Tudo começou na década de 90, quando na dissolução da União Soviética, a Rússia passou a se estruturar independentemente como nação. O Spartak Moscow dominava as ações, mas o país gritava por mudanças, e o domínio também mudou. A transição incluiu a chegada de jogadores de outros países, alguns de nações vizinhas, outros de lugares mais distantes, aí então, o Brasil, espelho para qualquer país emergente no esporte, serviu de fonte para alimentar o defasado futebol local.

As aventuras dos brasileiros em território russo tiveram seu início efetivamente em 1995, quando o Lokomotiv Nizhny Novgorod contratou a dupla Júnior e Da Silva, que se não fizeram muito sucesso no Brasil, ajudaram a abrir as portas para que outros nomes fizessem a pouca, porém efetiva, fama dos brasileiros no país.

Como exemplos, podemos citar quatro jogadores que fizeram relativo sucesso na virada do milênio. O atacante Luis Robson ficou marcado como um dos primeiros sucessos da Rússia que foram importados de outros países. Com passagem marcante pelo Goiás, e empréstimo relâmpago para o Corinthians, o jogador que atuou pelo Spartak Moscow de 1997 até meados de 2001 entrou em campo pelo clube em mais de 100 partidas e, mesmo sendo negro, não teve tantos problemas assim para cair no gosto do torcedor, se tornando exceção, sendo que até hoje muitos jogadores estrangeiros sofrem do racismo, que é um dos maiores problemas do futebol local.

Além de Luis Robson, Paulo Emílio, também atacante, também ultrapassando a marca das 100 partidas, atuou com sucesso pelo Alania Vladikavkaz. Atacante ágil e veloz, jogador não teve o mesmo brilho por Mogi Mirim e Bahia. O meio-campista Edu Araújo chegou a defender quatro equipes diferentes na Rússia, mas sem muito sucesso. Fechando a lista dos quatro precursores, encontra-se Mendes. O atacante que fez sua carreira toda no leste europeu atuou pelo Zhemchuzhina-Sochi e resolveu trilhar carreira no Cazaquistão, porém, morreu em 2006, vítima de um ataque cardíaco durante jogo-treino da equipe, não resistindo e falecendo antes que chegasse ao hospital.

Atualmente, mais de uma centena de jogadores nascidos no Brasil já atuaram com a camisa de algum clube da Rússia, e na temporada 2013/2014 do Campeonato Russo pelo menos 24 jogadores brasileiros irão entrar em campo.

Não contam com brasileiros no elenco apenas Amkar Perm, Dynamo Moscow, Rostov e Rubin Kazan, alguns por insucesso dos que por lá passaram, outros por ainda sequer terem provado da presença de algum no seu grupo, além dos recém-promovidos Tom Tomsk e Ural, que apostam nas soluções caseiras e baratas para tentar trilhar uma temporada de sucesso.

Saiba quais são os brasileiros que entrarão em campo nesta temporada do Campeonato Russo:

Anzhi Makhachkala: no Daguestão, extremo sul da Rússia, quem começou a inserir um pouco da cor verde no tradicional amarelo do clube foi o zagueiro João Carlos. Reforço do clube pouco antes da chegada do lateral-esquerdo Roberto Carlos, o beque, que surgiu no Vasco e fez praticamente toda sua carreira no futebol da Bélgica, está no Anzhi desde 2011, entretanto, longe de sua melhor fase no clube. Em sua primeira temporada com a camisa Dagestanskiye foram 22 partidas, a maioria delas até a chegada do treinador Guus Hiddink, em fevereiro de 2012, quando o jogador então passou a viver momentos de instabilidade, entrando em campo pouquíssimas vezes. Na última temporada o defensor atuou em apenas três partidas.

O grande destaque brasileiro do clube sem dúvida alguma é o meia Willian, contratado a peso de ouro junto ao Shakhtar Donetsk, e que é uma das principais estrelas da equipe. Outro destaque é o volante Jucilei. Com passagem de sucesso pelo Corinthians, se sagrando melhor jogador da posição no Brasileirão de 2010, sendo até convocado para a seleção brasileira, o jogador que custou 10 milhões de euros ao clube russo, é presença certa no onze inicial da equipe. O camisa 8 começou a última temporada treinando separadamente, com o elenco júnior, entretanto, foi reintegrado, e agora é peça chave do meio-campo dos Orlov. Além de João Carlos e Jucilei, o Anzhi conta com mais um brasileiro no elenco: o zagueiro Ewerton.

CSKA Moscow: atual campeão, o time da capital conta com dois brasileiros na equipe. Mário Fernandes, defensor ex-Grêmio, e o atacante Vágner Love não só são destaques da equipe, como também não demoraram para cair nas graças da torcida. O caso de Love com o clube russo é antigo, e digamos, uma relação duradoura e fiel. De 2004 a 2009, e retornando ao clube no início do ano, o atacante conta com mais de 200 partidas pela equipe. Campeão de 3 Campeonatos Russos, 6 Copas da Rússia, 3 Supercopas, e ainda da Copa da Uefa de 2005, Love já escreveu seu nome na história Krasno-sinie, sendo o terceiro maior artilheiro do clube, com 84 gols, podendo subir ainda mais no ranking.

