Adepto da "escola Marcelo Bielsa" de treinadores, Jorge Sampaoli fez história no comando da Seleção Chilena e, após bom trabalho no Sevilla, chega para assumir a conturbada Seleção Argentina. Neste especial, faremos uma análise tática da equipe chilena campeã da Copa América de 2015 com o esboço que deverá entrar em campo frente ao Brasil e comentaremos as opções e motivações do treinador.

Antes de partirmos para as análises propriamente ditas, precisamos estabelecer alguns conceitos padrões no livro tático do treinador e que vão nos ajudar a entender as suas escolhas. O principal deles é a superioridade numérica que, como o nome já diz, parte da tática de ter sempre mais jogadores que o adversário nos confrontos diretos, principalmente no setor defensivo.

Outro ponto fundamental na filosofia de Sampaoli é, como o próprio treinador gosta de dizer, a qualidade na saída de bola que implica até mesmo na utilização do goleiro, saindo com os pés, que acarreta na alta posse de bola, tradicional dos esquadrões do treinador argentino.

Chile 2015: Atacante? Quem?

Arte: Hugo Alves/VAVEL.com

O Chile campeão da Copa América de 2015 trazia em sua tática uma peculiaridade, a ausência de um camisa 9 e, principalmente, a utilização de todos esses conceitos supracitados que resultou em superioridade na posse de bola em todos os confrontos, tendo em média 62%, além da maior quantidade de finalizações e do maior número de passes trocados por confronto.

A seleção acima é exatamente a mesma que entrou em campo contra a Argentina na final da competição e a analisaremos. O primeiro ponto está na zaga, ou melhor, nos três zagueiros. Do outro lado, Tata Martino escalara apenas Sérgio Aguero como atacante, então qual a necessidade da utilização de três zagueiros?

É neste momento que devemos trazer o conceito da superioridade unido à inteligência do treinador. Com Aguero sendo marcado por Díaz, Sampaoli designou Medel, seu melhor marcador, para atuar pelos lados, junto de Beausejour, encarregados de realizar a marcação e sobra respectivamente em Lionel Messi, principal jogador argentino.

Desta forma, apenas a genialidade constante de Messi poderia vencer o esquema defensivo, já que Silva também estaria empenhado na marcação, assim como Aránguiz e Vidal, marcadores natos. 

O segundo ponto está no outro extremo do campo. Para a final, Sampaoli enviou para campo Sánchez e Vargas como atacantes. No entanto, ao analisarmos as características desses jogadores, veremos que ambos são jogadores de lado e que não fazem a função de camisa 9 que, em diversos momentos, fora feita por Valdívia, o camisa 10.

A não-utilização do 9 fixo possibilita o uso constante da velocidade nas costas dos laterais e dos zagueiros, partindo da triangulação do meio campo e de tabelas articuladas, muitas vezes, com o próprio Valdívia. 

Argentina 2017: Atacante! Sim!

Arte: Hugo Alves/VAVEL.com

O primeiro esboço de time feito por Sampaoli mostrou pontos semelhantes entre as duas escalações, mas, além disso, demonstrou algumas possíveis variações e pontos a serem observados na partida desta sexta-feira, frente ao Brasil.

O esquema de três zagueiros, consagrado no Chile e constantemente utilizado no Sevilla, será mantido, apesar da já anunciada ausência de Neymar do lado contrário. A presença do craque brazuca explicaria a utilização deste esquema, como feito com Messi em 2015.

Entretanto, algo deve ser destacado: os nomes do meio campo. Se no Chile tínhamos volantes de forte poder defensivo junto com laterais utilizados nas alas, na Seleção Argentina temos a presença de Banega - um jogador de muito mais técnica e de menos poder defensivo - além da presença de Salvio e de Dí Maria, jogadores ofensivos.

Desta forma chegamos ao ponto de mais destaque, o ataque. O esquema consagrado de Sampaoli, ao menos no posicionamento de seus jogadores, aparentava seguir intacto, até notarmos a presença de Higuaín, típico camisa 9, que pode indicar uma nova variação do estilo de jogar.

Além de Higuaín enfiado no meio dos zagueiros, a presença de Messi e de Dybala vindo de trás também causarão problemas para os defensores brasileiros que, certamente, precisão de uma forte compactação entre as linhas defensivas para evitar uma possível finalização de longa distância, sem falar no potencial de infiltração dos jogadores supracitados.

Com camisa nove ou não, a Argentina entrará em campo nesta sexta-feira, às 07h05 para encarar a Seleção Brasileira na primeira partida de Sampaoli. O amistoso não contará com a presença de Neymar e servirá de experimentos para Tite e, consequentemente, para o estreante argentino.