O ano de 2014 para o Cruzeiro Esporte Clube pode ser definido como positivo. O atual campeão Brasileiro teve um ano exaustivo, sendo a equipe que mais jogou durante a temporada, com 76 partidas. Nessa retrospectiva, a VAVEL Brasil comenta em detalhes o ano da equipe celeste.

Manutenção da base campeã foi a principal contratação para 2014

Após ser o campeão mais precoce na era dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro, faltando quatro rodadas para o término da competição, o elenco do Cruzeiro ficou visado no mercado. Vários jogadores despertaram a atenção dos clubes não só do Brasil, mas também do exterior, até mesmo o diretor de futebol do clube, Alexandre Mattos, teve sua permanência indefinida para 2014 no Cruzeiro. Com o Mineirão de volta em 2013, a diretoria celeste teve autonomia para customizar o programa Sócio Torcedor, alavancando as rendas mensais do clube e, assim, teve totais condições financeiras para manter a base campeã para o próximo ano e também o dirigente, que permaneceu no cargo, visando montar um elenco para conquistar a Libertadores da América e consequentemente, o Mundial de Clubes.

Ao contrário de 2013, onde a Raposa fez 19 contratações durante o ano, em 2014 apenas reforços pontuais chegaram a Toca da Raposa II. O primeiro reforço a vestir a camisa Celeste, foi o meio-campo Marlone, promessa que se destacou no Vasco. Quem também se destacou, porém, na Série B com a camisa do Boa Esporte, foi o volante Rodrigo Souza, também cobiçado pelo Flamengo.

Para reforçar o setor esquerdo da equipe, a diretoria buscou o lateral Samudio, oriundo do Libertad, do Paraguai, por empréstimo. O zagueiro Vilson, do Palmeiras, chegou a ser anunciado pela diretoria, porém o jogador não se recuperou de uma lesão e teve seu contrato rescindido com o clube ainda no primeiro semestre deste ano. O principal reforço para a disputa da Libertadores da América, foi o atacante Marcelo Moreno, que buscava reencontrar o seu futebol no Brasil, e chegou ao clube por empréstimo do Grêmio. O jogador foi recebido pela torcida Celeste ainda no Aeroporto de Confins e ficou surpreso com a recepção.

Conquista do estadual em cima do Atlético-MG e decepção na Libertadores

O calendário para o Cruzeiro começou apertado em 2014, longas e cansativas viagens para os jogos da Libertadores da América, juntamente com as partidas válidas pelo Campeonato Mineiro, fizeram a equipe do técnico Marcelo Oliveira se desdobrar dentro de campo, enfrentando até adversários fora das quatro linhas.

As três primeiras partidas da temporada foram válidas pelo Campeonato Mineiro e o treinador celeste mandou a campo a base campeã brasileira da temporada anterior. A equipe não conseguia imprimir o mesmo ritmo que ditava quando terminou 2013, gerando algumas dúvidas no torcedor celeste. O primeiro clássico do ano, contra o Atlético-MG, disputado no Estádio Independência, terminou em 0 a 0. Os comandados de Marcelo Oliveira gradativamente iriam voltando a fazer boas atuações, muitas das vezes, o cansaço das viagens pela Libertadores da América pesavam contra o elenco.

O Cruzeiro chegava à final como líder geral do estadual, contra o arquirrival Atlético-MG, após passar pelo Boa Esporte na semifinal da competição. No jogo de ida, disputado no Independência, mais uma vez o clássico terminaria sem gols, o que dava a vantagem para a equipe da Toca da Raposa, por ter sido líder geral do campeonato. Na grande final, disputada no Mineirão, o clube celeste reforçou a marcação no meio-campo, o que impediu os atleticanos a criarem chances, principalmente o maestro da equipe na ocasião, Ronaldinho Gaúcho. Já no fim do jogo, Jô é derrubado na área, o árbitro Leandro Vuaden chegou a marcar o pênalti, mas voltou atrás após o auxiliar alegar impedimento do centroavante atleticano. Sendo assim, o Cruzeiro conquistou o Campeonato Mineiro na sua 100ª edição.

