Pressionado pela vitória antecipada do rival Sporting e pela pujança desse triunfo caseiro (frente ao Vitória de Setúbal), o Benfica entrou pressionado no Caldeirão dos Barreiros, estando obrigado a vencer no reduto do Marítimo para manter a liderança do campeonato. Trilhando, nas últimas semanas, um percurso vitorioso feito de triunfos magros, os encarnados acabaram por contraiar a recente norma, e, reduzidos a dez unidades desde os 37 minutos, bateram a turma maritimista com golos de Mitroglou e Talisca, numa partida que ficou marcada pela lesão preocupante do central Maurício.

Poste e Salin negaram o golo a Jonas, Renato fez reinar a dúvida

A história do jogo arrancou com um Benfica sem carburar e um Marítimo apostado em explorar as costas da estrutura defensiva das águias, utilizando a velocidade do homem mais avançado, Djoussé, e a técnica de Edgar Costa, mais encostado às alas. A turma de Rui Vitória, sem conseguir construir jogadas a partir da defesa (Renato Sanches não impôs tal dinâmica), demorou a assustar Salin, não tendo sucesso nos raides de Mehdi Carcela (entrou para o lugar do lesionado Gaitán) nem nas bolas longas destinadas ao instinto matador de Jonas e Mitroglou.

A primeira comoção do jogo deu-se apenas aos 28 minutos, quando, após romper a defesa maritimista, Renato Sanches caiu dentro da grande área da formação orientada por Nelo Vingada: a entrada de carrinho de Damien Plessis terminou com o jovem médio estendido no relvado, mas o juiz da partida entendeu que o centrocampista simulou a falta. Cartão amarelo mostrado e muitos protestos nas bancadas. Dois minutos depois, o Benfica agitou as águas através de Jonas - o brasileiro flectiu para o centro do terreno e, perto da meia-lua, rematou em arco, fazendo a bola beijar o poste.

O minuto mostrou, de facto, o melhor Benfica da primeira parte: depois da excelente jogada individual de Jonas, foi Mehdi Carcela a baralhar a defesa do Marítimo, furando pela área após cruzamento proveniente da faixa contrária. O remate foi sacudido pelo lateral João Diogo. Dois minutos mais tarde, foi Salin a brilhar, impedindo Jonas de celebrar o primeiro tento da noite - Pizzi cruzou e o avançado brasileiro cabeceou mas viu o golo ser negado por uma intervenção excelente do «keeper» francês. Aos 37 minutos, após falta sobre Djoussé, Renato viu o segundo amarelo e consequente vermelho.

Expulsão de Renato foi rastilho de um Benfica mais afoito

Reduzido a dez unidades, o mundo benfiquista abalou; mas nem por isso a equipa encarnada tremeu. O paradoxo parece ter-se instalado quando, em inferioridade numérica, o colectivo forasteiro exibiu-se de forma sólida e não menos impositiva. O arranque da etapa complementar foi reflexo disso: logo aos 48 minutos, após insistência de Jonas e André Almeida, Mitroglou, no sítio certo, aproveitou um ressalto e, perante Salin, inaugurou o marcador. Cinco minutos depois, com o Benfica a dominar as operações, Jardel chocou com o compatriota Maurício, deixando o central maritimista inanimado.

A partida sofreu um hiato de cerca de sete minutos, com o jogador do Marítimo a ser transportado por uma ambulância, rumo ao Hospital do Funchal, encontrando-se actualmente a recuperar da pancada, que, felizmente, não causou qualquer dano neurológico. A retoma da partida apenas veio confirmar a superioridade do Benfica, mesmo actuando com menos um jogador. Aos 69 minutos, as águias estiveram perto do 0-2: Jonas disparou, Salin respondeu com uma defesa de recurso, e, na ressaca, Pizzi desperdiçou o golo, acertando no corpo do guarda-redes da casa.

Talisca fotocopiou golo da «Champions» e tranquilizou bancadas vermelhas

Ainda se gritou golo (aos 78 minutos) da equipa da casa, mas Djoussé encontrava-se fora-de-jogo. Já sem Jonas (que foi rendido por Samaris), foi o Benfica que festejou, na sequêcia de um livre directo batido com classe por Talisca (entrara para render Carcela aos 66). Imitando o lance frente ao Bayern, o baiano rematou com força e em arco, soltando a euforia pelas bancadas do estádio e deixando a equipa à beira da vitória. O jogo ainda viu nova expulsão, de Fransérgio, aos 89 minutos, antes dos justos 10 minutos de descontos. O apito final confirmou que as águias estão apenas a um passo do tricampeonato.

As esperanças leoninas de uma escorregadela encarnada na Madeira intensificaram-se quando Renato Sanches viu o cartão vermelho, mas esfumaram-se lentamente com o domínio do Benfica. Paulatinamente, a turma da Luz pegou nas rédeas da partida e anulou a equipa da casa, acabando por vencer de forma tranquila e quebrando um ciclo de quatro vitórias pela margem mínima (desde 16 de Abril que o Benfica não vencia por mais de um golo na Liga). A equipa orientada por Rui Vitória quebrou assim o registo máximo de vitórias de Jorge Jesus na Luz (11 triunfos consecutivos), somando 19 triunfos nas últimas 20 partidas referentes ao campeonato.