O ano de 2014 começou positivo para o Bahia e terminou em melancolia. O Esquadrão de Aço seguia para o segundo semestre da administração "tampão", comandada por Fernando Schimdt, que assumiu em setembro do ano passado. Mesmo com a conquista do Campeonato Baiano, o fracasso no Campeonato do Nordeste, as trocas de técnicos e de gerentes de futebol, além da acusação de corpo mole por parte de alguns atletas, culminaram no rebaixamento para a Série B após quatro temporadas.

Na retrospectiva do Tricolor em 2014, o internauta que acompanha a VAVEL Brasil vai relembrar o desempenho do Bahia nas competições que disputou, além de todos os problemas dentro e fora de campo que resultaram na frustração e no desapontamento de uma das maiores torcidas do Nordeste, senão a maior.

Com pré-temporada reduzida, início de 2014 decepcionou

Por causa da compressão do calendário de competições em 2014 devido à pausa de um mês em junho e julho, durante o período em que ocorreu a Copa do Mundo, o período de atividades na pré-temporada no Bahia durou apenas dez dias. Após as férias e o período de festas no fim de ano, a diretoria anunciou que Marquinhos Santos assumiria o comando técnico da equipe. Com passado nas categorias de base da Seleção Brasileira e oriundo do Coritiba, o técnico tinha a missão de recolocar o Tricolor em dias melhores nas competições que iria disputar ao longo da temporada.

De novo, eliminação na primeira fase do Campeonato do Nordeste

O ano começou tenebroso para o Tricolor, sendo uma prévia do que aconteceria no último mês de 2014. Dez dias depois de se encontrar pela primeira vez, o elenco do Bahia teve o primeiro confronto profissional da temporada e foi desastroso. Com total falta de entrosamento, o CSA se aproveitou e aplicou 4 a 1 logo na estreia da Copa do Nordeste. As partidas seguintes não foram de boa qualidade, o time não demonstrava melhora, as atuações eram consideradas abaixo da crítica e Marquinhos Santos começou a ter seu trabalho contestado.

O Esquadrão estava no grupo B. Além do time alagoano, Santa Cruz e Vitória da Conquista compunham o grupo. E, mais uma vez, o Bahia apresentou a inconstância necessária para não ir adiante e ser eliminado na primeira fase. O time somou 10 pontos, com três vitórias, um empate, duas derrotas e saldo negativo de um gol. Mais uma vez, o sonho do tricampeonato nordestino foi adiado.

Mais um, mais um título de glórias no estadual

Em vista do fracasso no certame regional, a meta seguinte era a realização de um bom Campeonato Baiano. O sucesso no estadual apagaria as más recordações do Nordestão e deixaria o espírito coletivo mais animado para o Campeonato Brasileiro.

O time entrou na segunda fase do Baianão no grupo 3, com Serrano, Juazeirense e Catuense como seus adversários. A campanha do time foi praticamente impecável, somando 17 pontos ganhos em oito jogos, amargando apenas uma derrota. Nas semifinais, o Tricolor enfrentou o Serrano. Empatou a primeira partida em 1 a 1 e venceu em casa por 1 a 0, garantindo-se na final. Na decisão, mais uma vez o arquirrival histórico Vitória na frente. Com o mando de campo do Leão da Barra, o Bahia venceu o primeiro jogo por 2 a 0 e conquistou ótima vantagem para a partida derradeira, que terminou empatada em 2 a 2. Dessa forma, o Esquadrão conquistou o Baianão 2014, o 45º título de sua história.

Na premiação dos melhores, o time teve muitos premiados. O goleiro Marcelo Lomba, os zagueiros Titi e Demerson, o volante Uelliton, o meia Anderson Talisca, o atacante Rhayner e o técnico Marquinhos Santos fizeram parte da seleção do Campeonato Baiano. Ainda mais, Talisca foi considerado o craque do campeonato.

No entanto, os números não refletiam o que era visto. Enquanto o time conquistava mais um título para a sua vasta galeria, as atuações em campo não eram convincentes. Alguns jogadores, como Anderson Talisca, eram poupados, mas a desconfiança era grande, principalmente quanto ao trabalho de Marquinhos Santos.

