Um daqueles desafios que teve de tudo, a recepção do Benfica ao Boavista: encontro que colocava em confronto dois históricos, o mais titulado clube nacional e em simultâneo tricampeão em título perante um antigo campeão nacional que parece em progressão no sentido de voltar aos tempos áureos dos quais se afastou por razões várias.

Sem acusar minimamente a pressão de jogar perante uma Luz composta por mais de 57 mil pessoas, foi mesmo o Boavista quem entrou melhor, mais criterioso e sem deixar o Benfica tomar conta do jogo até uma fase posterior na qual parecia que os encarnados começavam a assumir o controlo. Momento esse em que… os axadrezados inauguraram o marcador através de um grande golo apontado pelo extremo Iuri Medeiros, autor de uma exímia cobrança de um livre directo em posição próxima da área benfiquista.

O tento de Iuri, apontado aos 14 minutos após uma indiscutível falta de Pizzi sobre Renato Santos, acaba no entanto por merecer justificados protestos devido a momentos antes o benfiquista Rafa ter sido carregado em falta antes de a bola chegar a Renato que segundos depois sofreria a falta que resultaria no primeiro tento da tarde.

O Boavista esteve a ganhar por 3-0 até ao fecho da primeira metade
O Boavista esteve a ganhar por 3-0 até ao fecho da primeira metade

Jogada que contrastava claramente com as recentes queixas movidas pelos rivais dos encarnados relativamente à arbitragem nomeadamente após o derby frente ao Sporting, desafio no qual os leões reclamam duas grandes penalidades… precisamente na área onde se desenrolou o golo inaugural boavisteiro. Com efeito, após as queixas de Bruno de Carvalho e seus pares, parecia a vez do Benfica em ver-se na situação de penalizado por um erro de arbitragem partilhado pelo juiz Luís Ferreira e o seu assistente próximo dos bancos, Luís Cabral, que não sancionaram a primeira falta.  

Fábio Espinho e  Iuri Medeiros como peças mais importantes 

Se o 0-1 já constituía surpresa, o que dizer do 0-2 que parecia ao minuto 20 dar conta de um regresso, ainda que por meros 30 minutos, do célebre Boavistão que tornou este clube portuense um dos nomes grandes do nosso futebol e detentor de uma história como figura central no panorama nacional - livre lateral batido pela esquerda por Fábio Espinho direccionado ao segundo poste onde surgiu o central Lucas Tagliapietra num plano mais elevado do que o seu marcador de ocasião, André Almeida.

O defensor boavisteiro parece carregar o adversário já após ter empreendido a sua impulsão, o que afastará qualquer cenário de falta e valoriza o excelente cruzamento do experiente Fábio Espinho, reforço para esta temporada no Bessa que acrescenta uma mais-valia bem superior em relação ao antecessor que deixou vago o lugar que hoje ocupa, o espanhol Mario Martinez, que abandonou o clube no início da época - um excelente assistente e uma das figuras maiores do Boavista nesta Liga.

Por outro lado, a pretensão deixada por Rui Vitória, que indicava que “qualquer equipa grande precisa de uma boa vitória,” começava a ficar complicada de alcançar, ainda mais quando o Boavista aumentava os contornos do escândalo ao estabelecer o 0-3 em novo lance em que o árbitro auxiliar Luís Cabral comete novo erro de julgamento ao considerar a posição de fora-de-jogo do ponta-de-lança visitante, André Schembri, apenas posicional quando o maltês procurou jogar a bola tornando-se assim de imediato parte activa da jogada.

Schembri tornar-se-ia protagonista do lance não apenas por ter atacado a bola (no entanto sem lhe tocar) mas por na continuidade da jogada ter sido servido ’de bandeja’ por Iuri Medeiros (grande exibição do extremo açoriano, que na época passada havia marcado às águias ao serviço do Moreirense e há… 6 anos já bisava contra o Benfica ao serviço do Sporting enquanto sub-16) para perante a baliza deserta ter atirado a contar.

Reagir e não desperdiçar 

Assim aumentava a preocupação do treinador dos tricampeões nacionais que se encontravam longe de, como Vitória já afirmou, de ter “a ambição de fazermos o que sabemos.” Não era claramente esse o caso - o Benfica é capaz de fazer bem melhor - e nesse sentido o exagerado resultado, mercê da extrema eficácia do Boavista que finalizou os três remates que até então havia tido, finalmente levou a turma da Luz a reagir com a entrada do atacante Kostas Mitroglou numa sempre rara substituição operada por opção ainda na primeira metade.

Não poderia ter mexido melhor Rui Vitória que teve no goleador grego o autor do 1-3, conseguido aos 41 após um incompreensível erro do defesa Lucas Tagliapietra que procurou efectuar o alívio de primeira em zona proibida, permitindo assim o desarme a Toto Salvio que de imediato libertou Mitroglou que em boa posição no interior da área não enjeitou a oportunidade. Estava dado o mote para a recuperação benfiquista que cedo começou a manifestar-se aos 53 minutos, altura em que o recém-entrado Franco Cervi foi carregado em falta na grande área.

Mitroglou entrou para o lugar e Rafa e deu o mote para a reviravolta encarnada
Mitroglou entrou para o lugar e Rafa e deu o mote para a reviravolta encarnada

Grande penalidade sem margem para dúvidas e superiormente convertida por Jonas que fazia renascer junto dos adeptos a esperança de atingir a igualdade, feito que haveria de ser alcançado aos devido a um colocado cruzamento de Andrija Zivkovic, mais um suplente utilizado com efeitos imediatos, para o coração da área onde não chegou Jonas, mas chegou… Fábio Espinho com um cabeceamento efetuado de costas e inadvertidamente na direcção da sua própria baliza.

Um 3-3 que indicava que tudo poderia acontecer… mas nada mais aconteceria mesmo, pelo menos no que a tentos diz respeito com o Benfica a ressentir-se nos 10 minutos finais do enorme esforço que havia despendido para recuperar de uma desvantagem de três golos e com isso não conseguiu sufocar o xadrez portuense da forma que certamente desejava, permitindo aos visitantes respirar melhor e ainda segurar um importante ponto numa casa em que, valha a verdade, raramente alguém consegue feito idêntico.