Já na Libertadores da América, principal objetivo da equipe na temporada, o Cruzeiro tinha como concorrentes em seu grupo, Real Garcilaso, Universidad de Chile e Defensor. Na estreia, a equipe enfrentou dois adversários: Real Garcilaso, e a altitude de 3.200 metros de Huancayo, no Peru. Um fato nessa partida, porém, marcou uma situação triste vivida em nossa sociedade: o racismo. Na segunda etapa da partida, Marcelo Oliveira colocou Tinga no lugar de Ricardo Goulart. A atitude da torcida peruana, a cada vez que o meia que acabava de entrar na partida tocava na bola, eram vaias e gritos fazendo referência a macaco. As péssimas condições do estádio, a falta de água no vestiário celeste no intervalo contribuiu para a derrota da equipe mineira por 2 a 1. A classificação na fase de grupos foi alcançada apenas no último jogo, o que gerou apreensão na torcida pelo futuro da equipe na competição, que não iria longe. O Cruzeiro caiu nas quartas de finais para o San Lorenzo, sendo derrotado em Buenos Aires por 1 a 0, enquanto no jogo de volta, no Mineirão, um empate por 1 a 1.

Início brilhante no Campeonato Brasileiro e o “fico” de Willian

Com o time concentrado na Libertadores da América, o técnico Marcelo Oliveira lançou a campo nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, o famoso "mistão", para que a equipe não perdesse muitos pontos no começo da competição. E os reservas deram conta do recado, na partida inicial da equipe no Brasileirão, contra o Bahia, Moreno saiu do banco de reservas para marcar o gol que daria a vitória para o Cruzeiro na ocasião, por 2 a 1. A Raposa já era líder na 6ª rodada, após vencer o Sport, no Mineirão, por 2 a 0, e ampliou a vantagem na liderança vencendo o Internacional, em Caxias do Sul, por 3 a 1. A vitória contra o Flamengo, em Uberlândia por 3 a 0, foi a última partida do Brasileirão antes da parada para a Copa do Mundo 2014.

Durante a pausa no Campeonato Brasileiro, as equipes movimentaram o mercado da bola, inclusive o Cruzeiro, que dispensou alguns jogadores, e trouxe reposições. O zagueiro Wallace, destaque da Seleção Brasileira sub-20, foi negociado com um grupo de empresários que o repassou para o futebol português. Como reposição, a Raposa fechou a contratação de Manoel, vindo do Atlético-PR, investindo um alto valor no atleta. Quem também deu adeus à Toca da Raposa foi o atacante Martinuccio, destaque da Libertadores 2011 pelo Peñarol e que não conseguiu se sobressair na equipe celeste devido ao alto número de lesões. Seu empréstimo junto ao Fluminense, detentor dos direitos do jogador, não foi renovado.

Para o lugar de Martinuccio, o clube mineiro trouxe Marquinhos, destaque do Vitória, e veio sem custos após ter encerrado o vínculo com a equipe baiana. Cobiçado pela Raposa desde o inicio da temporada, Neilton chegou ao clube após encerrar o contrato com o Santos. No dia 26 de julho, porém, a notícia que a torcida celeste esperava, chegou: Willian permaneceria no Cruzeiro. Após longas negociações com o Metalist, da Ucrânia, os dirigentes celestes pagaram aos ucranianos, cerca de 3,5 milhões de euros para adquirir o jogador em definitivo.

Superação: A palavra chave para a conquista do título

A cada rodada disputada no Campeonato Brasileiro, cada vez mais o Cruzeiro reafirmava a sua liderança, embalados pelos torcedores que ecoavam seus cantos de incentivo ao time no Mineirão. Devido à pausa do Brasileirão na Copa do Mundo, o ritmo de partidas no segundo semestre do ano aumentou consideravelmente, forçando as equipes a disputarem jogos nas quartas e quintas-feiras e, também, nos fins de semana. No início, a Raposa não sentiu os efeitos do calendário, fazendo grandes partidas contra o Santos, no qual venceu por 3 a 0 no Mineirão, e também o adversário pelo título brasileiro, o Internacional, por 2 a 1.

