No próximo domingo fará uma semana desde o desaparecimento de uma das maiores lendas do futebol mundial. Infelizmente, Eusébio da Silva Ferreira não poderá assistir ao clássico de domingo do Benfica frente ao Porto, que terá lugar no Estádio da Luz, a partir das 16h. Se é verdade que fisicamente o Pantera Negra não estará presente, é indiscutível que terá lugar cativo na memória dos adeptos do Benfica mas, sobretudo, de todos os apaixonados pelo desporto-rei. Como tal, é mais que merecido enaltecer o extraordinário contributo que Eusébio deu ao Sport Lisboa e Benfica, nas 33 partidas que disputou contra os dragões, ao longo dos 22 anos de carreira como profissional de futebol.

No decorrer de toda a sua carreira, o King realizou 745 partidas oficiais, com uma marca formidável de 733 golos, apenas ao alcance de jogadores emblemáticos como Di Stefano ou Pelé. De entre os 733 golos marcados, 25 deles foram conseguidos diante do FC Porto, o que torna imprescindível recordar a influência deste jogador em embates contra os eternos rivais azuis e brancos.

Uma Pantera que massacrou o dragão

Ao longo dos 22 anos de carreira, Eusébio disputou 15 campeonatos nacionais e venceu 11. Após abandonar o clube, as águias venceram apenas 11 campeonatos em 38 anos, o que acentua a preponderância deste atleta em toda a história do clube, sendo por muitos considerado o melhor jogador de sempre do emblema encarnado. De águia ao peito, Eusébio entrou em campo 33 vezes para defrontar o FC Porto e fez o gosto ao pé por 25 vezes. Nos 33 jogos disputados, Eusébio participou em 15 vitórias, 10 empates e apenas 8 derrotas contra os dragões e, de entre os 25 golos marcados, 17 foram concretizados ao mesmo guardião, Américo Ferreira Lopes que era o alvo principal do Pantera Negra. Este jogador foi mesmo apelidado de guarda-redes suicida, tal foi a quantidade de golos sofrida e por ter sido o dono das redes do Porto durante os 19 anos em que os dragões não venceram qualquer campeonato.

Nos históricos embates entre águias e dragões, para além de Eusébio o Benfica contava com uma equipa recheada de estrelas, entre as quais Mário Coluna, José Augusto, António Simões e José Torres.

Decorria o ano de 1961 quando à 8ª jornada do campeonato Eusébio da Silva Ferreira se estreava num clássico frente ao FC Porto. Nesta partida os dragões venceram por 2-1 e o Pantera Negra ficou em branco, no entanto, começava assim uma história de 33 jogos em que Eusébio brilhou frente aos azuis e brancos. Para a mesma época, no ano de 1962, na 2ª mão dos oitavos-de-final da Taça de Portugal, o rei marcou um golo na vitória das águias por 3-1 que ditou a estreia a marcar contra os dragões. Para a mesma competição, mas desta vez na final, o Pantera Negra foi verdadeiramente decisivo para o triunfo contra os velhos rivais ao apontar 1 dos 6 tentos com que o Benfica venceu o FC Porto. Nesta partida que ficou marcada como sendo uma das finais com mais golos da história, Eusébio contribuiu com 3 assistências e várias jogadas de elevada craveira técnica que punha em evidência as qualidades de drible e de velocidade do mítico jogador.

Para a época de 1964/1965, nos 16 avos da Taça de Portugal, no conjunto das duas mãos, o King balanceou a rede por 3 vezes, com o facto curioso que, no jogo da 2ª mão, apenas ter jogado 38 minutos nos quais, mesmo assim, conseguiu marcar 1 golo e, ainda, o facto de ter sido expulso pela primeira e única vez da sua carreira.

No ano em que Portugal chegou ao 3º lugar do Campeonato Mundial de futebol, em que Eusébio foi figura principal ao marcar 9 golos, conseguiu também marcar 4 golos ao Porto e foi claramente decisivo em ambas as partidas desse ano, acentuando a hegemonia do Benfica no campeonato português, em relação aos rivais.Já perto do final da sua carreira enquanto jogador do Benfica, o Pantera Negra continuava a ser letal diante das redes azuis e brancas. Na época de 1971/1972, na abertura do campeonato que viria a ser ganho pelos encarnados, Eusébio concretizou, por duas vezes, na vitória dos encarnados por 1-3, dando mais uma alegria aos adeptos das águias.

Para fechar o historial de golos concretizados por Eusébio perante o Futebol Clube do Porto, a nível oficial, é importante recordar a extraordinária meia-final da Taça de Portugal que opôs águias e dragões, em que Eusébio entrou ao intervalo para substituir o célebre jogador Simões, tendo marcado 1 dos 3 golos da vitória dos encarnados, no ano de 1974.

Na última partida disputada frente ao rivais, a estrela encarnada despediu-se num particular realizado em Paris, no ano de 1975, com um golo marcado, na vitória das águias por 5-1. Este tento pôs fim a uma chuva de golos com que Eusébio brindou os apaixonados do futebol, nos 33 clássicos que disputou ao longo da sua gloriosa carreira.

Um jejum no pós Eusébio

Na já longa tradição de jogos entre Benfica e Porto é de salientar que, após a saída de Eusébio do emblema encarnado em 1975, o Porto desfez a maldição que durava há 19 anos, quando na época de 1977/1978 venceu o campeonato pondo fim à hegemonia encarnada. A saída de Eusébio coincidiu com a entrada de Jorge Nuno Pinto da Costa como director de futebol dos dragões em 1976 e desde aí tudo mudou. Se em 15 anos com Eusébio, o Benfica conseguiu vencer 11 campeonatos nacionais é inegável que foi após a sua saída que os encarnados venceram o mesmo número de títulos mas em 38 anos. Por seu lado, o FC Porto passou a dominar a maioria dos clássicos e, de 1977 a 2013, triunfou por 22 vezes na Liga Portuguesa. Estatísticas à parte, o carisma do Pantera Negra é indiscutível e a história dos clássicos entre Benfica e Porto ficará para sempre marcada pelo contributo do eterno rei Eusébio. E quem melhor do que o próprio King para resumir os embates com os rivais: “ Nos anos em que joguei no Benfica, o Porto nunca foi campeão” (entrevista à RTP, 2010).