Copa do Brasil - Eliminação na terceira fase e vaga na Sul-Americana

Na competição considerada a mais democrática do país, o Bahia avançou um pouco, nada que causasse mais destaque no âmbito esportivo nacional. Na primeira fase, o adversário foi o Villa Nova/MG. No primeiro jogo, empate por 1 a 1 fora de casa. Depois, triunfo tranquilo por 2 a 0 para garantir vaga na segunda fase.

Na segunda fase, o confronto foi muito mais difícil. O adversário foi mais uma equipe mineira, desta vez, o América. O primeiro jogo foi realizado na Arena Independência e o empate sem gols saiu de bom agrado para os tricolores. No segundo jogo, o time não teve vida fácil, apesar de jogar em casa, mas a vitória por 2 a 1 tranquilizou o ambiente.

Na terceira fase, o adversário era de um nível mais elevado: o Corinthians. E, como aconteceu nas fases precedentes, o Bahia disputou a primeira partida da fase como visitante. Foi sacudido pelo Timão, após ser derrotado por 3 a 0, na Arena Corinthians. Praticamente eliminado, a vitória por 1 a 0 não foi suficiente para inverter o quadro. Com isso, o Tricolor deu adeus à Copa do Brasil, mas se garantiu na Sul-Americana.

Copa Sul-Americana – Ba-Vi internacional ficou apenas na vontade

Eliminado antes das oitavas de final da Copa do Brasil, o Bahia conseguiu vaga na Copa Sul-Americana, pela terceira vez consecutiva. Em duelo válido pela segunda fase, o Esquadrão enfrentou o Internacional. Os nordestinos surpreenderam, com uma vitória imponente por 2 a 0, no Beira-Rio, em Porto Alegre. No jogo de volta, um empate por 1 a 1 para consolidar o avanço.

Nas oitavas de final, um adversário desconhecido. Era uma façanha e tanto desvendar e estudar a Universidad César Vallejo, do Peru. O primeiro confronto, em Pituaçu, vitória por 2 a 0 e boa vantagem de olho na classificação. Mas tudo mudou. No jogo de volta, realizado no Peru, a comissão técnica resolveu poupar sete jogadores do elenco por causa do Campeonato Brasileiro. No Peru, o César Vallejo devolveu o resultado e venceu por 2 a 0. O jogo foi aos pênaltis e o Bahia foi derrotado por 7 a 6.

Caso conseguisse vaga nas quartas de final, o Bahia poderia enfrentar o arquirrival Vitória e realizar um inédito clássico Ba-Vi por uma competição internacional. Contudo, os dois foram eliminados e a história não foi realizada.

Brasileirão: começo bom seguido de queda vertiginosa

O começo no Campeonato Brasileiro para o Bahia foi oscilante. O time iniciou com o pé esquerdo e foi derrotado em casa para o Cruzeiro por 2 a 1. Depois, a equipe conseguiu três partidas de invencibilidade - vitórias contra Figueirense e Botafogo, além de um empate contra o Vitória -, mas o bom momento logo acabou. Após a derrota ante o Internacional, na Arena Fonte Nova, pela 13ª rodada, começou o calvário, quando o time entrou pela primeira vez na zona de rebaixamento.

Apesar da conquista do Campeonato Baiano e de algumas vitórias destacáveis, Marquinhos Santos não foi unanimidade no Bahia, quer pela torcida, quer por alguns diretores e conselheiros. Após passar 10 rodadas consecutivas na zona de rebaixamento, Marquinhos Santos foi demitido. Charles Fabian, eterno ídolo campeão brasileiro em 1988, assumiu interinamente o comando da equipe até Gilson Kleina ser contratado, em 13 de agosto. O Bahia havia conquistado sete pontos de nove disputados durante o período em que Charles comandou o time mas, por mais que alguns começassem a fortalecer a corrente de efetivar o ídolo tricolor como técnico do elenco profissional, as coisas não aconteceram dessa forma.

