O maior espetáculo da Terra está perto do começo. Menos de seis meses do início da Copa do Mundo Rússia 2018, a VAVEL te prepara com todas as informações das histórias dos Mundiais, e nada melhor do que voltar 83 anos no tempo, onde o mundo ainda vivia as tensões políticas que culminariam na Segunda Guerra Mundial e o futebol ainda engatinhava em todos os aspectos.
1934. Depois do sucesso da primeira edição da Copa do Mundo, no Uruguai, as equipes voltaram a se reunir em um país-sede afim de saber qual a nação mais poderosa no esporte que começava a dominar o planeta.
A Itália foi o país escolhido após muita discussão política na já existente e polêmica Fifa. Diferente de quatro anos antes, o Mundial foi organizado com países classificados e não convidados. Até por isso, e divergências políticas, o atual campeão Uruguai foi ausente na competição.
Regras muito diferentes
O Mundial de 34 foi pioneiro em vários aspectos. A começar pela forma de classificação. 34 países se candidataram ao torneio, mas apenas 16 entraram. O Uruguai, campeão em 30, ficou de fora e é até hoje o único país campeão anterior a não participar de uma Copa seguinte.
Outro país expressivo que ficou de fora foi a Inglaterra. Numa represália à Fifa, preferiu não disputar, preferindo dar atenção aos torneios e futebol local. Já a Itália, mesmo sede do evento, teve de se classificar, também sendo a única nação-sede que precisou de uma eliminatória antes dos jogos.
Dos 16 países, três foram da América do Sul. Brasil e Argentina entraram sem precisar de um jogo classificatório. Entre África e Ásia, apenas um país (Egito) e as outras 12 equipes foram europeias.
No final, os participantes foram Itália, Brasil, Argentina, EUA, Egito, Alemanha, Espanha, Holanda, Hungria, Tchecoslováquia, Suécia, Áustria, Romênia e Suíça.
Sem fase de grupos, o Mundial já começou diretamente nas oitavas-de-final e é a única onde os oito melhores foram todos europeus. O cenário era bem diferente do conhecido atualmente.
Itália, o início da potência
Sediando e já com sinais do gigantismo no futebol, a Itália utilizou a força de sua torcida, o exagerado nacionalismo político com o fervente fascismo de Benito Mussolini e o ídolo eterno Giuseppe Meazza para conquistar seu primeiro título.
Sim, Giuseppe Meazza é o personagem que dá nome ao templo do futebol San Siro, casa de Inter e Milan. E também foi o principal nome da competição, regendo o meio-campo italiano ao título.
Com uma campanha de quatro vitórias, um empate (o empate levava o duelo ao jogo-extra no dia seguinte), com 12 gols feitos e apenas três sofridos, a Itália sobrou e venceu a Copa após bater a então Tchecoslováquia por 2 a 1 na prorrogação.
Meazza foi eleito o melhor jogador da competição e começava colocar de vez seu nome entre os deuses do futebol.
Não foi dessa vez, Brasil
Mesmo sendo o único país a participar de todas as Copas, a Seleção coleciona alguns fracassos. Em 1934, o Brasil repetiu o fiasco de quatro anos antes.
Em 1930, uma briga entre cariocas e paulistas dividiu o time nacional. Só que dessa vez a briga foi entre profissionais e amadores. A CBD (Confederação Brasileira de Desportos) condenava o profissionalismo e deixou de convocar vários bons nomes e nem Leônidas, o mais conhecido naquele time, deu conta.
Foi apenas um jogo. Logo nas oitavas, diante da forte equipe espanhola, o Brasil sofreu e não se encontrou técnica e fisicamente. Uma viagem de 15 dias de navio fez jogadores perderem condição física e entrarem com apenas um treinamento em solo italiano.
Sem nenhum jogo de preparação, com nove atletas do Botafogo e mais um vexame na conta o Brasil logo deu adeus ao Mundial após a derrota por 3 a 1. Leônidas marcou para a Seleção, enquanto Iraragorri e Lángara marcaram para os espanhóis.
