Sempre quis escrever um texto que contasse o que foi aquele meu dia. Aquele 4 de julho de 2012. Sim, um texto. Porque a maioria das pessoas não tinha paciência para me escutar contanto toda aquela história, a não ser os meus pais.

E tudo começa por aí. Minha mãe já não queria que eu fosse ao estádio naquele dia. Ela tinha medo que, em caso de derrota, aquela confusão de 2003 pudesse se repetir. Mas, aí, meu pai me garantiu: fica tranquilo que você estará lá. A única condição imposta foi que os dois me acompanhassem até o Pacaembu. E assim foi.

A ansiedade, é claro, estava gigante. E quando eu acordei naquela quarta-feira, supersticioso que sou, fiz o mesmo ritual de sempre. Escutava as narrações dos jogos importantes da campanha do pentacampeonato brasileiro no ano anterior. O gol do Adriano contra o Galo, o gol do "Cachito" Ramirez contra o Ceará, o histórico 5 a 0 contra o São Paulo... Tinha dado certo até ali e eu não haveria de mudar. 

No caminho de casa até lá, eu fui calado. Não conseguia pensar em nada. Só queria que aquela angústia acabasse logo para poder soltar o grito de campeão. Sim, eu acreditava no título e o dava como certo. Afinal, depois daquele gol do Romarinho em La Bombonera, nada nem ninguém iria tirar esse título do Corinthians. Isso sem contar aquela cabeçada do Viatri na trave, que depois o Cvitanic não aproveitou o rebote. Até hoje eu não acredito que aquele gol não saiu. Simplesmente era pra ser.

As ruas no entorno do Pacaembu já estavam fechadas, cheias de policiais e a torcida. E eu só ouvia meu pai dizendo que nunca tinha visto o estádio daquele jeito em toda a vida dele. Eram muitas bombas também e muita gente fora do estádio sem ingresso e louca pra entrar, claro. Cada pessoa que passava pela catraca comemorava como se fosse um gol. E eu fiz o mesmo, afinal, estaria presenciando a história sendo escrita diante dos meus olhos. O título mais importante do meu time do coração e eu estava lá!

Até o momento em que me despedi dos meus pais e entrei no Pacaembu consegui disfarçar todo o meu nervosismo. Mas quando encontrei meu lugar e parei por 5 minutos. Até quem estava ao meu lado me ofereceu uma água para que eu me acalmasse. E ainda faltavam pouco menos de 3 horas para o jogo começar. E a hora não passava.

Do jogo em si, me recordo de pouca coisa, além dos gols. A confusão do Sheik com o Caruzo é uma delas. E do meu habitual nervosismo.

O primeiro tempo acabou e o gol não saía. Por sorte saiu logo no início do segundo. E eu não vi o lance todo. Como em todas as faltas, eu olhava para o céu, procurando algum tipo de ajuda. A hora que voltei meu olhar para o campo, o Sheik já estava matando a bola no peito pra fazer o primeiro gol do título. A explosão foi total. Eu não estava acreditando ainda, mas estava começando a ver a taça uns passos a frente.

Do jeito que a coisa estava indo e o time jogando, era claro que o segundo gol era questão de tempo. Foi aí que o Schiavi decidiu consumar o que era certo. E esse eu vi o lance todo. O passe errado, o Sheik esticando a perna e correndo pra acabar com o campeonato. Saiu o segundo gol e eu tive certeza que tanto eu, quanto meu time, éramos campeões da Libertadores.

Depois veio a festa. Todo aquele nervosismo de antes do jogo havia sido substituído por plena felicidade. O título que faltava, veio. E de forma invicta. Não havia nada melhor. Só a camisa que eu usei naquele dia, inexplicavelmente, sumiu. Provavelmente, está escondida em algum lugar. Espero que ela apareça logo para me acompanhar no bicampeonato.