Foi um ano absolutamente intenso para o torcedor atleticano. O Atlético-MG conseguiu ser um time apenas coadjuvante na temporada para o mais comentado clube de futebol do Brasil. Do fracasso no Campeonato Mineiro e na Copa Libertadores, o primeiro semestre do Galo foi muito aquém do que os alvinegros esperavam.

Contudo, o segundo semestre reservava momentos de êxtase e alegrias incontidas para o time que se tornou o mais admirado, protagonizou partidas memoráveis e conquistou dois títulos inéditos para sua extensa galeria de troféus, que só enche a cada ano. Confira na retrospectiva VAVEL Brasil a temporada do Clube Atlético Mineiro.

Sai Cuca, vem Paulo Autuori

Em 2013, o Atlético-MG conquistou a Copa Libertadores da América de forma inesquecível. Porém, o fracasso no Mundial de Clubes também não saiu da memória dos torcedores. A derrota para o Raja Casablanca jogou um balde de água gelada nos atleticanos. Para 2014, o Galo mudaria o comando técnico: Cuca deixaria o Atlético com destino a China. Em seu lugar, Paulo Autuori assumiria o time presidido por Alexandre Kalil.

A pré-temporada não teve a organização que os clubes precisam para montar o elenco. Quem não disputou o Mundial, se apresentou no dia oito. E quem embarcou para o Marrocos retornaria apenas no dia 21, juntamente com o técnico Paulo Autuori. Como reforços, foram apresentados apenas o lateral esquerdo Pedro Botelho, do Atlético-PR e o volante Claudinei, do América-MG. Pouco depois, o zagueiro argentino Otamendi chegava ao Galo. Na teoria, Autuori disse que manteria o esquema tático que fez sucesso com Cuca, realizando apenas algumas mudanças. Na prática, foi muito diferente.

Primeiro semestre para se esquecer e demissão de Paulo Autuori

O Atlético-MG começou a temporada privilegiando a Copa Libertadores da América, o que logicamente era o mais correto. Contudo, a pré-temporada feita em duas partes fez com os jogadores demorassem a encontrar um entrosamento. No Campeonato Mineiro, o empate sem gols com Minas Boca, de Sete Lagoas, e derrota para o Tombense por 2 a 0, em pleno Independência, deixou o torcedor de cabelos em pé. Na Libertadores, o Galo estreava contra o Zamora-VEN e vencia por 1 a 0. Em um grupo teoricamente tranquilo, o maior adversário do alvinegro foi o Nacional-PAR, que acabou chegando as finais contra o San Lorenzo-ARG. Os dois jogos entre brasileiros e paraguaios terminaram em 2 a 2 e 1 a 1, além de uma vitória e um empate contra o Santa Fé-COL. No fechamento da chave, os alvinegros ainda venceram os venezuelanos por 1 a 0, resultando na classificação em primeiro lugar do Grupo 4 com 12 pontos.

Durante o primeiro semestre, o alvinegro havia perdido sua força ofensiva, se tornando uma equipe sem poder de ataque e previsível. A defesa ganhou consistência, tomando poucos gols, mas o setor ofensivo do elenco deixava a desejar. Sem agradar o torcedor, o Galo chegou a decisão precisando de uma vitória e um empate contra o Cruzeiro. Com dois empates por 0 a 0, os celestes foram campeões estaduais, deixando Paulo Autuori na berlinda. A Copa Libertadores da América era a grande esperança de um primeiro semestre vitorioso. Porém, as coisas não caminharam com se esperava e o Atlético-MG seria eliminado nas oitavas de final para o Nacional-COL. Derrota no primeiro jogo por 1 a 0, o que resultou na queda de Paulo Autuori, e empate por 1 a 1, no Independência. Autuori deixou o alvinegro com 11 vitórias, nove empates e três derrotas, com um aproveitamento de 61% em 23 jogos. A média era boa, mas dentro de campo, a equipe caía vertiginosamente.