Na reta final da temporada, o Cruzeiro sofreu com desfalques. Disputando duas competições com chances reais de título em ambas, Marcelo Oliveira não teve muitas escolhas, a não ser mandar o que tinha de melhor para o campo e, com isso, muitos jogadores sofreram o desgaste físico na temporada. Convocado para a Seleção Brasileira do técnico Dunga, Ricardo Goulart foi a primeira vítima do desgaste, sofrendo um estiramento na coxa esquerda e desfalcando a equipe por aproximadamente um mês. Uma lesão no menisco do joelho direito tirou o meia Alisson dos gramados em outubro, com previsão de retorno apenas na próxima temporada. O zagueiro Dedé sofreu uma entorse no joelho direito contra o Santos, pela semifinal da Copa do Brasil e desfalcou o setor defensivo da Raposa, deixando o jogador na cadeira de rodas. O time perdia ali as suas principais peças e era preciso superação para continuar enfrentando o temido calendário na reta final da temporada, para conquistar o título de campeão brasileiro.

É Tetra!

No dia 23 de novembro, o Cruzeiro confirmou o seu tetracampeonato diante o Goiás, no Mineirão. Mais de 56 mil pessoas compareceram ao Gigante da Pampulha para testemunhar mais uma história escrita nas páginas heroicas e mortais do clube. Essas, inclusive, vibraram quando Everton Ribeiro marcou o gol decisivo que confirmou o título para a Raposa. A festa, porém, teve o seu estopim na partida contra o Fluminense, jogo que marcaria a entrega do troféu de campeão brasileiro ao Cruzeiro, principalmente quando Marcelo Moreno marcou um golaço de voleio, para abrilhantar mais a festa azul e branca, na partida que terminou com vitória celeste por 3 a 1.

A vitória significou muito para a equipe mineira, pois alcançou o recorde de maior pontuador na era dos pontos corridos, chegando aos 80 pontos, deixando o São Paulo em segundo lugar com 78 pontos, no Brasileirão de 2006. O Tricolor Paulista ainda teve mais um recorde batido pelo Cruzeiro, dessa vez, pelas rodadas consecutivas na liderança do Campeonato Brasileiro, na qual a Raposa ficou 33 rodadas, das 38 no topo da tabela, enquanto o São Paulo ficou para trás, com 27 rodadas.

Adeus ano velho, Feliz Ano Novo...

Terminada a desgastante temporada de 2014 para o Cruzeiro, é hora de começar a pensar em 2015. O primeiro a confirmar seu novo vínculo com o clube foi o comandante do bicampeonato, Marcelo Oliveira, que renovou o seu contrato por mais uma temporada com a Raposa. O volante Henrique, primordial para o tetracampeonato da equipe, também renovou o seu vínculo por mais três temporadas na Toca da Raposa.

Em relação a saídas, o Cruzeiro perdeu um dos responsáveis pela construção da base bicampeã brasileira. Alexandre Mattos não chegou a um acordo com o presidente Gilvan Tavares e se despediu do clube, emocionado, após ter feito um belo trabalho. Os dirigentes celestes também optaram em não renovar o contrato do atacante Borges, que vence no fim do ano. O lateral-esquerdo Samudio possui direitos econômicos ligados ao Libertad, do Paraguai, e com isso o jogador não permanecerá em Minas. A mesma situação vive o atacante Marcelo Moreno, vinculado ao Grêmio, e o boliviano deverá se reapresentar em Porto Alegre ano que vem, uma vez que o clube mineiro não chegou a um acordo com os dirigentes gremistas para a permanência do atacante em Belo Horizonte.

Marlone também não permanece na Toca da Raposa em 2014, a diretoria celeste resolveu rescindir o contrato do atleta, que acertou com o Fluminense, mesmo com baixa produtividade durante a temporada. Já o volante Lucas Silva recebeu duas propostas oficiais do Real Madrid, ambas recusadas pela diretoria celeste, que estipulou 15 milhões de euros (R$ 48 milhões) para liberar o jogador, quantia que os espanhóis não alcançaram. Com isso, o jogador permanece no Cruzeiro pelo menos até junho de 2015.

A próxima temporada, assim como foi 2014, deverá ter poucas caras novas na Raposa. O primeiro reforço do clube veio da Chapecoense e trata-se do lateral-direito Fabiano, vindo através de investidores, que o repassou para o clube mineiro. Ainda falando sobre o setor defensivo, o Cruzeiro reintegrou ao elenco principal o lateral-esquerdo Gilson, que estava emprestado ao América-MG e se destacou pela Série B do Brasileirão. Já no ataque, a Raposa fechou a contratação do camaronês Joel, destaque do Coritiba com oito gols. Pretendido pelo Flamengo, o jogador assinou por 5 anos com o clube mineiro. Leandro Damião pode estar chegando para ocupar a camisa “9” azul e branca. A diretoria do Cruzeiro está próxima de chegar a um acerto com o Santos, para liberar o jogador por empréstimo, que viria no lugar do boliviano Marcelo Moreno.