As sedes italianas
Mesmo mais de 80 anos depois, muitos dos locais que sediaram o Mundial de 34 seguem em pé. Foram oito cidades ao total espalhadas pelo território italiano: Bolonha, Nápoles, Milão, Roma, Florença, Gênova, Turim e Trieste.
Há várias curiosidades. Em Milão, o San Siro foi palco das partidas e segue até hoje vivíssimo. Em Bolonha, o Stadio Littoriale foi rebatizado para Renato Dall'Ara e é casa do Bologna FC 1909.
Em Nápoles, o Stadio Giorgio Ascarelli foi erguido para a Copa e cabia 20 mil pessoas, mas não resistiu aos eventos da 2ª Guerra Mundial e acabou demolido no conflito.
Em Florença, o Stadio Giovanni Berta virou o tradicional Artemio Franchi, casa da gigante Fiorentina e levava o nome de um mártir fascista.
Em Gênova, o Stadio Luigi Ferraris foi erguido com o nome do capitão italiano e herói de guerra. Atualmente é casa do Genoa e Sampdoria e foi reformulado para a Copa de 90.
Em Turim, a sede com mais mudanças. Construído para o Mundial de 34, o Stadio Benito Mussolini recebeu o nome do ditador fascista, mudando para Stadio Comunale após a 2ª Grande Guerra. Até 1990 era casa dos grandes Torino e Juventus, quando o Dele Alpi foi construído. Sofreu muitas mudanças estruturais após as Olimpíadas de Inverno 2006, reformado e renomeado para Estádio Grande Torino, em homenagem ao grande time da cidade, vitimado por um desastre aéreo.
Em Trieste, a menor sede. O Stadio Littorio só recebia 8 mil pessoas e logo foi demolido, recebendo apenas um jogo na Copa.
Mas foi em Roma que a final se decidiu. O polêmico Stadio Nazionale del Partito Nazionale Fascista foi casa de vários jogos da Copa e da grande decisão. Após o Mundial recebeu os rivais Lazio e Roma, até ser demolido em 1953 dando lugar ao Estádio Flamínio. Atualmente sedia partidas de rugby.
Artilheiro
Oldřich Nejedlý, da Tchecoslováquia, foi o artilheiro do segundo mundial realizado. Com cinco gols, ajudou seu país a ser vice-campeão, perdendo apenas para a anfitriã Itália. Foi uma das grandes estrelas do futebol nos anos 30 e atuou também na Copa de 38.
Seu clube foi o Sparta Praga, onde anotou 161 vezes em 187 partidas. Faleceu em 1990.
A surpresa
Mesmo cabeça-de-chave, a Áustria surpreendeu e terminou a competição como 4ª colocada, mandando pra casa a forte seleção da Hungria.
Johann Horvath foi o grande destaque individual, fechando o torneio como artilheiro da equipe com dois gols.
Decepção
Antes forte no futebol, a Hungria era grande esperança de bom futebol. A vitória tranquila contra o Egito por 4 a 2 aumentou as expectativas, mas foi surpreendida contra a Áustria, nas quartas-de-final, perdendo por 2 a 1.
Chave do torneio
Oitavas-de-final
Itália 7 x 1 EUA
Espanha 3 x 1 Brasil
Áustria 3 x 2 França
Hungria 4 x 2 Egito
Tchecoslováquia 2 x 1 Romênia
Suíça 3 x 2 Holanda
Alemanha 5 x 2 Bélgica
Suécia 3 x 2 Argentina
Quartas-de-final
Itália 2 x 1 Espanha
Áustria 2 x 1 Hungria
Tchecoslováquia 3 x 2 Suíça
Alemanha 2 x 1 Suécia
Semifinais
Itália 1 x 0 Áustria
Tchecoslováquia 3 x 1 Alemanha
Disputa de terceiro lugar
Áustria 2 x 3 Alemanha
Final
Itália 2 x 1 Tchecoslováquia