Campeonato Brasileiro: dois Galos diferentes

O Atlético-MG começou o Campeonato Brasileiro ainda com Paulo Autuori no empate por 0 a 0 contra o Corinthians. Na partida seguinte, Levir Culpi retornava ao Galo para arrumar a casa. O clube demorou para se encaixar, chegando a perder para Grêmio e Goiás e entrando na zona de rebaixamento. As vitórias só começaram a acontecer a partir da vitória sobre o Cruzeiro, de virada, por 2 a 1. Até a parada para a Copa do Mundo, o alvinegro permaneceu invicto por mais quatro jogos, até a derrota para o São Paulo por 2 a 1.

Após a parada para a Copa do Mundo, o alvinegro fez uma pré-temporada bem-sucedida pelo futebol chinês e os frutos foram colhidos rapidamente. Sequências de vitórias, boas atuações, chegada de reforços pontuais como Maicosuel, Rafael Carioca e Douglas Santos, deixaram o Atlético mais forte e com condições de encarar qualquer equipe de igual para o igual. A vitória sobre o Cruzeiro por 3 a 2 no Mineirão deixou o torcedor empolgado, aumentando ainda mais com a entrada do clube no G-4 após triunfo sobre o Vitória por 2 a 0. A vaga na Libertadores 2015 e a chance de mais título brasileiro, ainda que remota, povoavam a cabeça dos alvinegros.

Fisicamente, o Atlético era superior aos demais times. Carlinhos Neves preparou os jogadores para uma maratona de jogos altamente desgastante. O que detalha essa afirmação é a conquista da Copa do Brasil tornar-se uma realidade muito viável. O Galo passava a privilegiar o torneio, sem esquecer o Brasileirão.

O Atlético-MG acumulava vitórias emocionantes na Copa do Brasil, além de sequencias positivas no Brasileirão, tornando a equipe a mais comentada do Brasil, superando seu maior rival, o Cruzeiro, que se aprontava para conquistar o Campeonato Brasileiro. O último grande momento de alegria do atleticano foi a goleada sobre o Flamengo por 4 a 0. No final, derrotas para Internacional e Coritiba, além de empate com Botafogo, utilizando um time reserva, cheio de garotos das categorias de base, fechavam a campanha do alvinegro com 17 vitórias, 11 empates e 10 derrotas, resultando em um aproveitamento de 54%, em 38 jogos.

Recopa e Copa do Brasil: duas conquistas mágicas

Como campeão da Copa Libertadores da América, o Atlético chegou credenciado a Recopa Sul-Americana para encarar o Lanús-ARG, vencedor da Copa Sul-Americana. No primeiro jogo, o Galo venceu por 1 a 0 com gol de Diego Tardelli. Para a partida de volta, o alvinegro tinha a vantagem do empate no Mineirão.

No Mineirão, o que parecia ser tranquilo, tornou-se um jogo de fortes emoções. No tempo normal, 3 a 2 para os argentinos, com direito ao terceiro gol saindo aos 48 minutos do segundo tempo. Na prorrogação, brilhou a estrela de Luan, que entrou na partida, deu um novo gás para o time atleticano e fez um dos gols que premiaram a conquista do Atlético. O golpe de misericórdia foi contra, de Ayala, que tocou a bola contra o próprio gol. O Galo chegou ao seu quarto título Sul-Americano.

Na Copa do Brasil, o Atlético teve o Palmeiras e não teve problemas. Duas vitórias, a primeira por 1 a 0, no Pacaembu, e 2 a 0, no Independência. As fortes emoções começaram no embate contra o Corinthians. O jogo inicial terminou 2 a 0 para os paulistas. Na partida de volta, o Timão fez 1 a 0, causando um silêncio profundo no Mineirão. Mas, o grito de “Eu Acredito” entoado pelo torcedor atleticano fez o Galo ressurgir e fazer 4 a 1 histórico para o futebol mineiro e brasileiro.

Na semifinal, outro rival histórico, o Flamengo. No primeiro jogo, nova derrota por 2 a 0 e parecia que o filme da etapa anterior iria se repetir. Mistérios do futebol ou não, o certo que o Atlético ressurgiu como fênix e reverteu o resultado rubro-negro. Everton fez 1 a 0 para os cariocas, mas o Galo afiou as esporas e novamente 4 a 1, classificando-se para a final contra seu maior rival: o Cruzeiro.

