O ano de 2014 tinha tudo para ser de redenção para o Palmeiras. Depois de passar o último ano na Série B, o Verdão retornaria a elite do futebol, no ano de seu centenário e com a estréia de sua moderna arena para o começo do segundo semestre. Nada disso, porém, refletiu dentro dos gramados, e a equipe teve um dos anos mais tristes da história.

No Paulistão, eliminação na semifinal para o modesto Ituano; na Copa do Brasil, a equipe não conseguiu passar das oitavas de final. No Brasileirão, chegou à última rodada apenas um ponto longe da zona de rebaixamento e só não acabou na zona da degola por resultados externos. Impotente, sem patrocínio master, o Palmeiras tropeçava nos erros da própria diretoria, e eles não foram poucos.

Na base do bom e barato, o ano do centenário começou 

O ano começou com alta expectativa para a torcida palestrina. Com o caixa apertado, Paulo Nobre começou a usar seu nome forte no mercado financeiro para conseguir empréstimos e repassar a grana para a equipe, apenas o suficiente para que "a engrenagem possa rodar", nas palavras do próprio presidente.

José Carlos Brunoro então começou sua caça por reforços que aceitassem o "contrato de produtividade", o que dificultava muito contratações de nomes de peso. Prioridade da pré-temporada, o Palmeiras exerceu seu direito de compra de Leandro, atacante destaque da equipe em 2013 e que estava emprestado pelo Grêmio.

Após desembolsar 16 milhões de reais  para contar com o jogador em definitivo, Gilson Kleina teve alguns de seus pedidos atendidos. O consagrado zagueiro Lúcio "pulou o muro" e deixou o rival São Paulo, após vários desentendimentos no lado tricolor.

Além do pentacampeão mundial, outro reforço que chamou a atenção foi de Bruno César, destaque corintiano no passado e visto como o companheiro ideal para Jorge Valdivia. Revelações do Brasileirão 2013 como William Matheus e Marquinhos Gabriel também chegaram para somar ao elenco.

A maior perda, porém, foi a do capitão Henrique. Um dos jogadores mais queridos pela torcida e tecnicamente um dos mais favorecidos do elenco, o zagueiro deixou a equipe por um baixo valor e rumou para o Napoli.

Começo promissor no Paulistão acabou como o resto do ano: desastroso

O começo de ano foi muito promissor para o Verdão. A campanha na primeira fase do Paulistão foi invejável, em 15 rodadas, foram 11 vitórias, 2 empates e 2 derrotas, deixando a equipe com a segunda melhor campanha do estadual. Nas quartas, o adversário era o Bragantino e a vitória tranquila por 2 a 0 levou a equipe a enfrentar o Ituano, futuro campeão, na semifinal.

Com a  vantagem do mando de campo, o jogo no Pacaembu ficou marcado por ser um embate equilibrado, com a equipe do interior assustando em vários momentos. O Palmeiras naquela partida já dava sinais de fraqueza e de que aquele time não sabia se comportar em jogos decisivos.

O golpe de misericórdia veio aos 37 do segundo tempo, quando Marcelinho chutou de fora da área e marcou o gol que calou o Pacaembu, eliminando o Palmeiras, até então favorito para chegar ao título.

Uma eliminação "necessária"

Se no Paulistão as coisas foram difíceis, a torcida não esperava algo diferente na Copa do Brasil. A estreia da equipe na competição foi marcada por uma derrota para o Sampaio Corrêa por 2 a 1, no Maranhão. O resultado negativo custou o cargo de Gilson Kleina, que já estava na equipe a pouco mais de 1 ano e meio. No jogo de volta, o Palmeiras conseguiu reverter a situação e avançou para a fase seguinte, onde bateu o Avaí por 2 a 0 na Ressacada e por 1 a 0 no Pacaembu.

Já sob o comando de Gareca, o alviverde foi sorteado para enfrentar o Atlético-MG. Após ser derrotado em casa por 1 a 0, o Verdão foi até o Horto reverter o resultado mas acabou perdendo de 2 a 0 com ainda mais facilidade.

