Como é evidente, no futebol as vitórias conseguem-se a partir da superioridade patenteada pelos jogadores sobre os seus adversários, concluída com a obtenção de mais golos que o oponente. Certo. No entanto, é também no futebol que em certos desafios o ‘dedo’ do técnico é igualmente importante e mesmo determinante para a obtenção do resultado final - foi esse precisamente o caso do Clássico disputado em Alvalade entre o Sporting e o FC Porto no qual Jorge Jesus bateu o seu homólogo azul-e-branco, Nuno Espírito Santo, num verdadeiro ‘KO técnico’.

Grande parte da explicação do triunfo dos leões sobre os seus rivais se encontra no estilo readoptado pelo seu treinador desde há alguns anos baseado numa consistência defensiva bem distante do que era reconhecido nas equipas de Jesus até há cerca de 4, 5 anos e que levou praticamente uma época a aperfeiçoar no Sporting, onde desconcentrações como as que resultaram em dois golos de Karim Bellarabi no espaço de 3 minutos na visita do Bayer Leverkusen precisamente ao ’covil’ leonino na eliminatória que afastou o Sporting da Liga Europa são tidas como pontuais excepções.

Na verdade, voltou a vislumbrar-se um pouco dessas ’pontuais excepções’ quando ao minuto 9 o FC Porto se adiantou no marcador através de um livre indirecto mal ’atacado’ pela defensiva sportinguista no que acabou por ser o ponto mais baixo da prestação da equipa… mas talvez o mais importante por ter constituído também o momento de viragem, o ’soco no estômago’ que levou o Sporting a reagir a uma entrada mais assertiva por parte dos dragões. Para que tal pudesse acontecer, a vitória começou a partir de trás.

Danilo Pereira : o homem anulado 

Em desvantagem no marcador, o Sporting, e Jorge Jesus, mantiveram inalterada a intenção de actuar com a defesa subida ainda que igualmente propícia a potencialmente perigosos contra-ataques portistas, acreditando não só na capacidade dos elementos que compõem o quarteto defensivo como também no resguardo que os leões também terão nas alternativas, grande parte delas obtidas em inteligentes e badaladas intervenções no mercado.

Como exemplo: há quantos anos não tem o Sporting um guarda-redes suplente com o valor de Beto, que seria titular em praticamente todos os clubes nacionais? Tão importante quanto a confiança demonstrada pela defensiva em jogar em risco constante foi a acção de William Carvalho que para além do pendular posicionamento foi também conseguindo atenuar as conhecidas transições habituais do companheiro de selecção com o qual vai dividindo a posição 6 da Selecção Nacional, Danilo Pereira, e assim foi cortando uma importante arma ofensiva do adversário.

Danilo viu o seu trabalho muito dificultado no Clássico
Danilo viu o seu trabalho muito dificultado no Clássico

Entre os lances polémicos que contribuíram para a história do desafio (algumas queixas infundadas, outras com razão de ser) o Sporting tacticamente esteve por cima durante 80 minutos, façanha que deve atribuir-se a Jesus, que uma vez mais demonstrou ser um treinador capaz de adaptar, reciclar e até recriar jogadores mas em sentido contrário voltou a exceder-se nas atitudes ao ter sido novamente expulso e atribuído a si próprio os méritos da montagem estratégica do leão vencedor - embora verdade, esse mérito deveria, antes de mais, ter sido atribuído pelos demais.

Apesar do domínio em campo e a justiça no resultado, nem tudo foi perfeito neste Sporting de Jesus que levou de vencida o FC Porto de Nuno: a lateral esquerda continua a ser um problema que leva já um ano de duração; desde a ’dispensa’ de Jonathan Silva, colocado no Boca Juniors, que se criou uma vaga que após o encerramento deste mercado de transferências continua por ocupar, visto que Marvin Zeegelaar continua sem se assumir como opção convincente para a titularidade.

Rigor táctico a partir do balneário  

Ante o dragão, Zeegelaar surgiu irregular na 2ª parte, valendo-lhe o jogo ter ficado ’partido’ desde bem cedo nessa etapa complementar, o que lhe permitiu atenuar as suas debilidades. Mesmo perante este ‘senão‘, se há um ano o sentimento era de desilusão devido ao fracasso no objectivo de entrada na Liga dos Campeões, algo que marcou negativamente todo o percurso europeu do conjunto leonino na época passada, em 2016 a esperança paira no reino de Alvalade.

Tamanho positivismo explica-se muito devido à estratégia da equipa técnica liderada por Jesus em fechar o mais possível o balneário, blindando-a a críticas e impedindo também que eventuais críticas internas não sejam do conhecimento público.

Com a batalha pelo título nacional apenas no início - dentro e fora do campo são esperadas as habituais quezílias, dentro e fora do campo, com o vizinho e rival Benfica, por experiência própria JJ saberá que é assim, com um balneário coeso, que se conquistam Ligas. Pelo menos no primeiro grande teste, o treinador do Sporting sai claramente em ombros.