A temporada de 2014 do Internacional foi de altos e baixos. Uma inconstância presenciada em goleadas feitas, mas também sofridas. Ao vir de um ano em que escapou do rebaixamento somente na última rodada do Brasileirão, a meta do colorado era retomar o caminho de títulos nas competições nacionais. O Brasil não voltou a ser do Inter, mas a sede por Libertadores sim.

Dois velhos conhecidos do torcedor compuseram o cenário. Após passagem vitoriosa no Fluminense, o técnico Abel Braga, campeão da América e do mundo em 2006 com o Inter, voltou a comandar a casamata colorada. Ele contou com um reforço importante, que havia desfalcado os gaúchos em 2013: o Beira-Rio, que não sediou jogos por mais de um ano, em função das obras para Copa do Mundo. Em campo, as ordens ainda do experiente capitão D'Alessandro. Ingredientes que permitem ao Internacional encerrar a temporada pensando na América outra vez.

Planejamento de pré-temporada

Em 8 de janeiro, o Inter se reapresentou para iniciar os trabalhos de pré-temporada. Após quatro dias de avaliações físicas e médicas, a ida para Gramado, cidade da serra gaúcha. O preparador físico Cristiano Nunes foi o responsável pelos trabalhos iniciais, já supervisionados pelo técnico Abel Braga.

As contratações até o momento não eram de encher os olhos do torcedor. O veterano goleiro Dida, aos 40 anos, deixou o rival Grêmio. Uma peça para somar experiência aos irmãos Muriel e Alisson, que também lutavam para defender as redes coloradas. A dupla de zaga contratada foi Paulão, ex-Cruzeiro e Ernando, juntando-se aos mais velhos Juan e Índio.

No ataque, Wellington Paulista chegou para unir-se com os remanescentes Jorge Henrique e o contestado Rafael Moura. A melhor contratação foi anunciada em janeiro: Charles Aránguiz, volante da seleção chilena.

Início arrasador com o sub-23 e tetracampeonato no Gre-Nal

Apesar de não disputar a Copa Libertadores em 2014, o Internacional iniciou o campeonato gaúcho com os jovens em campo. A abertura em jogos oficiais foi com a recopa gaúcha, disputada contra o Pelotas. Em jogo único, o time áureo-cerúleo derrotou o Inter sub-23 em casa, por 3 a 2, e ficou com a taça inédita. Sem se abalar, o ex-goleiro e técnico da base colorada, Clemer comandou o time sub-23 nas primeiras seis rodadas do torneio e obteve as seis vitórias. Assim, a estreia do elenco principal foi em Gre-Nal na Arena e o jogo ficou no empate de 1 a 1.

Após o clássico, o colorado, que vinha mandando seus jogos em Novo Hamburgo, voltou a jogar no Beira-Rio, para um evento-teste. Com público de 10 mil pessoas, todos sócios, o Internacional goleou o Caxias por 4 a 0, balançando as redes da sua casa após longos 447 dias sem futebol à beira do Guaíba. O lateral Fabrício e o atacante Rafael Moura marcaram duas vezes cada.

Apesar da desconfiança, muito em função do momento do rival Grêmio, que ia bem no Gauchão e na Libertadores, o Inter foi derrotando os adversários a cada rodada. A única derrota no estadual foi para o Veranópolis, com o time misto e placar de 1 a 0.

Na semifinal, hora de atropelar novamente o Caxias. O placar, em Novo Hamburgo, ficou em 3 a 0 para os vermelhos. A final mais esperada pelo Rio Grande do Sul veio: clássico Gre-Nal de número 400 na história. Depois de duas disputas empatadas na Arena do Grêmio, saiu o primeiro vencedor do derby na nova casa tricolor. O Grêmio saiu na frente em cabeçada de Barcos no primeiro tempo. Mas o Internacional se lançou na etapa final e contou com o oportunista Rafael Moura. Dois gols dele, virada para 2 a 1, e um passo gigante para a conquista do estadual.

O jogo de volta foi em Caxias do Sul, no estádio Centenário, palco de muitos jogos colorados na ausência do Beira-Rio. O Grêmio vinha pressionado a reverter a desvantagem da ida. O que estava bom para o Inter, só melhorou. D'Alessandro aproveitou falha do zagueiro Werley e abriu a contagem: 1 a 0. No segundo tempo, enxurrada nos minutos iniciais. Alex marcou duas vezes e Alan Patrick também deixou o dele, sacramentando o marcador em goleada e garantindo o título. Os gritos de "olé" e "campeão" ecoaram muito antes do apito final. Somente o gremista Dudu, em jogada individual, contou com o desvio da zaga rubra para descontar. 4 a 1 e tetracampeonato gaúcho para o Inter de Abel Braga. Mais detalhes deste jogo serão trazidos ainda nesta retrospectiva.

