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Para dar fim a fantasma, Brasil enfrenta Argentina nas oitavas da Copa do Mundo de basquete

Neste domingo (7), a seleção brasileira de basquete jogará partida eliminatória contra os hermanos pela terceira competição mundial consecutiva; nas últimas duas oportunidades, duas eliminações. As esperanças, contudo, estão renovadas, e o Brasil terá um grande trabalho se quiser, finalmente, eliminar os seus maiores rivais

Para dar fim a fantasma, Brasil enfrenta Argentina nas oitavas da Copa do Mundo de basquete
Argentina tem histórico de vitórias sobre o Brasil, de Leandrinho, em torneios mundiais (Foto: Inovafoto/CBB/Divulgação)
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Por Matheus Meyohas

O dia 7 de setembro representa, no Brasil, a comemoração da independência do país, que deixou de ser colônia de Portugal nesta data, em 1822. Para a seleção brasileira de basquete, que disputa a Copa do Mundo da FIBA, na Espanha, a data pode marcar a independência de um fantasma conhecido: a Argentina em fases decisivas de campeonatos mundiais.

Isso porque, no próximo domingo (7), Brasil e Argentina se enfrentarão em Madri às 17h (horário de Brasília) pelas oitavas-de-final do Mundial. Em disputa, além de uma óbvia vaga nas quartas-de-final e a sobrevivência na competição, a redenção da seleção brasileira, após ser eliminada consecutivamente para a Albiceleste nos últimos dois torneios mais importantes do basquete de seleções, o Mundial de 2010 e as Olimpíadas de 2012.

Luis Scola é a principal arma dos Hermanos contra o Brasil

A Argentina venceu 3 de seus 5 jogos na primeira fase da Copa do Mundo, e se classificou como terceira melhor equipe do grupo B. O time comandado por Julio Lamas derrotou Senegal, Filipinas e Porto Rico, e sucumbiu diante de Croácia e Grécia, segundo e primeiro colocados do grupo, respectivamente. Senegal ficou com a quarta vaga, enquanto Filipinas e Porto Rico foram eliminados.

O principal jogador dos hermanos é o experiente Luis Scola, e não poderia ser diferente. Conhecido no Brasil por suas impressionantes atuações contra a seleção brasileira, o ala-pivô do Indiana Pacers é o segundo maior cestinha da competição, com mais de 21 pontos por partida. Além de pegar quase 9 rebotes por partida, Scola tem uma incrível capacidade de escapar de dobras para achar companheiros livres, ou iniciar um ataque a partir de um passe que desarrume a defesa.

A ausência dele em quadra fez a Argentina parecer perdida no ataque em alguns momentos desta competição, contudo. Não será estranho se o Brasil começar a partida tentando forçar o jogo embaixo da cesta com Anderson Varejão, Splitter e Nenê, a fim de carregar o camisa número 4 com faltas e limitar seu tempo de jogo. A preocupação com o argentino aumenta se considerarmos que o garrafão brasileiro teve pouca resposta ao excelente jogo ofensivo de Pau Gasol. Na derrota brasileira para a Espanha por 82 a 63, o ala-pivô anotou 26 pontos e fez o que quis com a defesa brasileira, convertendo mais de 70% de seus arremessos de quadra.

Se Scola é uma preocupação evidente, o perímetro da Argentina pode ser um fator surpreendentemente decisivo no duelo. Pablo Prigioni e Facundo Campazzo formam uma dupla de armadores muito habilidosos, somando quase 18 pontos e 10 assistências por jogo. Contra uma equipe com claras deficiências em marcar os armadores adversários, os dois podem desequilibrar o confronto, principalmente se Campazzo melhorar seu aproveitamento da linha de 3 pontos (tem acertado apenas 27% de seus chutes até aqui).

Os arremessos de 3, aliás, são um expediente muito utilizado pelos argentinos. São mais de 27 chutes deste tipo por jogo, contra apenas 16 do Brasil. Em outros números, quase 38% de toda a pontuação da albiceleste vem de tiros de 3 pontos, enquanto os brasileiros contam com menos de 25% de seus pontos desta região da quadra.

