A geração atual do basquete brasileiro, formada por jogadores como Tiago Splitter, Nenê e Anderson Varejão, não tem muito tempo a perder. Depois de frustrações em Mundiais e Olimpíadas, a Copa do Mundo FIBA de 2014, na Espanha, se apresenta como uma das últimas chances para esse grupo conseguir a medalha que tanto busca em torneios globais. A competição começa neste sábado (30), e o Brasil entra em quadra no ginásio de Granada às 13h (horário de Brasília), para enfrentar a França, atual campeã europeia, pelo grupo A.

Depois de uma fase preparatória recheada de confrontos difíceis, o Brasil estreia no Mundial enfrentando um de seus principais adversários na luta por uma boa classificação no torneio. Como a Espanha, dona da casa, deve acabar com a primeira posição no grupo, Brasil, França e Sérvia são os principais candidatos a avançar de fase com as outras três vagas. Como o chaveamento do mata-mata é feito a partir das posições em que os times terminaram a primeira fase, o confronto com os franceses é crucial para que o Brasil não só tenha boas chances de classificação, como de pegar um adversário teoricamente mais fraco nas quartas-de-final.

O Brasil conta com a excelente fase de Tiago Splitter, e o desempenho na área pintada da seleção bicampeã do mundo será fundamental para uma boa campanha brasileira na Espanha. Ao lado de Splitter, Nenê, Varejão e Rafael Hettsheimeir formam aquele que é considerado por muitos como o terceiro melhor grupo de jogadores de garrafão deste Mundial, atrás apenas do espanhol e, é claro, do estado-unidense. E estes jogadores deram sinais de regularidade durante a preparação para o torneio.

O verdadeiro fiel da balança na competição reside no jogo de perímetro e nos lances livres. Com uma marcação que funciona desde a chegada de Ruben Magnano, se o Brasil conseguir ser ameaçador também com seus armadores e alas, poderá surpreender. Para isso, jogadores como Marcelinho Huertas, Leandro Barbosa e Marquinhos precisam ter atuações melhores do que as que tiveram nos amistosos pré-Copa. Além disso, a seleção brasileira precisa melhorar seu aproveitamento da linha de lances livres. Em partidas decididas por menos de 10 pontos, uma equipe com limitações não pode desperdiçar quase a metade de seus lances.

Para o Brasil funcionar, é preciso que os dois setores da quadra estejam bem. Se o garrafão apresentar uma postura agressiva e conseguir pontuar, mas o perímetro não representar qualquer tipo de ameaça, os pivôs brasileiros serão presa fácil para os marcadores adversários.

A França venceu o Eurobasket em 2013 e se sagrou campeã europeia de basquete, mas é muito difícil que repita um desempenho parecido no Mundial. Isso porque algumas peças importantes do elenco que conquistou o lugar mais alto do pódio na Eslovênia não disputarão a Copa. É o caso do armador Tony Parker, jogador mais valioso do título, que alegou cansaço após a longa temporada com o San Antonio Spurs, e pediu dispensa da competição, assim como os pivôs Joakim Noah, do Chicago Bulls, e Alexis Ajinca, do New Orleans Pelicans (este último por conta da gravidez de sua esposa). Não bastasse isso, a França ainda perdeu o armador Nando De Colo e o pivô Ian Mahinmi por conta de lesões.

Bem desfigurado, o time do técnico Vincent Collet aposta em dois nomes para ter uma boa performance no torneio: Nicolas Batum e Boris Diaw. Batum, ala do Portland Trail Blazers, é um daqueles jogadores que executam praticamente todas as funções dentro de quadra em altíssimo nível. Ele tem bom passe, chute de longa e média distância, tem condições físicas para acelerar na transição, é um marcador eficiente, pega muitos rebotes para alguém de sua posição... Tudo isso pode ser comprovado com os melhores momentos dele no jogo contra a Letônia no Eurobasket.

Diaw foi peça importante no título do San Antonio Spurs. Mesmo sem ser muito atlético, o ala-pivô consegue modificar o jogo com sua inteligência e técnica, que resulta em passes incríveis para um jogador de seu tamanho. Ele ainda possui um chute de longe regular, e pode desempenhar funções variadas durante a partida. Com tantos desfalques, esta Copa do Mundo também será uma boa oportunidade para observar o pivô Rudy Gobert, do Utah Jazz, que teve pouco tempo de jogo em sua primeira temporada na NBA, mas poderá mostrar serviço sob os olhares de todo o mundo.

Mesmo com muitas mudanças, a França deve ser um excelente teste para o Brasil logo no começo do Mundial. Nas partidas anteriores, os franceses mostraram uma defesa impressionante (seguraram a Austrália em apenas 50 pontos, por exemplo) e não aparentaram muita falta de entrosamento. O resultado deste jogo deve determinar o futuro da seleção no campeonato, mas a atitude que o time apresentar dará os maiores indícios do que se pode esperar do time no torneio.