Há 7 anos, Francis estava em uma sala de aula, na França, quando seu telefone tocou. Ele não pôde atender, mas ao sair e ouvir o recado que haviam lhe deixado, mal pôde acreditar: era Arsene Wenger dizendo que gostou muito do que viu enquanto ele esteve em um período de testes no Arsenal e que queria contratá-lo.

“Na França, todos reconhecem a voz dele [de Wenger] pois ele comenta os jogos da seleção, então fiz meu amigo ouvir a mensagem e ele disse 'Sim, é o Wenger! Muito louco!' Foi uma coisa estranha.” revelou Coquelin à revista Arsenal Magazine. “Todo mundo veio e ouviu, cada um de uma vez e a mensagem provavelmente foi tocada cerca de 30 vezes!”

Coquelin deixou sua família na França e foi para a Inglaterra em definitivo. Durante o período de testes, ele já havia treinado com o primeiro time: “Eu me lembro de ver dois jogadores brigando no treino e além disso eu tive uma discussão com Jens Lehmann. E eu pensava 'Wow, onde eu estou?'” conta Coq. Mas as dificuldades de verdade vieram quando ele se mudou de vez para Londres:

“Foi uma decisão difícil pois tive de deixar minha família. Foi muito difícil no começo. Quando você é jovem, está num quarto de hotel, sem nada para fazer, sem ver os seus amigos, sem falar o idioma [local], comendo uma comida diferente... é difícil.”

Após a adaptação, Coquelin fez parte do Arsenal campeão da FA Youth Cup em 2009. Além dele, só Wilshere permanece no elenco atual. Jovens promessas como Lansbury (atualmente no Nottingham Forest) e Özyakup (atualmente no Beşiktaş e na seleção turca) não conseguiram se firmar no primeiro time. Ao final da temporada 09/10, em que Coquelin jogou regularmente pelos reservas do Arsenal, o volante estava no elenco da França campeã europeia sub-19.

Foi aí que os caminhos de Wilshere e Coquelin tomaram rumos distintos. Wilshere rompeu no time de cima como titular na temporada 2010/11, jogando em um meio-campo ao lado de Song e Fabregas num time que bateu o Barcelona, que viria a ser campeão europeu (e teria conquistado o título invicto, não fosse essa derrota para o Arsenal). Francis voltou para seu país natal e jogou pelo Lorient.

Na temporada seguinte, Coquelin teve a oportunidade de estrear no time principal do Arsenal – na pior hora e local possível: o dia em que um remendado Arsenal tomou 8 a 2 do Manchester United, em Old Trafford. Continuou no Arsenal em 2012/13 sendo utilizado raramente e praticamente esquecido. Ao final da temporada, foi para o Freiburg, da Alemanha, onde passou a temporada. Voltou para o começo da temporada 2014/15 com apenas um ano de contrato restante e conta que chegou a cogitar uma transferência:

“Ir embora passou pela minha mente na janela de transferências do últlimo ano, mas eu não queria apenas sair por sair – se eu estivesse indo eu queria que fosse uma coisa boa e não veio nada.” conta Le Coq. “Depois disso, eu estava realmente focado no Arsenal mas eu sabia que eu estava lá embaixo na 'ordem de hierarquia' então foquei em trabalhar muito duro mesmo se eu não estivesse sendo selecionado no elenco para os jogos.

“Eu tive algumas conversas com o boss [Wenger] e ele estava feliz com a maneira com a qual eu estava treinando. Depois de três ou quatro meses, eu disse que gostaria de ser emprestado e ele disse que era uma boa ideia e assim eu fui pro Charlton.”

No Charlton, Coquelin voltou a jogar regularmente e logo era unanimidade no time que disputa a Championship.

“Antes de voltar [para o Arsenal] foi provavelmente o melhor momento que eu tive em um ano e meio, pois eu tive uma experiência muito difícil na Alemanha e no Charlton eles me devolveram o 'gosto' pelo futebol.” diz ele. “Eu realmente me sentia querido lá e o técnico do Charlton realmente gostava de mim.

“Eu podia ver que meus companheiros de equipe realmente confiavam em mim apesar do pouco período de tempo, então foi um ótimo sentimento estar de volta” completou.

E foi aí que Coquelin recebeu o segundo telefonema que mudaria o rumo da sua vida e carreira. Mikel Arteta precisou de uma operação no tornozelo em Dezembro e Flamini estava sendo subjugado pelos meias adversários.

“Foi então que Dick Law me ligou pra me trazer de volta para o Arsenal. Foi realmente esquisito pois uma semana antes nós [o Arsenal] já estavávamos com lesões e meu contrato com o Charlton estava terminando, mas o Arsenal tinha me dado sinal verde para estender o acordo.

“Eu pensei, ‘Fique focado no Charlton, acabou o ciclo no Arsenal,’ mas dois dias depois, eu recebi essa ligação. Isso é o futebol – você nunca sabe o que esperar.

“Depois de jogar todos os jogos e de repente voltar [para o Arsenal] e ficar no banco na mesma situação de meses atrás, foi difícil” ele adiciona.

“Mas eu falei com o boss e ele me disse para continuar trabalhando que eu iria ver, então ele me colocou para jogar contra o West Ham [em 28 de Dezembro].

O impacto de Coquelin no time do Arsenal, até então irregular e sem balanço entre defesa e ataque, foi imediato. Além de um tempo perfeito para os carrinhos, Coq trouxe a energia e vibração que faltava para o time e instantaneamente fez o nível de performance da equipe subir.

Com a alteração tática de Wenger, colocando Cazorla para jogar ao seu lado como regista, o Arsenal encontrou uma dupla que deu bases sólidas para o time que seguiu o resto da temporada sem perder quase nenhum jogo – uma sequência de 15 vitórias em 17 jogos logo após a entrada de Coquelin no time titular. O auge da dupla foi a vitória categórica sobre o Manchester City no Etihad Stadium, com atuação perfeita de ambos.

“Eu sempre acreditei nas minhas qualidades e os jogadores a minha volta ajudaram no meu desempenho, assim como eu tentei ajudar no desempenho deles” ele diz.

“Tivemos ótimos resultados fora de casa, a segunda metade da temporada foi muito boa. O espírito do time estava ótimo e eu estava aproveitando isso. Eu sempre pensei que poderia fazer coisas boas. Eu imaginava que seria desse tamanho? Talvez não, mas eu sempre tive confiança em mim mesmo.”

A coroação de um renovado Coquelin veio na final da FA Cup, onde o mesmo teve desempenho impecável e garantiu que o Aston Villa não chegasse perto de assustar a defesa dos Gunners.

“Eu sabia que era o último jogo da temporada, então no apito final eu estava pensando 'foram seis meses loucos e você acabou de vencer a FA Cup'” disse, com um sorriso.

“Você simplesmente não sabe onde está e eu vi minha família me assistindo vencer a FA Cup e esse sentimento foi incrível. Eu olho pra trás agora e foi um momento louco e estou esperançoso de que tenha mais por vir.

“Para o futuro, eu definitivamente coloco meus alvos mais baixos do que estar na Euro 2016. Todo mundo fala sobre isso, e obviamente é uma coisa enorme mas eu estou focado no Arsenal. Nós temos um ótimo elenco mas algumas pessoas ainda duvidam da gente e eu estou focado em esclarecer essas dúvidas. Eu espero que nós consigamos fazer algo especial nessa temporada.”

Por Filipe Rufino, do @Arsenal_Stuff

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Sobre o autor
Filipe Rufino, do @ArsenalStuff_BR
Nerd futebolístico e a historiador esportivo, apaixonado por discussões táticas, e estatísticas.