Completando a escalação titular, Andrés Nocioni e Walter Hermann trazem muita força física e versatilidade às alas. Nocioni, que já teve passagens relevantes pela NBA, faz de tudo um pouco dentro de quadra, e é um dos pilares defensivos do time, que toma aproximadamente 74 pontos por partida. Já Hermann é parte importante do ataque, tendo bom aproveitamento tanto nos chutes de fora quanto de dentro da linha de 3 (50 e 54%, respectivamente). Os dois alas anotam quase 10 pontos cada por jogo, e dividem a segunda melhor marca de pontuação na equipe.

Do banco, Nicolas Laprovittola, Selem Safar, Marcos Mata e Léo Gutierrez trazem um eficaz arsenal de tiros de longe e participam de algumas variações táticas planejadas pelo técnico Lamas. Somados, os quatro jogadores têm média de mais de 40% de conversão dos chutes de 3, e conseguem dar uma alternativa ao ataque argentino, principalmente quando Scola não está em quadra.

O vídeo com os melhores momentos do duelo contra Porto Rico resume bem o ataque argentino. Muita inteligência e habilidade de Prigioni e Campazzo, pontaria do perímetro, infiltrações dos alas e participações essenciais de Scola, mesmo quando a bola não passa pelas suas mãos.

Com um time baixo, mas muito ágil e técnico, a Argentina conta com Scola para segurar o Brasil no garrafão. Se os hermanos não conseguirem fazer da área pintada um caminho seguro, poderão tentar emplacar no jogo com os chutes de fora, modo como o time virou contra Filipinas, por exemplo. Armas não faltam para a Argentina tentar eliminar o Brasil outra vez, mas os brasileiros nunca pareceram tão preparados para exorcizar esse fantasma.

Sem protagonistas, força coletiva é o diferencial da Seleção Brasileira

Com uma das melhores defesas da competição, os comandados de Ruben Magnano concederam pouco menos que 67 pontos por jogo no grupo A, tratado por muitos como o mais difícil de toda a competição. O Brasil terminou a primeira fase como a segunda melhor equipe do grupo, perdendo apenas para a Espanha, e vencendo França, Sérvia, Egito e Irã.

Diferente da Argentina, o Brasil não tem um jogador que carregue a equipe por todo o jogo. Magnano gosta de utilizar quase todo o elenco ao longo da partida e faz bom uso de cada um, de acordo com suas características. Prova disso é que seu jogador que mais atua, Leandro Barbosa, fica por volta de 23 minutos em quadra a cada partida. Ele é também o cestinha da equipe, com quase 14 pontos por jogo (único jogador brasileiro com mais de 10 pontos de média). Curiosamente, Leandrinho só foi titular em dois jogos do Brasil na competição, contra Espanha e Sérvia.

Não é nenhuma novidade que o ponto mais forte da seleção brasileira seja o seu garrafão. São 23 pontos e 18 rebotes por jogo, aproximadamente, dos seus três principais jogadores na posição. Os grandalhões são muito usados pelo armador Marcelinho Huertas nos "pick and rolls" e têm potencial para carregar todo um ataque. A habilidade de Huertas com a bola na mão faz do armador uma peça-chave no sistema ofensivo brasileiro, podendo tanto arremessar quanto explorar os pivôs.

Mas se Splitter, Nenê e Varejão planejam ser realmente efetivos contra a Argentina, é necessário que eles comecem a converter lances livres no Mundial. Com o Brasil acertando apenas 61% de seus arremessos da linha, os adversários sentem-se confortáveis em fazer falta nos jogadores brasileiros, trocando uma cesta por dois lances livres. A situação se agrava quando chega à area pintada. Esses três jogadores só têm acertado 52% dos arremessos livres. Se os comandados de Magnano conseguirem convertê-los, a Argentina será obrigada a diminuir a agressividade de sua marcação no garrafão, e, com jogadores mais baixos e leves, pode sofrer na mão dos pivôs brasileiros.