Brasileirão, parte II: Kleina assume e cai, mas Charles volta tarde demais

As últimas dez rodadas do Campeonato Brasileiro foram de tristeza, desapontamento, esperança e decepção para o torcedor do Bahia. O time entrou na zona de rebaixamento e não saiu mais no dia 12 de outubro, quando perdeu em casa, para a Chapecoense, por 1 a 0, em um confronto direto e considerado ideal para não cair. Por mais que a esperança se mantivesse, a ideia de ver a equipe na Série B 2015 começava a ganhar ares de realidade para a massa baiana.

A partir desse jogo, a situação no Bahia mudou completamente. O time, que já não engrenava, entrou em perdição completa. Foram seis jogos sem vencer, com cinco derrotas e um empate, e o time naufragou. Parou na penúltima colocação e foi insustentável também para Gilson Kleina, que deixou o cargo de treinador. Charles voltou, mas caiu para a Série B.

A 36ª rodada era mais uma considerada fundamental para manter as esperanças contra o rebaixamento, para não depender de outros resultados. O adversário era o Atlético-PR e o palco era a Arena Fonte Nova, mais uma vez. E, de novo, o mando de campo não adiantou para o tricolor conquistar um bom resultado. Derrota por 2 a 1 e a crença de boa parte da torcida na manutenção na elite do futebol brasileiro caiu por terra.

Um lampejo na penúltima rodada animou o adepto tricolor, por mais que a situação estivesse bastante complicada. O Bahia enfrentava o Grêmio, que brigava por uma vaga na Taça Libertadores da América, em Salvador. Era necessário, porém, torcer por derrotas de Vitória e Palmeiras para o time não entrar em campo rebaixado à Série B. Dessa vez, no entanto, deu certo. Faltava fazer a sua parte. Com muito drama e muito sofrimento, o Esquadrão venceu por 1 a 0 e manteve as chances, ainda que mínimas.

A última rodada reservou intensas emoções. O Bahia precisava vencer o Coritiba fora de casa e torcer por derrota do Palmeiras ante o Atlético Paranaense e tropeço do Vitória contra o Santos. O Esquadrão abriu 2 a 0 fora de casa e passou nove minutos fora da zona de rebaixamento, graças aos outros resultados. No entanto, o empate de Palmeiras e Vitória minou as chances de salvação e os jogadores "entregaram os pontos". O Bahia perdeu por 3 a 2 e encerrou uma temporada de derrotas com o rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro em 2015.

Melhor jogo: Bahia 3x0 Figueirense, 21ª rodada do Brasileirão

A situação não era das melhores, mas a atuação foi importante para resgatar o ânimo do elenco ainda que de forma imediata. Em partida realizada na cidade de Feira de Santana, o Bahia enfrentou o Figueirense no dia 14 de setembro. Há seis jogos sem vencer, um triunfo era fundamental para afastar momentaneamente a maré de azar, mas era necessário derrotar um time que não perdia há oito jogos e registrava ascensão quase imparável no campeonato nacional.

Aos 17 minutos, Kieza apareceu sozinho, mas Tiago Volpi salvou com o pé. No escanteio, Rafael Miranda desviou e Kieza aproveitou para abrir o placar após bate-rebate. Sete minutos depois, o próprio centroavante bateu colocado e aumentou a vantagem para 2 a 0. Na parte final do segundo tempo, Maxi Biancucchi foi acionado por Marcos Aurélio e liquidou a partida: Bahia 3 a 0 Figueirense.

Pior jogo: Goiás 3x0 Bahia, 33ª rodada do Brasileirão

Se uma vitória por 3 a 0 pode ter sido a melhor, uma derrota pelo mesmo placar pode ser considerada a pior partida do Bahia na atual temporada. Na 33ª rodada do Brasileirão, o Esquadrão enfrentou o Goiás no estádio Serra Dourada, em Goiânia. Em campo, um time altamente irreconhecível. Sem alma, sem vontade de jogar, totalmente entregue ao fracasso e o segundo tempo foi determinante para a construção da derrota.

Aos 16 minutos, Thiago Mendes rolou a bola para Erik, que abriu o placar na saída de Marcelo Lomba. Aos 24 minutos, Erik marcou o segundo gol na partida após ficar sozinho em um contra-ataque. Aos 30 minutos, Thiago Mendes cobrou falta com categoria e sacramentou a pior atuação do Bahia na temporada.

