Para Portugal terminaram os empates, e agora a postura terá de ser vencedora. Diante a Croácia, Fernando Santos terá de assumir riscos e retirar Vieirinha, Moutinho e André Gomes do 11. A equipa das quinas necessitará de Cédric, Adrien e Renato, 3 jogadores que oferecem poder de choque, dinâmica e técnica para enfrentar uma equipa poderosa como é a da Croácia. Os croatas contam com unidades de luxo como Modric, Rakitic e Perisic, merecendo atenções redobradas, mas respeitar não significa oferecer deliberadamente a iniciativa de jogo aos croatas. Olhos nos olhos estarão duas equipas com matrizes de jogo semelhantes, e resta aguardar para perceber quem terá maior índice de posse de bola. Chegou a hora de ambicionar algo mais e Fernando Santos tem de alterar definitivamente algumas peças que poderão conduzir Portugal até aos quartos de final.

Portugal x Croácia: duas equipas com posse, uma só bola

A campanha lusa na fase de grupos esteve longe de estar ao nível dos heróis do mar. É consensual que Vieirinha, Moutinho e André Gomes não possuem a intensidade que se exige a uma equipa de topo que se prepara para discutir a fase a eliminar de um Europeu. Analisando a Croácia é simples lançar um onze: Rui Patrício, Cédric, Pepe, Ricardo Carvalho, Raphael Guerreiro, William, Adrien, João Mário, Renato, Nani e Cristiano. O sistema estratégico é o mesmo, mas com Cédric, Adrien e Renato o 4-4-2 ganha de longe muito mais dinâmica e critério na posse de bola. Para além da qualidade dos jogadores este trio deveria entrar em jogo tendo em conta que Vieirinha, Moutinho e André Gomes alinharam as 3 partidas do grupo, denotando claramente défices físicos e exibicionais muito aquém das expectativas.

No caso de Cédric é gritante analisar a dinâmica que Portugal ganharia a atacar e a consistência a defender. Na ala esquerda do ataque croata joga um tal de Perisic. Um jogador que se limitou a travar a Espanha na fase de grupos. Perisic é um falso extremo que possui um instinto goleador incrível, e quem melhor do que Cédric para bloquear a estrela croata do Euro? Com Cédric, Perisic teria pela frente um lateral ofensivo que evoluiu exponencialmente na Premier League. A frescura física de Cédric vem mesmo a calhar e para Portugal é realmente importante ter um lateral inteligente e rápido para fazer sombra a Perisic, mas a dinâmica ofensiva que os lusos ganhariam seria uma mais valia evidente.

Pericic é uma das principais peças do xadrez croata
Perisic é uma das principais peças do xadrez croata

Ainda na defesa é de salientar que Pepe terá lugar cativo, mas não seria estranho rodar Ricardo Carvalho, fazendo entrar José Fonte. O central do Mónaco jogou os 3 jogos na fase de grupos em grande nível, mas aos 38 anos é cada vez mais complicado recuperar fisicamente de um jogo que se realizou há menos de 72 horas. Ou seja, o desgaste a que os centrais lusos serão sujeitos frente à Croácia será mais intenso, uma vez que pela frente terão um ponta de lança extraordinariamente robusto como é Mandzukic. O avançado da Juventus não alinhou frente à Espanha, mas está apto para atacar as redes de Patrício, representando uma séria ameaça para os centrais lusitanos. Caberá ao selecionador analisar o estado físico de Ricardo Carvalho, e por outro lado o estado anímico de José Fonte para entrar num jogo tão decisivo para as aspirações das quinas no Euro.

Na mesma ordem de pensamento da presença de Cédric do lado direito, é de realçar que Raphael Guerreiro será naturalmente o dono da lateral esquerda portuguesa, pelo equilíbrio defensivo que oferece à equipa e também pela profundidade que imprime no ataque. 

No meio campo reside sem dúvida a virtude de portugueses e croatas. Os miolos de ambas as equipas contam no seu plantel com médios de altíssima qualidade, com soluções vastas para todas as posições. Como tal as soluções que Fernando Santos tem ao seu dispor têm de ser analisadas não só pela qualidade que já apresentaram no passado, mas principalmente pela condição física/mental que têm no presente. No vértice mais recuado do meio-campo, William Carvalho perfila-se como o jogador indicado para impôr uma estampa física que impõe respeito, um posicionamento irrepreensível e uma aptidão natural para iniciar a primeira fase de construção de jogo dos lusitanos.