Melhor jogo: Santos 3 x 3 Cruzeiro, jogo de volta pelas semifinais da Copa do Brasil

Foi uma partida onde o Cruzeiro sofria contra o calendário do futebol brasileiro, mas eram 90 minutos que valiam a classificação para a desejada final da Copa do Brasil. Eis que surge Willian, que na semana anterior havia lesionado uma costela, para assegurar a classificação da Raposa, com dois gols nos minutos finais da partida, que muitos davam como certa a passagem do Santos para a final, proporcionando um momento de grande emoção para o torcedor celeste.

Pior jogo: Flamengo 3 x 0 Cruzeiro, 28ª rodada do Brasileirão

Uma tarde para cair no esquecimento. Nada deu certo para o Cruzeiro naquela tarde do dia 12 de outubro. O setor defensivo falhou em lances relativamente fáceis, o ataque perdia gols incríveis e o Flamengo aproveitou as chances que surgiam. Um "apagão" celeste.

Melhores jogadores

Everton Ribeiro: Mais uma vez Everton Ribeiro se sobressaiu no Cruzeiro e proporcionou grandes jogadas que fizeram a alegria do torcedor, inclusive o gol do título brasileiro. Um ano histórico para o jogador, uma vez que chamou a atenção do técnico Dunga e recebeu a tão sonhada oportunidade na Seleção Brasileira.

Ricardo Goulart: Ao lado de Marcelo Moreno, Ricardo Goulart foi um dos artilheiros do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro com 15 gols. O número de tentos do jogador agradou o técnico Dunga, que deu uma chance ao atleta na Seleção Brasileira. O meia se tornou peça fundamental no esquema de Marcelo Oliveira, sua importância foi tamanha na equipe, tanto que o time caiu de rendimento quando o jogador se ausentou das partidas por lesão.

Marcelo Moreno: Chegou literalmente nos braços da torcida no Cruzeiro em 2014. Recepcionado ainda no Aeroporto de Confins pelos torcedores celestes, o atacante retribuiu todo o carinho dentro de campo, marcando 15 gols no brasileirão, e durante a temporada, abriu mão de várias convocações da seleção boliviana, para defender o Cruzeiro no Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil.

Piores jogadores

Marlone: Contratado junto ao Vasco como promessa, Marlone chegou ao Cruzeiro repleto de expectativas por parte do torcedor. Dentro de campo, porém, o jogador não correspondeu, o baixo rendimento nas partidas em que recebia chances de Marcelo Oliveira, transformou a expectativa em desilusão.

Júlio Baptista: Pouco produziu em 2014, recebeu chances no ataque da equipe pela Libertadores da América, no qual passou em branco e o Cruzeiro acabou eliminado. Um jogador caro de se manter no elenco, com baixa produtividade e que pesou na atual temporada para o torcedor.

Borges: Foi fundamental na campanha campeã do Cruzeiro em 2013, porém não conseguiu repetir o feito em 2014. O alto número de lesões prejudicou o jogador, que não tinha um ritmo de jogo e, quando entrava nas partidas, pouco produzia.

Análise final

Um bom ano, que poderia ter sido melhor. Esperava-se mais futebol do então atual Campeão Brasileiro, na Libertadores, uma vez que entrou na competição sendo respeitado pelo título que havia acabado de conquistar, porém, foi eliminado fácil mente nas quartas de final e por pouco não deu adeus ainda na fase de grupos. Já na Copa do Brasil, a equipe conquistou a vaga na decisão, bravamente, mas, não disputou a "final dos sonhos" contra o rival Atlético-MG com a mesma postura, e acabou sendo derrotado nas duas partidas sem muitas dificuldades.

Restou o Brasileirão, na qual os comandados de Marcelo Oliveira venceram batendo recordes. Sem Alexandre Mattos na diretoria, o torcedor está receoso sobre 2015, mas não há muito que ser feito, a base campeã está mantida, Gilvan permanece na presidência, agora é aguardar para que novas histórias sejam escritas nas "páginas heroicas e mortais" do Cruzeiro