No dia 10 de Julho de 2016 o triste fado lusitano deu lugar ao episódio mais emblemático e feliz do futebol português. Na final, Portugal encarou a França com respeito e foi obrigado a sofrer para depois festejar. Calafrios na defesa, as lágrimas de Cristiano, as defesas de Patrício e a bola ao poste de Guerreiro... Depois disto chegou a hora de ver um tal de Éder fintar ironicamente o destino e rematar o desfecho épico que o futebol luso ansiava há décadas. É mesmo verdade: a equipa dos empates levou a Taça para casa e brinda ainda hoje com o inevitável Champanhe francês.

10 de julho: O dia em que toda a nação portuguesa celebrou a conquista do Euro 2016 // Foto: Facebook Seleções de Portugal
A festa dos Campeões Europeus// Foto: Facebook Seleções de Portugal

Empates, sofrimento e festejos... Fica a saudade!

Na viagem para França, Portugal levou na bagagem a habitual esperança de trazer a Taça para Terras lusitanas. Em 2004, a sorte grega fez chorar toda a nação, mas em 2016, a História foi escrita em bom português. Os empates causaram desconfiança, mas Fernando Santos levantou a âncora da perseverança e afirmou, para espanto de todos, que os heróis do mar só regressariam a Portugal depois de dia 10 de Julho.

Na fase de grupos, o destino parecia querer empurrar os lusos para o aeroporto, mas as 3 igualdades permitiram à equipa das quinas remar rumo à descoberta dos oitavos de final. No jogo inaugural, Nani balançou as redes islandesas, mas não evitou o empate. Frente à Aústria, Cristiano foi empatado pelos postes e o nulo não se desfez. No embate frente à Hungria, Cristiano e Nani foram os rostos da revolta que estabeleceram uma igualdade a 3 num duelo em que Portugal esteve prestes a fazer as malas... Mas não esquecer que o engenheiro Santos jamais deixaria...

Fernando Santos prometeu e cumpriu // Foto: Facebook Seleções de Portugal
Fernando Santos prometeu e cumpriu // Foto: Facebook Seleções de Portugal

Depois das tormentas da fase de grupos, os lusos seguiram viagem até ao duro teste diante a Croácia. A batalha foi feroz, mas Patrício, Pepe, Adrien e Renato deram vida às ambições usitanas. No tempo regulamentar o nulo empurrou os heróis do mar para prolongamento, e foi com espírito de sacrifício e com fome de vencer que, em plena segunda parte, a glória das quinas acabaria por chegar. Numa contra ofensiva veloz, Renato levou o esférico, Cristiano ameaçou e por fim Quaresma fez da baliza croata sua refém. Na batalha diante Modric, Rakitic e companhia foi a garra lusa a fazer a diferença, e nos quartos de final a Polónia era o adeversário que se seguia.

Neste jogo, Portugal entrou adormecido e deixou o astro do golo Lewandovski inaugurar o marcador. A formação das quinas reagiu e foi dos pés do jovem Renato que emergiu a alma portuguesa que restabeleceu novanente a igualdade. Foi sem espanto que o prolongamento se voltou a cruzar no destino luso, mas desta vez a missão apenas se resolveria nas grandes penalidades. Na lotaria Patrício foi gigante e defendeu a honra e a dignidade de todos os portugueses. Cristiano, Renato, Moutinho, Nani e Quaresma deram vida aos corajosos lusitanos e já só faltava o País de Gales para chegar à final de Paris.

11 inicial na partida frente à França // Foto: Facebook Seleções de Portugal
11 inicial na partida frente à França // Foto: Facebook Seleções de Portugal

As críticas ao futebol praticado por CR7 e companhia fortaleceram ainda mais as ambições lusas, e foi mesmo Cristiano a voar rumo ao duelo decisivo. Para compor o resultado, Nani também fez o gosto ao pé e consumou o que quase todos duvidavam... Afinal a equipa fraquinha e a equipa dos empates chegou mesmo ao jogo que todos desejavam.

Em Paris, o dia 10 de Julho revelou-se talismã, mas o jogo esteve longe de ser fácil. Perante a anfitriã França, os lusos alinharam com um bloco médio baixo, dando quase por inteiro a iniciativa de jogo aos franceses. O favoritismo da equipa da casa era evidente e depois da lesão de Cristiano tudo parecia perdido... Foi um lance arrepiante, que juntou todo o fado português nas lágrimas do homem do leme, numa espécie de recordação do que havia acontecido há 12 anos atrás. A verdade é que Portugal se viu grego para suster a França, mas a união e vontade de triunfar superaram toda e qualquer adversidade. As defesas sobrenaturais de Patrício, o poste que segurou o resultado, tudo isto resultou em novo prolongamento.

Cristiano Ronaldo saiu lesionado, em lágrimas // Foto: Facebook Seleções de Portugal
Cristiano Ronaldo saiu lesionado, em lágrimas // Foto: Facebook Seleções de Portugal

Nas bancadas, os críticos começaram a pensar que talvez tivesse sido melhor optar pelo silêncio, até porque o grito de Éder estava a chegar... O grito de vitória foi dado ao minuto 109 . Moutinho colou a bola ao seu pé, Éder recebeu, controlou e rematou a vontade de toda a nação do país de Camões. O herói inesperado festejou o golo mais irónico da História do Desporto Rei e mostrou que o futebol ultrapassa todos os limites da lógica. O desfecho foi épico, libertador e glorioso e, um ano volvido, parece que em Portugal ninguém aprendeu com o feito dos guerreiros de Fernando Santos.

A verdade é só uma: Portugal é campeão da Europa de seleções e isso ninguém pode mudar. Fica a saudade de festejar o bonito fado de um país que já não é do quase...