Por uma questão de cortesia, começo esta análise ao clássico deste domingo pela equipa visitante.

A Nau dirigida por Sérgio Conceição tem navegado por um mar azul (expressão tão repetida pelo timoneiro dos dragões) relativamente calmo mas o momento de enfrentar o Sporting de Jorge Jesus, um verdadeiro Adamastor, chegou.

É no meio campo que reside a verdadeira luta tática do futebol e, numa equipa que tem alternado entre onzes com dois e três médios puros, fica a dúvida sobre qual será a abordagem dos dragões para este jogo. Frente ao 4-4-2 de Jorge Jesus, que deverá apresentar com William e Battaglia no miolo, é provável que Sérgio Conceição queira garantir superioridade numérica na luta no meio-campo, apresentando-se num 4-3-3 (mais que provado que é uma espécie de alternativa para jogos tática e tecnicamente mais exigentes (como foram a segunda parte em Braga, o jogo em Vila do Conde ou o magnífico recital que o FC Porto fez no Mónaco). Se me parece óbvio que Sérgio Conceição se apresente em Alvalade com três médios, não me parece tão evidente qual será o terceiro médio do FC Porto.

Danilo é o pêndulo à frente da defesa que liberta os dois médios interiores para aparecerem em zonas mais próximas do último terço ofensivo dos dragões e esse terá lugar garantido. O internacional português manter-se-á muitas vezes na zona de ação de Bruno Fernandes e parece-me que, sem bola, será muitas vezes obrigado a juntar-se aos centrais dada a posição e a riqueza de movimentos daquela que tem sido a revelação do campeonato (falo obviamente de Bruno Fernandes). Mas aqui se coloca a dúvida: perante os movimentos para a zona de finalização de Battaglia, por exemplo, os tais que obrigarão Danilo a juntar-se aos centrais não se abre um espaço à entrada da área para a meia distância de Bruno Fernandes fazer a diferença? É aqui que entrará um dos médios interiores do FC Porto. Alternadamente (em função do posicionamento de Bruno Fernandes mais à direita ou mais à esquerda), os interiores do FC Porto, sem bola, terão de ter capacidade de antecipação e impedir, sequer, que Bruno Fernandes receba a bola naquela zona. Na primeira fase de construção do adversário, Bruno Fernandes estará posicionado numa zona mais ofensiva, Danilo vigiará esse momento, mas numa segunda fase, quando o Sporting entrar no último terço dos dragões terão de ser os médios interiores a impedir aquela que tem sido uma arma usada pelo Sporting de Jorge Jesus para desbloquear os jogos. Assim, levanta-se a questão: quais serão os melhores médios à disposição de Sérgio Conceição para cumprir esse papel? Eu diria que há três candidatos para três lugares: Herrera, Óliver e Sérgio Oliveira.

Herrera jogará. O capitão do FC Porto está num inegável bom momento de forma e, depois de ter arrancado a época no banco, tornou-se inegável que a equipa ganhou outra consistência com ele. Parece-me que é possível que o FC Porto, jogando fora, assuma em alguns momentos uma postura mais expectante comparativamente ao Sporting, dando mais relevância aos possíveis momentos de contra-ataque no jogo e aí entra Herrera: numa equipa que joga em contra-ataque é decisivo ter um médio capaz de queimar linhas em transporte de bola. capaz de, muito rapidamente, levar a bola de um lado ao outro do campo. Herrera junta capacidade de transporte, alguma qualidade no último passe e inteligência sem bola  e assume-se como o médio do FC Porto em melhor forma neste momento. Sendo assim, quem deve jogar ao lado de Herrera, fechando o meio-campo do FC Porto: Óliver ou Sérgio Oliveira?

Sérgio Oliveira e Óliver (que arrancou bem a época) têm caraterísticas diferentes e, se me parece que é bem provável que ambos acabem por ter minutos no jogo de hoje independentemente de quem começar a titular, parece-me que há algo (além, claro, do momento que a equipa atravessa) que coloca Sérgio Oliveira uns furos acima de Óliver nas possibilidades de jogar de início: a sua constância de jogo. Óliver é um jogador intermitente nas suas atuações. Quando está bem é, sem dúvida, um dos (talvez o) jogadores mais influentes na manobra ofensiva da equipa mas para render completamente Óliver precisa que a equipa esteja constantemente com bola e a recuperá-la rapidamente, algo que não deverá acontecer no jogo de hoje.