Na final, o Cruzeiro chegou credenciado por ter quatro conquistas e o Atlético buscava um novo título inédito. Bem ou mal, o Galo cumpriu o seu papel e muito bem cumprido. No primeiro jogo, Luan e Dátolo fizeram 2 a 0 para os alvinegros no Independência. Na partida decisiva, o alvinegro não sentiu os 90% de torcedores cruzeirenses e foi campeão com uma nova vitória. 1 a 0, gol de Diego Tardelli.

Melhor jogo: Atlético-MG 4x1 Corinthians, pelas quartas de final da Copa do Brasil 2014

Escolher apenas um dentre tantos outros que embalaram o segundo semestre do Galo, fica muito difícil. O jogo contra o Corinthians, no entanto, é muito mais que um simples resultado em um mata-mata da Copa do Brasil. Foi a quebra de mitos, de tabus e a força necessária para que o Atlético-MG tomasse para si os olhos do futebol brasileiro como um verdadeiro Galo forte e vingador, ganhando de virada por 4 a 1 e revertendo um resultado impossível.

Pior jogo: Atlético-MG 0 x 1 Goiás, 3ª rodada do Brasileirão

Entre alguns vexames atleticanos na temporada 2014, este não poderia faltar na lista. Neste jogo, o Atlético-MG se mostrou apático, ainda com resquícios do trabalho de Paulo Autuori. Após este jogo, o técnico Levir Culpi impôs mudanças que refletiram dentro do clube e o resultado foi positivo. Esta derrota para o Goiás foi um mal necessário.

Os melhores de 2014

Diego Tardelli: Não tem como elogiar a temporada atleticana sem passar pelo seu maior destaque: Diego Tardelli fez 13 gols e foi artilheiro da temporada. Sem esquecer-se das assistências, entrega nas partidas e da movimentação em campo.

Luan: Bem ou mal, Luan jogou apenas metade da temporada. Mas o que garoto conhecido como “Menino Maluquinho” jogou enquanto esteve em campo foi incrível. Luan incorporou a raça, vontade e a garra típicas do torcedor atleticano. Além de ser responsável direto pelo título da Copa do Brasil, quando foi artilheiro do time com cinco gols.

Victor: O goleiro que ganhou o apelido de “São Victor” fez jus ao seu papel de santo. Com defesas arrojadas e que salvaram o Galo das piores situações, Victor foi um dos melhores da temporada. Não é atoa que foi convocado para defender a Seleção Brasileira na Copa do Mundo 2014 pelo técnico Luiz Felipe Scolari.

Os piores de 2014

Emerson Conceição: Veio como solução para a lateral esquerda, mas acabou tornando-se figura mais odiada pelo torcedor atleticano. Com erros infantis e atuações péssimas, nem o técnico Levir Culpi segurou a barra do rapaz e o colocou no banco de reservas.

André: Após rodar por Santos e Vasco da Gama sem o brilho que se esperava, André voltou para o Atlético para ser à sombra de Jô. Mas nem isso o rapaz conseguiu fazer. Sua escassez de gols, aliada a forma física decadente e a pouca movimentação, deixou o torcedor de cabelos em pé e sem paciência com ele.

: De herói a vilão. Pode ser esta a grande história de Jô na temporada 2014. Em 2013, ele foi unanimidade e confirmou suas boas atuações no primeiro semestre desta temporada, ao passo de que foi convocado para a Copa do Mundo. Seu passe era milionário, mas com a escassez e os problemas extra-campo que resultaram em um afastamento, Jô é praticamente esquecido do torcedor, dos clubes e da mídia.

Resumão de 2014

O Atlético-MG saiu do fracasso no Mundial e do primeiro semestre de 2014, para ser o clube mais comentado e adorado no futebol brasileiro. As viradas históricas, o ressurgimento do time que não tinha sequer um padrão tático e um elenco desunido, transformou-se em um Galo forte e vingador, como é bem traduzido em seu hino.

O que esperar de 2015?

O Atlético conseguiu o que poucos times no Brasil sequer almejaram: manteve o elenco de 2014, o treinador, a comissão técnica e a diretoria, a exceção de Daniel Nepomuceno que substituiu Alexandre Kalil. O Galo entra como um dos favoritos em todas as competições da temporada 2015 e a expectativa que este favoritismo se confirme com vitórias e, quem sabe, títulos para o alvinegro.