Existe a possibilidade de um clube deixar de ser exemplo da noite para o dia? Isso é o que teme a torcida do Southampton, após a confirmação da rescisão de contrato do chairman Nicola Cortese. O cartola italiano é veementemente idolatrado na cidade por tudo o que fez - e vinha fazendo - para a agremiação desde sua chegada, em 2009, quando a equipe se encontrava na terceira divisão. Com efeito imediato, Katharina Liebherr, filha do homem que comprou um Soton a beira da falência e faleceu no ano seguinte (2010), assume a função de diretora não-executiva.

Se os fãs desejavam algo esclarecedor sobre o futuro do clube, Mauricio Pochettino, treinador, deu um esboço sobre o que vai acontecer daqui pra frente - mas nada que coloque fim na preocupação da torcida. Na tradicional coletiva de imprensa realizada antes das partidas, os repórteres deixaram de lado as questões em relação ao compromisso frente ao Sunderland, no sábado, para saber dos planos do comandante e a pauta das quentes discussões que têm rondado o St. Mary's Stadium nas últimas semanas.

Antes mesmo da entrevista ter início, Pochettino confirmou às mídias sociais internas do clube: ''Eu continuarei como treinador do Southampton. Tenho uma responsabilidade profissional com todos dentro do clube e também com os torcedores". Então, em sua primeira declaração frente aos jornalistas, disse: ''Quero mostrar minha completa gratidão para Nicola Cortese. Ele acreditou em mim e me trouxe para o Saints. Oito meses atrás, eu estava no fim da minha primeira temporada. A situação agora é completamente diferente".

"Eu estou completamente comprometido com esses jogadores, com toda a comissão técnica, funcionários e torcedores. Não faria sentido sair no meio da trajetória". Perguntado sobre o acontecimento de conversas com Katharina, afirmou que teve pouco tempo mas recebeu total apoio para continuar. "Eu falei [com Liebherr] por cinco minutos antes da conferência de imprensa. Ela me transmitiu sua confiança e apoio pra mim". "Ela mostrou confiança não somente em mim, mas em todo o meu staff e em todos que estão nesse clube", prosseguiu.

Sobre sua ligação com Cortese, Mauricio disse: "Está claro que eu tenho um bom relacionamento com Nicola. Ele concordou com minha decisão de ficar". Inclusive, segundo informações de tabloides britânicos, o próprio agora ex-chairman, quando foi revelar que estava de saída, convenceu Pochettino a permanecer. "Nicola me pediu apenas uma coisa - tentar vencer no sábado. Nós somos profissionais, mas também somos humanos. É um golpe duro que sofremos, mas precisamos pensar sobre o próximo jogo".

"Obviamente eu falei com os jogadores. Eu falei para eles exatamente o que estou falando para vocês agora", disse quando questionado sobre sua reação para com os atletas. "Eu também gostaria de ressaltar que, quando Nicola me ofereceu o contrato, a única coisa que ele me disse foi para ser 100% profissional. Eu tenho um contrato e uma responsabilidade com o Southampton FC".

Indagado sobre os planos posteriores e uma possível mudança no projeto de longo prazo que vinha sendo realizado - e já dava seus frutos -, o treinador falou: "A presidente quer que o clube tenha uma estabilidade e não seja afetado com todos esses ocorridos. Quero deixar algo claro - ninguém está a venda no Southampton. Ninguém". Repórteres insistiram no assunto e ainda perguntaram sobre a situação de um dos jogadores mais promissores e atraídos pelos grandes clubes, Luke Shaw. "Meu ponto de vista não mudou de uma semana para outra. Nenhum jogador que eu não queira que saia vai nos deixar. O jogo no sábado é muito importante para o clube e para a torcida. Temos que focar nisso agora".

Entretanto, mesmo após algumas resoluções, o mistério e preocupação continua na cabeça da torcida. Um dos fatos que deixou um ponto de interrogação foi o de que Pochettino, em algum momento, mencionou se vai continuar no clube apenas até o final desta temporada ou renovará seu vínculo. O Southampton, após más administrações durante a década passada, parecia ter encontrado um rumo sob a batuta de Cortese e a menor influência de Katharina - cuja muitos dizem não ter interesse no futebol, inclusive tendo o desejo de vender a agremiação brevemente.

Com novos ares - e funcionários - toda uma filosofia inovadora foi construída e o futuro parecia brilhante. Construção de um centro de treinamento 5 estrelas, demais melhorias nas instalações, estilo de jogo ofensivo e o foco em desenvolver e dar chance para atletas locais são alguns dos pontos presentes na cartilha de princípios do Southampton - basta saber se vão continuar ou serão apagados. Todo um projeto que vinha se tornando destaque no país - e até mesmo internacionalmente - pode ter um fim longe dos mais felizes.