O Olimpia tem tradição, camisa pesada, títulos e poderia ter vencido até por mais que 2x0 um Atlético irreconhecível, que errou muitos passes, perdeu duas chances claras de gol e está em desvantagem considerável na luta pelo inédito e histórico título da Copa Libertadores da América. A pergunta que não quer calar é: será que ainda dá? A óbvia resposta é: sim.
 
O Atlético é melhor que o Olimpia, tanto coletivamente quanto individualmente. Marcos Rocha fará falta, é claro. O lateral-direito vive um bom momento, mas Michel - seu provável substituto - apesar da pouca experiência, é bom jogador e foi muito bem na vitória sobre o Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro. Na outra lateral, Richarlyson não faz falta, pelo contrário. O jogador não vem bem e deu muitos espaços em seu setor, principalmente nos dois jogos contra o Newell's Old Boys, na semifinal. E se defensivamente Richarlyson não está bem, ofensivamente, a fase é ainda pior. O lateral-esquerdo tem "matado" vários ataques alvinegros. Em um jogo no qual o Galo precisa de gols, nada melhor que a entrada de Júnior César, que é melhor ofensivamente e mais jogador que o atleta expulso contra o Olimpia.
 
O Alvinegro ainda tem o retorno de Bernard, que fez muita - muita mesmo - falta na partida disputada no Defensores del Chaco. Luan começou bem, mas se perdeu após o primeiro gol dos paraguaios. Falando em gol, como vacilou o ireconhecível Atlético. Diego Tardelli, único lúcido do ataque atleticano na partida, inexplicavelmente não acompanhou Silva no primeiro gol do Olimpia, enquanto a defesa do Galo abriu espaço para o bom camisa 3 finalizar. No segundo gol, a cobrança de falta não teria entrado não fosse a confusão entre Victor e Alecsandro. Se o atacante não "entrasse na frente" - a pedido do próprio arqueiro alvinegro - o camisa 1 provavelmente evitaria o tento. São erros bobos que não podem acontecer em uma final.
 
Enfim, além do retorno de Bernard, a boa notícia é que o Atlético não será irreconhecível novamente e, com certeza, entrará com tudo. O craque Ronaldinho - mordido após a péssima exibição da última quarta-feira - vai querer jogar o que sabe e conquistar o título inédito e histórico para ele próprio e o clube e a torcida que, segundo o próprio meia, "o abraçaram e levantaram". A expectativa também é que Tardelli, Jô e o resto do time jogue ao máximo, empurrados por 60 mil fanáticos torcedores.
 
O Galo vai partir para cima e o Olimpia, obviamente, deve atuar nos contra-ataques, marcando forte e tentando surpreender o adversário com jogadas em velocidade, usando de sua vantagem. A defesa atleticana, liderada pelo excelente Réver, precisará ficar atenta, principalmente com os bons meias Salgueiro e Silva. O detalhe também é que os paraguaios não devem surpreender como no primeiro jogo, e provavelmente vão jogar com a linha de cinco defensores que usaram durante quase todos os jogos da Libertadores. O desenho e expectativa para o jogo são, até certo ponto, óbvios.
 
Nota-se com tudo isso, que o Atlético tem condições de reverter a desvantagem e fazer história. O time é melhor que o do Olimpia, estará motivado como nunca e sendo empurrado por um caldeirão. Além disso, o quarteto ofensivo com grandes jogadores estará muito mordido e motivado, e tem todas as condições de fazer os gols que separam o Atlético do sonho que parecia inalcançável. Basta ter tranquilidade e não se desesperar. O que pode complicar é a obrigação. O Galo tem time para fazer até mais que três gols nos paraguaios, o problema é a obrigação de fazer três gols, fato que torna o jogo diferente.
 
Existe ainda uma coincidência histórica. Em oito oportunidades um time venceu o jogo de ida da final da Libertadores por dois gols de diferença. Das oito vezes em que isso aconteceu, em apenas uma oportunidade a desvantagem foi revertida. O fato aconteceu em 1989, e justamente com o Olimpia. O Decano bateu o histórico Atlético Nacional por 2x0 no Defensores del Chaco - mesmo resultado do jogo de ida contra o Atlético - mas no jogo de volta, os colombianos devolveram o placar e venceram nos pênaltis.
 
Por fim, o roteiro que nem o roteirista mais genial do planeta pensaria para um filme. Classificações épicas e inacreditáveis. Os atleticanos ainda não acreditam - após o azar incontável do time em outras decisões - que Victor defendeu um pênalti com o pé no último minuto. Eles também não acreditam que o jogador mais cornetado do time fez um gol salvador nos minutos finais e que após o Galo perder dois pênaltis - como na decisão do Brasileirão de 1977 contra o São Paulo - a classificação veio com Victor pegando uma penalidade máxima do craque dos adversários. O roteiro de filme mais parece um sonho, um sonho do qual os atleticanos não querem acordar, e eu acredito, de verdade, que esse sonho será realizado depois de muita espera, emoções e lembranças que ficarão marcadas para sempre na memória e coração de cada torcedor atleticano.
VAVEL Logo
Sobre o autor
Gabriel Pazini
Jornalista. Comentarista e colunista da TV O Tempo, TV Mídia Soccer, Vavel Brasil e Bundesliga Brasil. Ama futebol desde sempre.