Reencontro com o Beira-Rio e boa largada no Brasileiro

O Inter estreiou contra o Vitória, no primeiro jogo pela competição nacional no Beira-Rio reformado. Ganhou por 1 a 0, gol do volante chileno Aránguiz, que, após atuações destacadas nos grenais, mostrava versatilidade nas chegadas à frente. Nas primeiras nove rodadas, realizadas antes da parada para Copa do Mundo, entre triunfos e empates, a única derrota vermelha foi para o Cruzeiro, por 3 a 1, em Caxias do Sul. Dessa maneira, o saci assistiu à competição mundial colado ao G-4, com os mesmos 16 pontos dos ingressantes Fluminense, Corinthians e São Paulo, três atrás do líder Cruzeiro.

Parada tumultuada para o torcedor, que viu um fiasco nos amistosos de intertemporada. O Inter foi a Santa Catarina e perdeu para o modesto Metropolitano, por 3 a 2. O placar nem seria o principal, já que o comentário maior foram as expulsões de D'Alessandro e Alan Patrick no jogo que pouco valia. Motivo de orgulho no mês de junho, só pelas festas proporcionadas pelo Beira-Rio, em partidas de muitos gols na Copa do Mundo.

Na quinta-feira, 17 de julho, a retomada em partidas válidas. Um período de futebol inconstante veio a seguir. Tudo começou na derrota para o Corinthians, por 2 a 1. Depois, a recuperação em uma goleada sonora aplicada sobre o Flamengo, então lanterna da competição, por 4 a 0. O término do jogo se deu com duas confusões para o clube debater. A primeira foi com a tentativa de flamenguistas agredirem jogadores como protesto pela péssima fase do rubro-negro, na saída do Beira-Rio. Já fora do estádio, a algumas quadras, as torcidas organizadas do Inter, a Guarda Popular e a Nação Independente, entraram em confronto em um posto de gasolina. O resultado foi a suspensão das mesmas, com três jogos proibidas de entrar com instrumentos no estádio colorado.

Copa do Brasil ou Sul-Americana? Nenhuma das duas.

As duas primeiras fases da Copa do Brasil foram mamão com açúcar para o Internacional. Goleada por 6 a 1 sobre o Remo, eliminando o jogo de volta. Na sequência, no segundo mata-mata, participação em partida disputada e com público de primeira no empate com o Cuiabá por 1 a 1, na Arena Pantanal, também palco de Copa do Mundo. A classificação veio com mais uma vitória ampla. 4 a 1 sobre o time da região centro-oeste, no Beira-Rio.

A chapa começou a assar na terceira e derradeira fase. Isso porque, se o Inter avançasse, perderia o direito de disputar a Sul-Americana. No jogo de ida, o vovô Ceará mostrou porque liderava a série B na época. Impôs seu futebol e venceu na casa colorada por 2 a 1, com direito a gol nos acréscimos. Começou o murmurinho de que o Inter focava era na Sul-Americana e a eliminação se confirmou na volta. 3 a 1 para os cearenses e a queda do Inter na Copa do Brasil.

Sobrou então, como dito, a Sul-Americana. A noite de 27 de agosto marcava o jogo de número 300 de Abel Braga como treinador colorado. Presente ingrato deu o Bahia, adversário do mata-mata. O tricolor nordestino venceu por 2 a 0 no Beira-Rio, praticamente decretando a eliminação do Inter, que deixou o gramado com muitas vaias. "As vaias são justas e merecidas. Perdemos um jogo em casa, não jogamos bem. Vocês queriam o quê? Aplausos?" Comentou Abelão, na coletiva.

O adeus à segunda copa em um período curto chegou na partida de volta, com placar de 1 a 1, em Salvador. Para decepção dos colorados, mais um ano sem títulos a nível nacional, que já completam jejum de incríveis 22 anos, e continental. Restou apenas a briga pela Libertadores.

Inter sofre goleadas, mas reage na reta final e garante vaga

O paranaense Nilmar foi a principal notícia de contratação do Inter para a reta final do ano. Em outubro, o atacante, ídolo dos colorados, se reapresentou como esperança de cumprir ao menos o objetivo de classificação no G-4. Foi difícil.

Em sua estreia, em Chapecó, entrou apagado em um jogo catastrófico para o Inter. O time gaúcho foi atropelado pela Chapecoense por 5 a 0, em partida histórica, que terminou com a expulsão de Dida. Rafael Moura assumiu a camisa de goleiro. O colorado não sofria tão ultrajante goleada havia muitos anos. Noite para ser esquecida, mas que ainda será relembrada aqui.

Outro capítulo decepcionante ao torcedor foi o Gre-Nal do segundo turno. O Internacional não perdia o clássico há dois anos, mas foi cercado na Arena. Para piorar, o Grêmio conseguiu repetir o placar da final do estadual, com um sonoro 4 a 1, causador de total destempero no capitão D'Alessandro, que iniciou confusão no gramado, estendida a desentendimentos no vestiário. O argentino pediu que o rival os tratasse com respeito.