No momento ofensivo, parece-me que o FC Porto, se quiser jogar em contra-ataque, tem caraterísticas para ferir o Sporting e um jogador que será chave no meio de todas estas previsões: Marega. 

O maliano, patinho feio do plantel no início da época, pode não ser o jogador tecnicamente mais dotado, pode não ter os melhores vídeos de skills no youtube mas é, sem dúvida, um jogador extraordinariamente voluntarioso e eficaz. Com espaço, Marega é dos jogadores mais perigosos no campeonato e neste jogo, se o Sporting cair no engodo, terá espaço nas costas de um fisicamente debilitado Fábio Coentrão. Este jogo será mais um grande teste para Mathieu que, depois da grande exibição frente ao Barcelona, será fundamental nas dobras a Fábio Coentrão e um obstáculo muito difícil de enfrentar para os avançados portistas. Além de Marega, a frente portista será composta pelos dois melhores jogadores da equipa: Brahimi e Aboubakar. No jogo contra o Besiktas ficou por demais evidente a falta que Aboubakar faz ao ataque do FC Porto, ele e Brahimi desequilibram qualquer defesa e é provável que Piccini e Coates, principalmente estes, sofram muitos com a técnica e as movimentações de Brahimi e Aboubakar.

Onze provável:

Casillas, Alex Telles, Marcano, Felipe, Ricardo, Danilo, Herrera, Sérgio Oliveira, Brahimi, Marega, Aboubakar.

Do outro lado da barricada está uma equipa que está há três jogos sem vencer mas o único que se pode verdadeiramente considerar um mau resultado é o empate contra o Moreirense (o único mau resultado de toda a época aliás). 

Este Sporting versão 2017/2018 é uma grande equipa a defender e a atacar, é muito difícil para qualquer equipa, hoje enfrentar o Sporting. Parece-me que, no meio campo, Battaglia assumirá um papel de grande influência na organização do Sporting, quer a ofensiva quer a defensiva. William e Battaglia enfrentarão três médios taticamente forte e, por isso, terão de ter grande disponibilidade física e mental para de desdobrarem a aparecerem em todo o lado quase ao mesmo tempo, Battaglia tem, sem dúvida essa caraterística. 

Jorge Jesus já habituou o futebol português a algumas surpresas de última hora nos clássicos (umas vezes essas surpresas correram melhor e outras pior), e acredito que desta vez não haverá uma exceção desse ponto de vista. Não tenho a certeza que Acuña apareça de início e, apesar de Bruno César ser a escolha óbvia caso o argentino não esteja em condições, há um jogador do Sporting (cuja probabilidade de aparecer de início é muito reduzida) que me põe a pensar: Daniel Podence. Na pré-época, Podence prometeu vir a ser um jogador influentíssimo no momento ofensivo dos leões mas uma lesão quebrou o ímpeto do jovem português. Não creio que Podence seja titular porque a sua presença no onze forçaria um deslocamento de Bruno Fernandes para um flanco, posição onde teria muito menos influência na construção do jogo ofensivo dos leões mas acredito que essa possa ser uma solução durante o jogo, caso o Sporting precise de ir atrás do resultado (fazendo Bruno Fernandes aquilo que um dia fizera João Mário com Jorge Jesus, equilibrando o meio campo a partir de uma ala) e dando liberdade a Podence para desequilibrar nas costas de Bas Dost. 

Assim, dada a possível indisponibilidade de Acuña, acredito que avance Bruno César para o onze (com a possibilidade de ser substituído por Podence a qualquer momento caso o jogo não esteja a correr bem aos leões).

Onze provável:

Rui Patrício, Piccini, Coates, Mathieu, Coentrão, William, Battaglia, Bruno César, Gelson, Bruno Fernandes, Bas Dost.