A eliminação, no entanto, não foi tão desesperadora para a torcida. A equipe estava em má fase no Brasileirão e, traumatizados por lembrar de 2012 - quando o Palmeiras venceu a competição e acabou rebaixado - , os torcedores não viram a saída do campeonato com maus olhos.

A aposta em Gareca e o drama no gol

Após uma temporada longe dos gramados da Série A, o Palmeiras retornou com uma suada vitória sobre o Criciúma em Santa Catarina. Os jogos seguintes - derrotas para Fluminense e Flamengo - , contudo, juntamente com a derrota na estreia da Copa do Brasil, custaram o cargo do contestado Kleina.

Além da saída do treinador, mais dois fatores marcaram o ínicio de campeonato para a equipe paulista. A primeira foi a lesão do goleiro Fernando Prass, na partida com o Flamengo, que o afastaria dos gramados por quase 6 meses. O mais chocante foi a saída de Alan Kardec, destaque da equipe, para o arquirrival São Paulo, que despertou a ira e virou de uma vez por todas a torcida contra a diretoria.

O Verdão chegou ao valor pedido pelo Benfica, o jogador abaixou várias vezes sua pedida salarial para continuar no clube, mas esbarrou no fato do negócio estar fechado e o presidente pedir mais uma redução nos encargos, o que acabou irritando o pai e empresário do atleta, responsável por colocá-lo à disposição da equipe tricolor.

A diretoria então colocou Alberto Valentim como interino e o Palmeiras parecia outra equipe. Três vitórias seguidas contra adversários de menor expressão colocaram o Verdão no G-4, mas as derrotas para Chapecoense e Botafogo, além do empate com o Grêmio, deram fim à passagem de Valentim pelo cargo, deixando o time na 11ª colocação na nona rodada.

Paulo Nobre então anunciou Ricardo Gareca, treinador argentino que vinha de bom trabalho no Vélez Sarsfield. A escolha por um treinador estrangeiro trouxe muitos questionamentos para a impresa e para torcida, mas no fim todos apoiaram a ideia e ficaram ansiosos para ver o trabalho de Gareca, que assumiu a equipe após a parada para a Copa do Mundo.

O novo treinador trouxe uma legião de reforços, todos eles vindo de seu país natal, o que gerou críticas. Mouche, Tobio, Allione e Cristaldo assinaram com a equipe e eram vistos como esperanças para uma mudança. A filosofia adotada pelo argentino não encaixou e o treinador só conheceu sua primeira vitória seis rodadas após a estreia.

Mesmo apresentando um futebol melhor, o Verdão sofria na defesa e falhava no setor ofensivo. A fase negra no gol alviverde, com péssimas atuações de Bruno, Deola e Fábio, as críticas ao meia Valdivia, que pouco jogava, foram esgotando a paciência da diretoria, que pôs fim à "era argentina" após a derrota para o Flamengo, no dia 31 de agosto.

No fim do Brasileirão, o Palmeiras coroou sua incompetência, mas mesmo assim sobreviveu

O terceiro treinador do Palmeiras no ano foi anunciado para a reta final do Brasileiro. Tratava-se de Dorival Júnior, que estava fora de uma equipe desde as péssimas campanhas que fez com Vasco e Fluminense, em 2013. A chegada do ex-atleta do Verdão não era unânime, Dorival era longe de ser visto como a salvação alviverde, pois o time estava apenas uma posição fora do rebaixamento e uma mudança era necessária.

Dorival assumiu a equipe e teve um bom começo, mesmo com a vexatória derrota para o Goiás. O técnico fazia um bom trabalho e conquistou pontos valiosos, que pareciam afastar de vez o Palmeiras do rebaixamento. O bom futebol apresentado por Valdivia, os gols de Henrique, o retorno de Prass e a estreia do Allianz Parque pareciam consolidar o Verdão na primeira divisão. 

