Numa edição da Liga dos Campeões em que cada um dos favoritos ‘abanou’ e teve o seu mau momento, foi com toda a justiça que os vizinhos Real e Atlético de Madrid atingiram a final pois apenas terão estado em dificuldades por uma vez em toda a competição e desde logo responderam com exibições inequívocas que demonstraram que em qualquer um dos lados a hegemonia espanhola na competição.

A reedição 

Para os adeptos da modalidade, só o facto de ter o Real Madrid na final da competição já era uma boa notícia pelo facto de envolver vários dos mais brilhantes praticantes do desporto; felizmente, vários deles exibiram-se a grande nível e em termos de emotividade esta final nada ficou a dever às melhores e ultrapassou várias das anteriores.

Em termos ofensivos, a acção ofensiva dos ‘merengues’, como seria de esperar, dependia em grande parte do que poderia fazer Cristiano Ronaldo, homem que ainda há dois anos somava duas Bolas de Ouro consecutivas depois de ter tido precisamente uma final ganha frente a este mesmo Atleti numa muito celebrada final em Lisboa.

CR7 não esteve a 100% ao longo do tempo regulamentar | Foto: http://pt.uefa.com/uefachampionsleague
CR7 não esteve a 100% ao longo do tempo regulamentar | Foto: pt.uefa.com/uefachampionsleague

Tal como no Estádio da Luz, CR7 acabou por sentir dificuldades: se em 2014 se encontrava num estado físico altamente debilitado, em 2016 foi alvo de uma estratégia de marcação defensiva que quase (será esta a palavra mais odiada no Vicente Calderón) valia a conquista de uma inédita Liga dos Campeões. No entanto, mesmo quem manifesta outras preferências no que toca à escolha para melhor futebolista à escala global terá de render-se à frescura mental de Cristiano.

Mesmo numa noite em que pouco estava a produzir nos momentos de decisão, uma situação que se agravava pelo facto de também  o astro português foi sabendo manter-se focado e também Zinedine Zidane ciente de que uma equipa que tem um jogador como este não pode arriscar-se a perdê-lo. E o Real não perdeu Cristiano, que foi subindo progressivamente o nível de jogo ainda que sem a intensidade de Gareth Bale, e assim também ganhou mais um título europeu.

Casemiro e Bale a segurar para Ronaldo decidir 

Na hora da verdade, que passava por converter uma grande penalidade que consigo trazia o peso de uma conquista europeia, uma recordista Undécima para o mais titulado clube do panorama europeu, Cristiano Ronaldo não soçobrou.

Da mesma forma que antes o galês Bale também não o fez como seguimento a uma prestação em que arrancou uma assistência para golo num precioso toque de cabeça entre vários gestos e tentativas de remate que comprovam estar-se perante mais um atleta de classe mundial - ter-lhe-á apenas faltado um golo no tempo regulamentar, ou no prolongamento.

A Bale só lhe faltou o golo | Foto: http://pt.uefa.com/uefachampionsleague
A Bale só lhe faltou o golo | Foto:
pt.uefa.com/uefachampionsleague

Em suma: apesar de os merengues se manterem sempre atentos ao mercado na busca de talento jovem para as alas ofensivas, parece neste momento impossível ter melhor do que Ronaldo e Bale. Também no aspecto defensivo este Real teve figuras de proa, como é Casemiro um caso exemplar.

Jogador jovem que atravessa ainda um processo de crescimento, o médio brasileiro nunca pareceu sentir que se encontrava no momento mais alto da carreira numa prestação assombrosa ao nível do posicionamento e do desarme.

O azar para a triste sina 

No lado do Atletico as cores portuguesas eram defendidas por Tiago, embora de uma forma figurativa pois afigurava-se claro que dificilmente seria opção para um encontro de tamanha importância face á falta de ritmo de que ainda padece. No entanto, como jogador que nunca divide e sempre ajuda a somar, o médio integrou a convocatória como um dos líderes da equipa e terá contribuído para que os colchoneros tenham apresentado o espírito guerreiro que os caracteriza.

Embora muitas vezes o factor sorte no futebol deva ser desvalorizado, não deixa de ser uma realidade que o infortúnio ajudou a que o Atleti tenha visto escapar-se mais uma oportunidade de conquistar o ceptro europeu.

Mas não só: para lá do desacerto de Antoine Griezmann, ainda no tempo regulamentar, e Juanfran,  este já no desempate, nas duas grandes penalidades que se revelaram decisivas, este Atletico jogou de uma forma mais ofensiva do que seria de esperar.

A bola à barra no penalti de Griezmann foi o inicio do azar do Atlético | Foto: uefa.com/uefachampionsleague
A bola à barra no penalti de Griezmann foi o inicio do azar do Atlético | Foto: uefa.com/uefachampionsleague

No entanto, também permitiu mais ocasiões de golo ao adversário do que lhe é habitual, especialmente a partir do flanco esquerdo no qual Bale conseguiu por diversas ocasiões ganhar a frente a Filipe Luís, defensor que foi parte da grande carreira em toda a época e que levou à dispensa de outro jogador de provas dadas como Guilherme Siqueira (deixou saudades junto dos adeptos do Benfica…)  mas que esteve em menor plano nesta final.

Esteve nos laterais a grande insuficiência do Atleti: Filipe Luís permeável a defender e Juanfran com um papel de vilão que claramente não merecia. No melhor plano cai a nódoa: segurou Cristiano Ronaldo com enorme eficácia e ainda assistiu Ferreira-Carrasco no golo que garantiu o prolongamento, não merecia de todo ser a ‘face‘ da derrota. Alguém tinha de falhar e a noite de Milão foi mesmo de Undécima para o Real.