Ter raça, habilidade e um chute matador são requisitos muito valorizados para um atleta argentino se destacar no futebol. E no dia 9 de janeiro de 1967, nasceu em Buenos Aires um ponta-direita que tinha todas essas qualidades: Claudio Paul Caniggia, ou simplesmente Caniggia. O ex-jogador que tinha aquele marcante cabelo loiro bem longos e que fez muito sucesso no futebol europeu, completou 50 anos nesta segunda-feira (9).

Quando se fala do Cani no Brasil, logo é lembrado aquela marcante derrota para a Argentina, por 1 a 0, nas oitavas de finais da Copa do Mundo de 1990, quando Diego Maradona fez linda jogada individual, lançou Claudio Caniggia. O atacante driblou Taffarel e empurrou para o gol vazio. Mas quando se fala de Caniggia no futebol europeu, principalmente na Itália, surge uma idolatria, um carinho especial de cada torcedor dos times em que o argentino passou.

Aposentado desde 2012, atualmente Caniggia vive na Espanha, mesmo nunca ter atuado em um clube do país, na cidade de Marbella, na região da Andaluzia. O mais novo cinquentão ainda tem gás para jogar torneios de futebol de areia nas praias brasileiras e europeias. Claro que Cani não tem mais aquele arranque, velocidade e potência que o marcaram em sua carreira, mas mesmo assim, vê-lo jogar é sempre esperar muita qualidade e intimidade com a pelota.

Os anos 80 da carreira de Caniggia: River Plate e Hellas Verona

O Flecha Loira foi revelado pelo River Plate em 1985. Nos Millonarios permaneceu três temporadas, se destacando muito por sua velocidade e habilidade, rapidamente sendo considerado a nova joia do futebol argentino. Neste período, o River Plate tinha um grande time e venceu tudo o que disputou, foi peça fundamental nas conquistas do Campeonato Argentino, da Libertadores e da Copa Intercontinental, todos vencidos em 1986.

Caniggia durante sua passagem pelo River Plate | Foto: Divulgação/RiverPlate
Caniggia durante sua passagem pelo River Plate | Foto: Divulgação

Os seus 53 jogos e os oito gols marcados pelos Millonarios chamaram a atenção do futebol italiano, e o Hellas Verona, que na época vinha de uma ótima temporada, conseguiu contratar o jogador em 1988. Porém, o argentino não jogou tudo aquilo que demonstrou no River Plate, ficando apenas uma temporada no Gialloblu e terminando a Serie A na 11ª colocação.

Anos 90: Idolatria na Atalanta, ida ao Boca Juniors e as duas primeiras Copas do Mundo

Os anos 90 foram os melhores da carreira de Caniggia, principalmente na Atalanta. Após sair do Hellas Verona, acertou com a Dea, e em Bérgamo viveu sua melhor fase. Liderada pelo argentino, os Nerazzurri atingiram patamares jamais alcançados na elite do futebol italiano, suas boas atuações fizeram com que os torcedores bergamascos idolatrassem o Hijo del Vento. As três temporadas do ponta na Dea foram de estabilidade, ficando sempre na parte superior da tabela e disputando pela primeira vez na história do clube uma competição internacional, a Copa UEFA.

Cani atuou em 85 jogos e marcou 26 gols pela Atalanta | Foto: Divulgação/Atalanta
Cani atuou em 85 jogos e marcou 26 gols pela Atalanta | Foto: Divulgação

Após render muito bem na Atalanta e na seleção da Argentina, Caniggia deixou o clube em 1992, que curiosamente, quando o argentino saiu, entrou em queda livre e foi inclusive rebaixado. O destino de Cani foi a Roma, para alcançar patamares maiores na carreira, mas o ponta direita teve uma passagem discreta nas duas temporadas pelo clube da capital, saindo sem deixar saudades nos Giallorrossi, onde marcou apenas quatro gols em 15 partidas.

Em 1994, ao desapontar na Roma, Caniggia saiu do futebol italiano e rumou ao futebol português para defender o Benfica. O argentino recuperou o bom futebol e na única temporada em que ficou no Glorioso, terminou na terceira posição no Campeonato Português daquela temporada. Suas atuações chamaram a atenção do Boca Juniors, e mesmo sendo revelado pelo River Plate, aceitou jogar no maior rival, ocasionando a ira dos torcedores Millonarios.

Naquela época, em 1995, o Boca havia acabado de repatriar Diego Maradona, que já estava no fim de carreira, e seu elenco ainda tinha os jovens promissores Juan Verón, Kily González, Román Riquelme e Rodolfo Arruabarrena. Apesar de não ter conquistado títulos pelos Xeneizes, a passagem de Caniggia foi muito boa, marcando 32 gols nas quatro temporadas em que permaneceu no La Bombonera. O episódio mais lembrado de Caniggia no Boca Juniors não foi uma jogada espetacular ou um gol, mas sim um beijo na boca de Maradona, em 1996, nas comemorações após Cani ter marcado o gol da vitória de sua equipe contra o Lanús.