Outro problema do Brasil é a marcação no perímetro. Marcelinho Huertas e Raulzinho, os dois armadores da seleção, passam longe de ser marcadores confiáveis dentro de quadra. Ainda que sejam armadores muito técnicos e criativos, não têm a agilidade necessária nos movimentos laterais e são facilmente envolvidos ao marcar pick and rolls. Eles precisarão de uma participação efetiva de jogadores como Larry Taylor, Alex Garcia e Leandrinho para diminuir o impacto de Campazzo e Prigioni. É também necessário estar atento para os desperdícios de ataque de cada equipe. Quando o Brasil consegue forçar erros ofensivos dos adversários, costuma sair em velocidade e conquistar pontos com facilidade do outro lado, como fizeram Barbosa e Raulzinho no lance abaixo:

Mas a maior preocupação da torcida brasileira são os constantes ‘apagões’ que a equipe sofre durante jogos, geralmente no terceiro quarto, estragando grandes vantagens construídas ao longo do primeiro tempo, ou ainda no começo do jogo, permitindo que o adversário consiga uma boa liderança no início. Foi assim que o Brasil permitiu que Eslovênia, Lituânia e Sérvia empatassem e eventualmente virassem o jogo após liderar por 19, 17 e 16 pontos, respectivamente. Os dois primeiros duelos foram pelos amistosos preparatórios para a competição, enquanto o apagão contra a Sérvia se deu em Granada, pela Copa do Mundo. O Brasil ainda conseguiu vencer nas últimas duas ocasiões, mas, num duelo tão equilibrado, um novo apagão pode decidir tudo.

São minutos de uma defesa confusa e frouxa e, principalmente, um ataque estagnado, o que escancara um defeito desse time brasileiro: não há no elenco um jogador estabelecido como o cara para assumir o ataque em momentos como esse, o famoso “go-to guy”. Nesses momentos de colapso de um time, que acontecem com quase todas as equipes do planeta, é muito importante ter um jogador para quem dar a bola. Se a Argentina passar por problemas ofensivos durante a partida, por exemplo, eles recorrerão a duas jogadas e dois jogadores mais seguros: o post-up (jogo de pivô de costas pra cesta) de Luis Scola ou o pick and roll de Pablo Prigioni. O time vai recuperando o ritmo ofensivo à medida que esses jogadores pontuam, e logo a pane é solucionada.

Leandrinho é o maior pontuador do time e é um dos poucos desse elenco que consegue criar seu próprio chute, isto é, se colocar em uma boa posição para pontuar sozinho. Há, contudo, uma resistência à capacidade (ou falta de) do jogador em tomar as decisões certas. Por isso, no duelo contra a Sérvia, surgiu um candidato a ocupar a função de “go-to guy”: Marquinhos.

O ala, bicampeão do NBB com o Flamengo, foi importante para trazer o Brasil de volta para o jogo contra a Sérvia, vencida por 81 a 73. Ele marcou 8 pontos seguidos e virou a partida no começo do último quarto, quando o Brasil perdia por 67 a 60. Não se sabe como o Brasil lidaria com um novo apagão, mas é fundamental que exista um jogador disposto a botar a bola debaixo do braço e recuperar a confiança da equipe quando necessário, sabendo, é claro, evitar abusos de individualidade.

Brasil e Argentina certamente farão um duelo muito equilibrado. Faltas de um mesmo jogador, melhor aproveitamento na linha de lance livre, atenção na marcação, melhor leitura do jogo de dentro da quadra, qualquer detalhe poderá ser o fiel da balança que definirá o vencedor do confronto. Se conseguir impor uma defesa forte e errar o mínimo no ataque, o Brasil tem todas as condições de vencer e mandar seu arquirrival para casa mais cedo, se enchendo de confiança para o resto do Mundial.

Líderes das equipes

Brasil (4 vitórias e 1 derrota)

Pontos: Leandrinho - 13,6 por jogo

Rebotes: Anderson Varejão - 7,6 por jogo

Assistências: Marcelinho Huertas - 3,6 por jogo

Argentina (3 vitórias e 2 derrotas)

Pontos: Luis Scola - 21,6 por jogo

Rebotes: Luis Scola - 8,8 por jogo

Assistências: Facundo Campazzo - 5 por jogo