Quando tudo parecia perdido, dignidade reestabelecida com a sequência das últimas rodadas, em que o Inter encaixou nada menos do que quatro vitórias consecutivas e confirmou, com muito drama, a vaga na Libertadores. Conseguiu escapar do alçapão da pré-Libertadores ao vencer o Figueirense, em jogo de muita confusão, com gol nos acréscimos, marcado por Wellington Silva. Com o último triunfo, o Internacional, após muita inconstância e variações, terminou o ano com o 3º lugar.

Planejamento para 2015: novo treinador e esperança nas contratações

Certeza é de que Abel Braga não segue no Internacional para 2015. Outros técnicos também foram vetados ou negaram o convite: Vanderlei Luxemburgo e Tite descartados. Após muitos dias de incerteza nas especulações e na cabeça do torcedor, Diego Aguirre, técnico uruguaio, acerta com a direção. O ex-atacante atuou pelo Inter em 1988 e 1989, além de ter sido carrasco do colorado na Libertadores de 2011, quando eliminou os gaúchos no comando do Peñarol. Resolvido o mistério para saber o técnico, o Inter busca também novas peças para dentro das quatro linhas. Esperança depositada em Delcyr Sonda, o homem das contratações no Beira-Rio. Foi ele quem auxiliou nas vindas dos estrangeiros Aránguiz e Martín Luque. Haverá muito trabalho para Sonda e para o presidente recém eleito, Vitório Píffero. Certeza na busca pelo tri da América é a permanência de Andrès D'Alessandro, campeão continental em 2010.

Melhor jogo: Internacional 4x1 Grêmio.

Confirmação de mais um título gaúcho, o quarto em sequência e com goleada sobre o rival. O Inter abriu o placar no primeiro tempo e sobrou no segundo, conseguindo o placar elástico em jogas trabalhadas, para não saírem da memória dos colorados. O quarto gol, marcado por Alex, é uma pintura para a história do clássico gaúcho.

Pior jogo: Chapecoense 5x0 Internacional.

Uma goleada de cinco gols não fazia parte do retrospecto colorado havia muitos anos. Mas ela veio e, pasmem, na cidade catarinense interiorana de Chapecó. Noite despretenciosa que marca um capítulo muito negativo para os números do Inter no Brasileirão. Confira a atuação surpreendente e fatal do time esmeraldino.

Melhores de 2014

Alex: ajudou a comandar o meio campo do Inter, com momentos em que a qualidade e a resolução que o torcedor espera apareceram. Não foi o mesmo da idolatria na primeira passagem pelo clube, mas continuou esforçado e sem medo de arriscar de longe. Também cairia salientar a importância do garoto Valdívia no meio.

Aránguiz: principal contratação, mostrou técnica no meio campo para se destacar entre os volantes do campeonato brasileiro, ainda deixando seus gols em chegadas à frente. Foi eleito Bola de Prata do campeonato na premiação da revista Placar.

Alisson: De terceiro goleiro para a titularidade e segurança no fim de ano. A camisa de guarda-redes do colorado esteve com Dida e surgiu para Alisson em função de lesão de seu irmão Muriel. Ele agarrou a oportunidade e teve seus momentos decisivos nos últimos meses do ano.

Piores de 2014

Wellington Paulista: O atacante terminou o ano com um jejum absurdo de mais de mil minutos em campo sem colocar a bola na rede, em mais de 20 jogos. O último dele foi em 28 de maio, contra a Chapecoense, no Beira-Rio. Além disso, acabou o campeonato brasileiro expulso contra o Figueirense, para fechar com chave de ouro.

Martín Luque: Trazido do Colón e contratação anunciada de forma esperançosa em maio, o argentino fez nada pelo Inter. Entrou em campo apenas quatro vezes e não deixou sua marca. A lista de estrangeiros que caíram nas graças do Internacional é grande. A de decepções, também.

Jorge Henrique: Jogador ofensivo, o ex-corintiano tem apenas 6 gols pelo colorado desde que chegou no meio do ano de 2013. Futebol muito improdutivo faz com que não mereça a titularidade e cause tremenda desconfiança no torcedor.

Análise final da temporada

Temporada de bons e maus momentos do Internacional de Abel Braga. A conquista do campeonato gaúcho foi conseguida em cima do rival Grêmio e através da participação do elenco sub-23, o que é muito bom. Nas competições de mata-mata, dois fiascos contra equipes nordestinas, o Ceará e o Bahia, fizeram o meio do ano do torcedor frustrante. Quando tudo parecia perdido, depois de sofrer goleadas para a Chapecoense e para o próprio Grêmio, o fôlego final rendeu ao Inter a vaga na Copa Libertadores. Será um ano difícil para o treinador que assumir, pois a responsabilidade de almejar títulos maiores existe. Não dá para viver só de Gauchão.

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Sobre o autor
Henrique König
Escritor, interessado em Jornalismo e nas mudanças sociais que dele partem; poeta de gaveta.