Caniggia beija Maradona após marcar o gol da vitória do Boca diante do Lanús, em 1996 | Foto: Getty Images
Caniggia beija Maradona após marcar o gol da vitória do Boca diante do Lanús, em 1996 | Foto: Getty Images

Início dos anos 2000 e duas aposentadorias

Após a passagem no Boca Juniors, Caniggia retornou a Atalanta na temporada 1999/00 para disputar a Serie B, mas passou longe de ser aquele Caniggia da primeira passagem. O argentino realizou apenas 17 partidas e marcou um gol, pelo menos o objetivo de retornar para a Serie A foi um sucesso, com a equipe ficando no quarto lugar do torneio.

Na temporada 2000/01, aos 34 anos se transferiu ao futebol escocês, onde jogou com uma legião de atletas italianos e argentinos no Dundee FC. Depois foi para o Rangers, também da Escócia, onde ficou duas temporadas, marcando 12 gols em 48 jogos. Conquistou um Campeonato Escocês, duas Copas da Liga Escocesa e outras duas Copas da Escócia, todos pela equipe de Glasgow.

Encerrou a carreira pela primeira vez aos 37 anos, na temporada 2003/04, atuando pelo Qatar SC, onde conquistou inclusive uma Prince Cup. Em 2012, aos 45 anos, voltou à ativa para jogar a fase preliminar da Copa da Inglaterra pelo Wembley FC, clube da nona divisão da Inglaterra. O argentino atuou junto com outros veteranos que se uniram ao mesmo propósito, como Le Saux, Martin Keown, Ray Parlour, David Seaman, Danny Dichio, Brian McBride e Jaime Moreno. Foram somente dois jogos, a equipe do Wembley perdeu por 3 a 2 ao Langford, tendo Caniggia marcado um dos gols de sua equipe e sido eleito o destaque da partida, mesmo aos 45 anos.

Seleção da Argentina, três Copas do Mundo, decepções, polêmicas e títulos

Uma Copa América de 1991 e a Copa das Confederações de 1992, a passagem de Caniggia pela seleção da Argentina foi marcada por títulos e decepções. A alviceleste vinha com uma grande geração nos anos 90 e começo de 2000, era sempre colocada entre as favoritas nos mundiais, mas bateu na trave em todas.

A primeira Copa do Mundo disputada por Caniggia foi em 1990, aquela que marcou os brasileiros. A campanha da Argentina na primeira fase foi uma vitória, um empate e uma derrota, ficando entre os melhores terceiros colocados da fase de grupos. Como foi a pior colocada, teve que enfrentar a grande sensação do torneio: o Brasil, que tinha Careca, Müller, Dunga e outras estrelas. Em um jogo que a seleção brasileira jogou melhor, o goleiro Sergio Goycochea salvou os hermanos, mas aos 34 minutos do segundo tempo, em raro lance de ataque da Argentina, Claudio Caniggia foi lançado por Diego Maradona após linda jogada individual, Cani ficou cara a cara com Taffarel, driblou o goleiro brasileiro e empurrou para as redes, liquidando aquela ótima seleção brasileira.

A Argentina passou das quartas de finais e semifinais nos pênaltis, ante a Iugoslávia e Itália respectivamente, graças ao goleiro Goycochea. Em contrapartida, a seleção da Alemanha derrotou os hermanos por 1 a 0 na grande final.

Na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, a Argentina chegou como favorita, principalmente por ter Gabriel Batistuta, Maradona e Caniggia em seu ataque, mas novamente não foi tão bem na fase de grupos, conseguindo avançar graças a Diego Maradona, que posteriormente seria excluído da competição por não ter passado no exame antidoping. Sem seu astro, a seleção argentina caiu nas oitavas de finais para a Romênia de Gheorghe Hagi.

Em 1998, Caniggia foi deixado de lado por Daniel Passarella na convocação para a Copa do Mundo na França. O motivo da exclusão de Cani do mundial foi por conta de seus cabelos. O até então técnico da Argentina não queria que nenhum de seus jogadores tivessem cabelos longos, mandando todos do elenco cortarem a cabeleira, o argentino foi um dos que não aceitaram e criticou a postura de Passarella.

O último mundial de Caniggia foi o mais trágico da seleção da Argentina. Já aos 35 anos, era um dos mais veteranos de uma brilhante Argentina que foi para a Copa do Mundo de 2002 sob o comando de Marcelo Bielsa. Mas a alviceleste fez a pior campanha da sua história e foi eliminada logo na primeira fase. Caniggia não entrou em nenhum jogo e ainda foi expulso no intervalo, mesmo sendo suplente, na partida frente à Suécia, ao reclamar de uma falta não marcada em Ariel Ortega. Dessa forma terminou uma era na seleção da Argentina, Caniggia realizou 50 partidas e marcou 16 gols pela equipe nacional.