A seis rodadas do final do campeonato o rebaixamento já era visto como distante, mas uma sequência de cinco derrotas - incluindo um clássico contra o São Paulo e um confronto direto contra o Coritiba - colocaram o alviverde na última rodada a apenas um ponto da zona de rebaixamento.

Jogando no novissímo Allianz Parque e apoiado por mais de 35 mil torcedores, o Palmeiras fez mais uma de suas horríveis atuações, saiu atrás no placar, mas conseguiu o empate ainda no primeiro tempo. Paralelamente, o Vitória enfrentava o Santos no Barradão e o Bahia enfrenta o Coritiba no Couto Pereira, com as equipes baianas como concorrentes diretos do Verdão para as duas últimas vagas do Z-4.

O jogo acabou empatado em São Paulo; Em Curitiba, o time da casa venceu de virada e cravou o Bahia na Série B. Todas as atenções se viraram para o último jogo restante, em Salvador. O empate salvava o Palmeiras e, para não despertar de vez o sentimento de alívio, Thiago Ribeiro marcou e decretou a vitória santista, rebaixando o Vitória e mantendo o rival alviverde na elite.

Vitória no Choque-Rei trouxe esperança de um ano diferente

Palmeiras 2x0 São Paulo - Paulistão

Em uma temporada tão decepcionante, um dos poucos jogos que o palmeirense lembra com alegria é a vitória contra o São Paulo, ainda no estadual. Em nove clássicos no ano, este foi o único triunfo do Palmeiras.

Jogando no Pacaembu, o Verdão ditava o ritmo de jogo e abriu o placar em cobrança de falta na área, onde o baixinho Valdivia empurrou de cabeça para o fundo do gol e voltou a marcar contra o São Paulo, seis anos após o chileno ter uma de suas mais marcantes atuações pelo clube alviverde, quando marcou o gol que culminou na eliminação da equipe do Morumbi na semifinal do Paulistão.

No segundo tempo o Palmeiras ampliou após cobrança de pênalti de Alan Kardec, que meses depois defenderia a camisa tricolor.

O pesadelo goiano

Goiás 6x0 Palmeiras - Brasileirão

Em uma das atuações mais desastrosas de 100 anos de história, o Goiás não tomou conhecimento do Palmeiras e aplicou a goleada mais significativa do campeonato. O embate no Serra Dourada era a quinta partida de Dorival Júnior no comando palestrino e quase culminou em sua demissão.

O ínicio de jogo já foi fulminante e, em menos de 15 minutos, o clube esmeraldino já tinha marcado duas vezes. O massacre continuou, e ao fim da etapa inicial o Goiás já tinha o 4 a 0 no placar. Nervoso e inofensivo, o Palmeiras não conseguia nem chegar ao gol dos donos da casa, que mesmo com o "pé no freio", ainda fizeram mais dois gols para dar números finais à partida.

Decepções de alto calibre e um jovem na fogueira

Wesley - Contratação mais cara da história do Palmeiras, Wesley chegou em 2012, sofreu uma grave lesão e pouco jogou durante sua primeira temporada. Na Série B em 2013, o volante foi um dos destaques do Verdão, mas mesmo assim sofria com críticas de parte da torcida devido a sua "preguiça" em campo.

Se uma parte o criticava em 2013, neste ano as críticas vieram de praticamente toda a torcida alviverde. Wesley continuava neutro em campo, com mais erros do que acertos e acabou até indo pro banco em algumas ocasiões.

Fábio - O jovem  foi colocado por Alberto Valentim no lugar de Fernando Prass e teve um começo promissor, mas logo passou por uma sequência de falhas que acabaram culminando em derrotas que faziam o Palmeiras cair na tabela.

Mesmo sendo notoriamente um goleiro de qualidade devido às grandes defesas, o jovem arqueiro parecia nervoso em alguns momentos, ocasionando em falhas pontuais, que acabaram o colocando de volta no banco de reservas antes mesmo do retorno de Prass.

