vez, subiu no terreno e aproveitou as alterações no meio-campo português. Ao minuto 55, Nainggolan beneficiou de um livre perigoso perto da área de Rui Patrício, e na conversão obrigou o guarda-redes lusitano a uma defesa de elevada dificuldade, depois de ter disparado um autêntico míssil em direção à baliza. 

As ameaças belgas sucediam-se, e ao minuto 62 fica um registo para um golo "familiar": o recém-entrado Lukaku, lateral esquerdo, subiu no terreno e cruzou para o irmão ponta-de-lança, Lukaku, para um tento de cabeça que deixou a defesa portuguesa mal na fotografia. A nação das quinas reagiu muito bem ao golo sofrido e a pouco e pouco William Carvalho e Renato Sanches foram formando uma dupla de meio-campo que conseguiu bloquear as iniciativas belgas de ataque. Ao minuto 72, Raphael Guerreiro rematou forte na sequência de um livre, levando o esférico a passar muito perto da barra de Courtois. 

Raphael Guerreiro foi uma das figuras em destaque
Raphael Guerreiro foi uma das figuras em destaque

8 minutos depois, Nainggolan atirou com violência perto do poste de Rui Patrício, mas a segurança defensiva nacional não permitiu à Bélgica chegar ao empate. Antes do apito final, nota ainda para um lance quase perfeito da turma de Camões, com Cédric a fugir à defesa belga, servindo um golo de bandeja a Quaresma, mas o Harry Potter tinha a varinha pouco afinada e não consegiu ampliar a vantagem, verificando-se assim, no final dos 93 minutos, um triunfo de 2-1. 

Em traços gerais fica o registo para um duelo empolgante entre duas das melhores selecções do Mundo, que protagonizaram um espectáculo repleto de fair play dentro e fora das quatro linhas. As duas selecções mostraram que o futebol pode mobilizar massivamente valores humanos que são capazes de unir qualquer nação, e no jogo em si acabou por vencer a equipa que mais brilhou com o esférico nos pés. A cerca de 2 meses do Euro 2016, Portugal mostra que tem um lote de jogadores de extrema qualidade, capaz de rivalizar com qualquer adversário. Este triunfo frente à Bélgica é a 11ª vitória em 16 jogos de Fernando Santos no comando da equipa.

Em termos individuais, Danilo, Raphael Guerreiro, João Mário e Cristiano Ronaldo desiquilibraram, cada um na sua função, a equipa belga, sendo um luxo para qualquer colectivo de futebol poder substituir qualquer um dos titulares por jogadores como Renato, Bernardo Silva ou Quaresma. A qualidade existe, o talento é evidente, resta agora a Fernando Santos ultimar os derradeiros preparativos para afinar os canhões lusos que quererão marchar rumo ao primeiro lugar no Europeu em França.