Melhores jogadores

A principal joia do Bahia na temporada foi Anderson Talisca. Após boas partidas no final da temporada passada, o meia cresceu ainda mais no clube. Com excelentes atuações no Campeonato Baiano, foi considerado o craque do estadual após criar boas jogadas de fora da área, oportunidades de gol, além de cobranças de falta cobradas com perfeição. Até a pausa para a Copa do Mundo, Talisca era o jogador que mais tinha finalizado no Brasileirão, além de ser o principal atleta do time, ainda que com 20 anos de idade.

Não demorou muito, as sondagens do exterior vieram, até que o Benfica comprou o jogador por 4 milhões de euros, pouco mais de 12 milhões de reais. Desde então, o Bahia não conseguiu suprir a ausência do craque, e o rebaixamento foi evidência disso, sem nomes alcançarem destaque.

Piores jogadores

As principais contratações do Bahia não surtiram efeito e foram um grande fiasco na temporada. Os lampejos de bom futebol não foram suficientes para agradar o torcedor, haja vista a ausência de resultados positivos na maior parte da competição nacional.

Kieza, Emanuel Biancucchi, Maxi Biancucchi, Marcos Aurélio... a lista é extensa de jogadores aos quais a torcida depositou total confiança por causa de atuações anteriores em outros clubes do futebol brasileiro. Mas nada deu certo no Bahia em 2014.

2015 pode ser um ano melhor

Apesar da total decepção, a torcida do Bahia tem uma grande chance de fazer uma boa temporada em 2015. Buscar dentro do próprio celeiro a solução é a melhor saída para a reformulação que virá no ano que vem. Durante o Campeonato Brasileiro deste ano, talentos como Bruno Paulista, Pará, Railan, Rômulo e Jeam mostraram que as categorias de base do clube podem oferecer dias melhores.

O semifinalista da Copa do Brasil sub-20 conta com jovens talentos que se destacaram. Além dos jogadores supracitados, Yuri, Jeferson Silva, Jacó e Robson podem montar a base para o time que irá iniciar o ano da redenção. O time será administrado por Marcelo Sant’Ana, que não terá uma missão fácil; o trabalho será extenso. O novo mandatário do clube tem a missão de manter a hegemonia no cenário estadual e recolocar o Esquadrão de Aço na elite do futebol brasileiro em 2016.

Parte do trabalho já foi iniciado, uma vez que a equipe já definiu Sérgio Soares como treinador e Alexandre Faria, que estava no América-MG, como diretor de futebol. A outra parte será a chegada dos novos reforços e do entrosamento que o time precisará ter em 2015, devido à ausência de tal ponto no desastroso 2014.

2014 repleto de mazelas, renovação total para 2015

A temporada 2014 foi aquém das expectativas. As esperanças de dias melhores para o Bahia não foram condizentes com o que era noticiado dentro e fora de campo. A diretoria falhou em contratar 25 atletas, quatro diretores de futebol, três técnicos e diversas mudanças na cúpula diretiva.

Quanto ao balanço financeiro, o aumento no número de sócios foi destaque, mas a falta de patrocínio contribuiu para a instabilidade no clube. Boa parte da temporada ocorreu sem patrocínio máster, e os outros patrocínios eram realizados por valores abaixo do que é costumeiramente visto no mercado comercial brasileiro.

Os salários atrasados desgastaram a relação entre jogadores e comissão técnica junto à direção do clube tricolor. Para não prejudicar os resultados dentro das quatro linhas, a cota financeira dos direitos de transmissão por parte das emissoras de televisão foi antecipada, uma estratégia anteriormente rejeitada pela gestão atual. Voltou atrás no dito e nada adiantou.

Os resultados em campo foram desastrosos. Apesar do título baiano, a eliminação precoce no Campeonato do Nordeste, a forma como o time foi eliminado na Copa Sul-Americana aliado ao rebaixamento na Série A do Brasileiro – o Bahia foi o pior mandante do torneio – tornaram o ano uma desgraça. O rebaixamento em campo revelou a incompetência e os erros registrados durante todo o ano. Cabe ao torcedor tricolor, que sempre deposita fé e esperança e já viu momentos piores acontecerem na história do clube, acreditar que dias melhores virão.