Lúcio - Eleito para a seleção do Paulistão, Lúcio teve um bom começo de temporada com a nova camisa. Em boa forma física, o jogador não aparentava a idade avançada e dava conta do recado. Com o passar do tempo porém, o pentacampeão mundial não conseguia mais reproduzir as boas atuações.

A falta de velocidade e o temperamento díficil do jogador dentro do campo custaram alguns pontos para o Palmeiras no campeonato, até o zagueiro acabar bancado pelo jovem Nathan, uma das revelações alviverdes.

Por milagres, magias e ceifadas

Fernando Prass - Mesmo tido como uma equipe que forma seus goleiros na base, o Palmeiras apostou em 2013 na contratação de Fernando Prass, e nesta temporada a importância do atleta ficou escancarada durante sua lesão. Nem Bruno, Fábio ou Deola conseguiram trazer a segurança que Prass dava ao gol do Verdão.

O goleiro atuou por 15 partidas na competição e é tido por muitos como o melhor jogador da equipe, sendo um dos maiores responsáveis pela permanência alviverde na Série A.

Valdivia - Ame ou odeie. Essa é a relação da torcida palmeirense com Valdivia, mas é inegável a qualidade que o chileno traz à equipe. Mesmo com todos os problemas de lesão, o Mago seguiu como o único jogador diferenciado do elenco, capaz de transformar o time, mesmo não estando sempre com 100% da forma física.

O alto salário e as acusações de "chinelinho" que o meia sofre por parte da torcida e imprensa continuaram ao longo da temporada, mas a maioria das poucas vitórias veio com a contribuição do atleta.

Henrique - Assim como Valdivia, Henrique também sofreu com as constantes acusações de ser "grosso", mas o substituto de Kardec se provou um jogador muito valioso. Mesmo defendendo uma das piores equipes do campeonato, o "Ceifador" marcou 16 gols e foi vice-artilheiro do Brasileirão, além de ser também o segundo jogador em números de finalizações certas.

Mesmo com sua técnica questionável, o ex-jogador da Portuguesa foi o principal goleador da equipe no ano e seus gols ajudaram a evitar um vexame ainda maior na temporada.

Será 2015 o ano da volta do alviverde imponente? 

A permanência na Série A após a terrível campanha só pode significar uma coisa, mudanças. E é isso que prometeu o agora reeleito Paulo Nobre, o treinador já começou a reformulação no departamento de futebol, demitiu Brunoro, Dorival Júnior e Omar Feitosa, trouxe Cícero Souza para ser o novo gerente e Alexandre Mattos, um dos principais responsáveis pelo bicampeonato do Cruzeiro, deve ser o novo diretor executivo.

O presidente já definiu também o treinador para a próxima temporada. Trata-se de Oswaldo de Oliveira, nome que foi bem aceito pela torcida. O ex-treinador de Botafogo e Santos já conheceu seus primeiros reforços e confia no projeto de Nobre para um Palmeiras que em 2015 que voltar a ser protagonista nos campeonatos que disputar.

Cem anos e sem glórias

O centenário alviverde foi definitivamente um ano para ser esquecido. Erros dentro e fora de campo foram a marca do Palmeiras em 2014. A diretoria, na segunda gestão de Paulo Nobre, terá que seguir um rumo diferente se quiser voltar a colocar o Verdão na disputa por títulos.

A eliminação surpreendente no Paulistão foi apenas o começo de uma bola de neve que quase acabou em tragédia. Desde a perda de Alan Kardec, as diversas contratações que não deram certo até as escolhas por Gareca e Dorival Júnior, o ano alviverde foi fadado de vexames, a maioria deles fora das quatro linhas.

O reflexo dos problemas de gestão foi exposto no campo e por pouco não afundou o Palmeiras no terceiro rebaixamento, o que seria inédito para uma das 12 equipes de maior expressão do país. O Verdão agora tem que confiar nos novos profissionais e se reforçar bastante para trazer as glórias de volta.