William Carvalho deverá continuar a ser aposta assente do técnico Fernando Santos
William Carvalho deverá continuar a ser aposta assente do técnico Fernando Santos

O pivot deveria ser Adrien Silva em detrimento do decepcionante João Moutinho, não só por estar melhor fisicamente mas também porque existem automatismos reais do médio em jogar com William Carvalho e João Mário. A qualidade de João Moutinho é inegável para todos os portugueses, mas é também inegável que o verdadeiro João Moutinho ainda não pisou verdadeiramente os palcos franceses no Euro. Para enfrentar uma equipa croata que conta com a estrela do Barcelona Rakitic e com o astro do Real Madrid Modric, Portugal precisa de um meio-campo dinâmico, veloz a decidir quando passar a bola e a quem, de forma criteriosa, características estas que William e Adrien possuem por natureza.

O segredo do jogo croata reside na forma como Modric tem capacidade para gerir o jogo defensivo, partindo automaticamente para o ataque com o esférico em posse, por forma a abrir linhas de passe constantes para as estrelas da frente Rakitic, Perisic e Mandzukic. Recordando o empate dos croatas diante a República Checa, não é por mero acaso que os golos checos surgiram depois da lesão de Modric, que obrigou o croata a sair das 4 linhas. A Croácia vencia, nessa altura, por 2 bolas a 0, e de um momento para o outro desiquilibrou-se completamente no meio-campo, sentindo claramente a falta do seu principal organizador de jogo, Modric. Caso Portugal consiga bloquear o génio do jogador do Real Madrid na primeira fase de construção croata fica mais difícil ao craque Rakitic criar os desiquilíbrios que tantas alegrias deram aos adeptos croatas.

Modric é um craque de excelência que organiza todo o meio-campo
Modric é um craque de excelência que organiza todo o meio-campo

Para além da utilização de William e Adrien, seria fundamental na estratégia de Fernando Santos atuar com dois falsos alas, como Renato Sanches e João Mário, uma vez que tanto um como o outro possuem polivalência e qualidade para descair para a lateral, bem como fletir para o meio com a maior das facilidades. Tacticamente, Renato e João Mário resultaram muito bem na partida frente à Hungria, e perante um adversário como a Croácia, que é uma equipa fortíssima do meio-campo para a frente, torna ainda mais imperativo que a selecção de todos nós jogue com um meio-campo reforçado, mas que ao mesmo tempo será também capaz de construir lances de ataque que poderão ser letais para que Cristiano e Nani possam concluir jogadas ofensivas com sucesso.

A defesa croata é sem dúvida o setor menos forte da equipa, sendo de salientar mais uma vez que Portugal tem obrigatoriamente de travar e bloquear Modric e Rakitic para poder partir para lances de ataque rápido que possam surpreender a defesa croata. Por fim, é interessante analisar as palavras do selecionador croata, que afirmou na conferência de imprensa de antevisão à partida que irá exercer uma marcação cerrada a Cristiano Ronaldo, por forma a tentar reduzir margem de manobra para o melhor do mundo concretizar. Caso isto se verifique Portugal poderá ganhar com isso, na medida em que, em caso de ataque, com os laterais e os falsos alas a criar lances de perigo, poderão surgir com maior facilidade espaços para que Nani possa sinalizar, balançando as redes contrárias.

Cristiano e Nani serão as setas apontadas às redes cortas // Foto: Facebook Seleções de Portugal
Cristiano e Nani serão as setas apontadas às redes cortas // Foto: Facebook Seleções de Portugal

Em suma, Portugal conta com um lote de 23 jogadores de altíssima craveira, e está longe de ser apenas a selecção de Cristiano Ronaldo. A equipa das quinas tem qualidade técnica, táctica, mas tem acima de tudo jogadores que estão melhor preparados do que outros para poder levar os heróis do mar até à final. Chegou a hora de Fernando Santos mostrar realmente que quer ficar em França até dia 11 de julho, não tendo medo de arriscar no jogador certo, para o jogo certo e na altura certa. A verdade é que o Portugal x Croácia será um dos duelos mais apaixonados do Euro até ao momento, com duas equipas que previligiam um jogo positivo e perfumado, e que fazem com que até os cépticos se tornem amantes da modalidade.

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