Mário Fernandes chegou à Moscou em abril de 2012, e desde então é sempre opção do treinador. Na última temporada ganhou mais oportunidades, sendo o titular da lateral-direita, e fazendo parte do que foi a melhor defesa da competição, com somente 25 gols sofridos em 30 partidas.

FC Krasnodar: Joãozinho é o brasileiro há mais tempo na equipe, desde 2011. O ponta-esquerda que surgiu na Portuguesa teve longa passagem pelo futebol da Bulgária e desembarcou na equipe para a penúltima temporada 2011/2012; desde então, é uma das principas figuras da fraca equipe russa. Joãozinho jogou todas as 30 partidas da equipe na última temporada, e foi um dos líderes de assistências, com 14 passes a gol. O clube pertence ao bilionário Sergey Galitsky, dono uma fortuna que gira em torno de 8.2 bilhões de dólares segundo a revista Forbes, mas que ao contrário de muitos outros russos donos de grandes quantias, não vive em Moscou, e não tem pretensões de fazer grandes investimentos na equipe.

Uma das contratações da última temporada foi Wanderson, armador que trilhou carreira em clubes do Nordeste antes de partir para a Rússia, sendo um dos artilheiros da temporada 2012/2013 com 14 gols marcados. O clube ainda conta com o volante Isael, porém este não parece fazer parte dos planos do treinador Slavoljub Muslin. Para esta temporada o clube acertou a contratação do atacante Marcos Pizzelli, nascido no interior de São Paulo, porém naturalizado armênio.

Krylia Sovetov: os Zelyono-belo-sinie contam com apenas um brasilerio no elenco, o lateral-esquerdo Bruno Teles. No Brasil, o jogador, atualmente com 27 anos, atuou de forma discreta por Grêmio, Portuguesa, Sport e Juventude, antes de ser comprado pelo Vitória de Guimarães, e se transferir para o futebol russo.

Kuban Krasnodar: recém-reforçado pelo francês Djibril Cissé, o time tem no elenco o zagueiro Xandão. O beque que começou no Guarani e ganhou destaque com a camisa do Grêmio Barueri, e passou pelo São Paulo sem deixar saudades ao torcedor tricolor, esteve emprestado ao Sporting, de Portugal. O destaque obtido no clube lisboeta rendeu ao beque uma vaga no Campeonato Russo, sendo adquirido em fevereiro deste ano, recebendo a camisa de número 4, e uma vaga no time titular.

Lokomotiv Moscow: na sombra do rival CSKA, o time busca renovar seu elenco, e aposta em estrangeiros jovens, mas com personalidade, para mesclar com as pratas da casa. O capitão da equipe é o goleiro Guilherme, que surgiu no Atlético-PR, e desde 2007 pertence ao clube. São quase 100 partidas com a camisa dos Zheleznodorozhniki. O outro destaque tupiniquim da equipe é o atacante Maicon, ex-Fluminense, que logo em sua chegada ao clube se tornou titular absoluto, mas perdeu espaço durante a última temporada.

Spartak Moscow: o time que tem no ataque um brasileiro como maior referência, conta também com outros dois representantes do Brasil no elenco. Ari é o camisa nove e principal centroavante da equipe. Sem destaque no país, o jogador saiu ainda jovem para brilhar no futebol sueco, com a camisa do Kalmar, passando ainda com sucesso pelo AZ Alkmaar, da Holanda, antes de se consolidar no ataque do Spartak.

Os outros dois são volantes, ex-vascaínos, e com passagem pelas seleções de base do Brasil. Rafael Carioca, não muito utilizado pelo técnico Valeri Karpin, e Rômulo - inclusive titular na campanha do vice-olímpico em 2012 - completam a ala brasileira do time de Moscou.

Terek Grozny: o time com maior número de brasileiros no elenco, resultando em um total de cinco jogadores. Apesar do alto número, poucos conseguiram destaque no cenário nacional. Ênfase nos volantes Adílson e Maurício, que ganharam espaço em Grêmio e Fluminense, respectivamente, antes de voar para o território russo.

Os outros três são lá muito conhecidos pelo grande público: Antonio, zagueiro que começou no futebol carioca mas se mandou pra Letônia. Kanu, meia, que perambulou pelo interior paulista até ser vendido ao Anderlecht, da Bélgica, sendo repassado ao Terek. E Aílton, atacante já com 28 anos, que fez carreira na Dinamarca.

Volga: o time que só foi estrear na elite em 2008 conta com um brasileiro no elenco, o lateral-direito Leandro. Não muito famoso no seu país natal, o jogador ganhou espaço atuando pela camisa do Spartak Nalchik, da segundona russa, e ficou por um período encostado no Arsenal Kyiv-UCR, até ser repassado ao atual clube.

Zenit: é só um, mas sua repercussão vale por muitos. O representante do Brasil no time de São Petersburgo é Hulk, titular da seleção brasileira com Luis Felipe Scolari, mas não muito bem quisto pela torcida local. Saiba mais sobre a situação do canhoto na equipe do norte da Rússia clicando aqui.

Fotos: Uefa/Getty Images

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Sobre o autor
Walter Paneque
Editor-chefe da VAVEL Brasil.