Ian Gouveia viveu um ano intenso em 2016. Foi pai, com a chegada de Malia em janeiro, e conseguiu a tão desejada vaga no tour dos sonhos depois de performances espetaculares na perna europeia. Com 19.450 pontos e a nona colocação no World Qualifying Series (WQS), o recifense radicado nas ondas de Florianópolis se classificou para o World Championship Tour (WCT) de 2017 e trouxe alegria ao estado nordestino, que não tinha representante na elite há dez anos.

Seu estilo ousado, o vasto arsenal de aéreos e a habilidade primorosa em ondas tubulares chamavam a atenção nas sessões, mas o surf de competição ainda não tinha encaixado. Ian chegou na Europa com 69 surfistas à sua frente no ranking do WQS. O 4º lugar em Pantín (QS6,000), o 3º em Cascais (QS10,000) e o título nos Açores (QS6,000) o levaram ao top 10. O irmão, Igor Gouveia, fez todas as contas e as chances de garimpar a vaga eram imensas. Mas o carimbo do passaporte veio num dia tenso no sagrado solo havaiano.

Ian sendo carregado por amigos após conquistar o título nas ondas lusas dos Açores/Reprodução: WSL
Ian sendo carregado por amigos após conquistar o título nas ondas lusas dos Açores/Reprodução: WSL

A situação se complicou quando Ian perdeu no Round 3 do Hawaiian Pro, o último QS do ano, e seus principais adversários continuaram vencendo as baterias. Mas as ondas de Sunset Beach trariam alegria à família Gouveia novamente. Foi nessa praia que o fabuloso Fabio Gouveia, pai de Ian, ganhou o primeiro evento de WCT de sua carreia, em 1991. Fabinho foi o primeiro brasileiro a conquistar um título mundial de surf, se sagrando campeão amador em 1988.

O paraibano e sua esposa, Elka Gouveia, radicada no bodyboard, sempre levavam sua família nos campeonatos e Ian cresceu respirando surf, mas assegura que nunca sofreu pressão em casa para seguir essa carreira. A experiência das viagens foi tão enriquecedora que ele pretende repetir a tradição levando Mayara Hanada, sua esposa, e Malia nas viagens pelo mundo.

Em Florianópolis, Mayara, Ian, Fábio com Malia no colo e Elka ao lado dos filhos Ilana e Igor Gouveia/Reprodução: HardCore
Em Florianópolis, Mayara, Ian, Fábio com Malia no colo e Elka ao lado dos filhos Ilana e Igor Gouveia/Reprodução: HardCore

Com o ticket dourado nas mãos, Ian vem trabalhando forte na recuperação de uma lesão no quadril, que o acompanha desde o ano passado. O foco é a etapa inaugural do WCT, que acontece na praia australiana de Snapper Rocks a partir do dia 14 de março. Depois desse, serão mais dez eventos ao redor do mundo em mares de condições diversas que colocarão à prova o estilo veloz, progressivo e carregado de manobras explosivas do “menino” de 24 anos.

O portal americano Surfline compara suas características com as do potiguar Italo Ferreira, eleito o rookie (calouro) do ano em 2015, meta deste ano do pernambucano. Além dos dois, o time brasileiro ainda conta com mais sete surfistas. O norte-rio-grandense Jadson André e os paulistas Filipe Toledo, Caio Ibelli, Wiggolly Dantas, Miguel Pupo e os campeões mundiais Gabriel Medina e Adriano de Souza. O segundo maior contingente do WCT, perdendo apenas para a Austrália, que possui 12 representantes.

Ian em seu habitat natural/Reprodução: Henrique Pinguim
Ian em seu habitat natural/Reprodução: Henrique Pinguim

A geração que levou o nome de tempestade brasileira ganha ares cada vez mais duradouros. A World Surf League (WSL), analisando a temporada de Ian, destacou que o apelido é impróprio. O certo seria “brazilian jetstream”, algo como correntes de ventos fortes que envolvem o planeta e provocam alterações no clima. Para eles, a tríade de majestades do surf precisa aceitar um novo membro. Hoje, o Brasil ocupa um posto confortável ao lado de Austrália, Havaí e Estados Unidos.

Enquanto o WCT não começa e Ian não veste sua lycra, que deve estampar o número 51, é possível entender o que fez a WSL questionar a ideia de tempestade. Junto com Jesse Mendes e Thiago Guimarães, competidores do WQS, Ian criou o “Eu, Tu & Tigão”. A série resgata a essência dos filmes de surf antigo, mostra muita manobra de qualidade e é garantia de altas doses de risadas. Algo como um panorama do surf brasileiro na atualidade, que não cansa de alterar os ventos mundiais.