Xabier Azkargorta, o treinador andarilho que ressuscitou o Bolívar

Experiente técnico fez o Bolívar renascer nessa Copa Libertadores e vai fazendo história com o principal clube da Bolívia

Xabier Azkargorta, o treinador andarilho que ressuscitou o Bolívar
Xabier Azkargorta conta um currículo vasto (Foto: Divulgação/Bolívar)
leonardo-bandeira
Por Leonardo Bandeira

O experiente Xabier Azkargorta deixou a Seleção Boliviana para assumir um Bolívar, clube mais bem-sucedido da Bolívia, em péssima fase. No início de Março desse ano, o treinador encontrou uma equipe na antepenúltima colocação do Clausura boliviano e lanterna em seu grupo na Copa Libertadores, após derrota para o Emelec e empate com o León.

Logo na sua estreia, já conquistou um resultado surpreendente e deu uma prévia do que estava por vir. Substituindo Vladimir Soria às vésperas do confronto diante o Flamengo, no Rio de Janeiro, o clube comandado por Azkargorta foi buscar o empate em 2 a 2 nos minutos finais, após estar perdendo por 2 a 0. Nas três rodadas finais da fase de grupos, três vitórias diante Flamengo e Emelec, em casa, e León, no México. Além de conseguir classificar o clube para o mata-mata, eliminou León e Lanús nas oitavas e quartas de final, respectivamente.

As históricas campanhas de Azkargorta não são um acaso, todavia. O ex-atacante é experiente no meio do futebol e na Bolívia. Depois de encerrar sua carreira como jogador profissional de forma precoce em 1977, com apenas 23 anos quando defendia o Athletic Bilbao (ESP), por conta de uma grave lesão no joelho direito, Azkargorta iniciou ainda cedo sua trajetória fora das quatro linhas. Debutou dirigindo equipes locais de menor expressão, como Lagun Onak, Aurrerá de Ondarroa e Gimnàstic de Tarragona.

Logo aos 29 anos, todavia, começou a bater recordes. Após assumir o Espanyol (ESP), se tornou o técnico mais jovem a dirigir uma equipe da primeira divisão da Espanha. Ainda na Espanha, terra onde encerrou sua carreira como jogador e por lá ficou, dirigiu Valladolid, Sevilla e Tenerife, sendo demitido destes dois últimos clubes.

Seu primeiro trabalho de sucesso começou em 1993, três anos após deixar o Tenerife e ficar fora do meio futebolístico neste tempo. Conquistou uma histórica classificação à Copa do Mundo com a Seleção boliviana de futebol. As eliminatórias ocorreram somente naquele ano e a Bolívia ficou em segundo lugar no Grupo B, com cinco vitórias, um empate e duas derrotas. A se destacar, naquela campanha, duas histórias goleadas sobre a Venezuela: 7 a 1 fora de casa e 7 a 0 em La Paz. Na antepenúltima rodada, uma derrota de 6 a 0 para o Brasil no Estádio do Arruda, no Recife.

Bolívia na Copa do Mundo de 1994 teve comando de Azkargorta (Foto: Shaun Botterill/Getty Images)

Azkargorta entrou para a história do futebol do país, com a vaga garantida para o Mundial de 1994 nos Estados Unidos. O presidente da Bolívia na época, Sánchez de Lozada, ofereceu ao treinador um cargo de Ministro de Estado por tamanha repercussão da classificação. A classificação para o mata-mata, em 1994, não saiu, mas deixou os bolivianos orgulhosos. Nas três partidas daquela Copa do Mundo, somou duas derrotas ante Espanha (3-1) e Alemanha (1-0), além de um empate com a Coreia do Sul (0-0).

Depois da bela campanha com a Bolívia, recebeu um convite para dirigir a Seleção Chilena de futebol profissional. Assumiu em 1995, todavia não teve o mesmo sucesso do selecionado anterior. Acabou renunciando do cargo ainda no início das Eliminatórias, em 1997, após empate em 1 a 1 com a Venezuela, seleção mais fraca da América do Sul naquele momento. Após sua saída, o Chile conquistou a classificação para a Copa do Mundo da França de 1998, na última vaga (quarto lugar), com 25 pontos, por conta do saldo de gols ser superior ao da Seleção do Peru.

LEIA MAIS: Ambicioso, Xabier Azkargorza quer a final

Esteve uma temporada a frente do Yokohama Marinos, na J League 1997/1998, o campeonato japonês da primeira divisão. Depois de alguns anos sem trabalhos futebolísticos, surgiu uma nova oportunidade em um novo cargo para o técnico espanhol. A chegada de Florentino Pérez na direção do Real Madrid fez os merenguês abrirem escolas de futebol por todo o planeta. Xabier Azkargorta foi designado embaixador madridista na América, além de diretor das escolas desportivas internacionais em 2003. Dois anos depois, Azkargorta permaneceu no México, mas deixou o Real Madrid para assumir o Chivas Guadalajara. Sobre a experiência no clube merengue, ele declarou: "Foi uma experiência gigantesca e só posso agradecer esses dois anos de trabalho no Real Madrid, além da facilidade da minha saída".

A passagem no clube mais popular do México foi um fracasso, durando somente três meses. Acabou sendo demitido após um péssimo Torneo Apertura, onde conquistou somente 11 pontos dos 36 disputados. Trabalhou como diretor de futebol no Beijing Guoan F.C, da China, em 2006 e no Valência-ESP, em 2008. No último clube, acabou deixando o trabalho após um mês por conta de um desentendimento com o empresário Juan Villalonga. Em julho de 2012, na sétima rodada das eliminatórias sul-americanas, assumiu a Bolívia novamente, substituindo Gustavo Quinteros, após grande clamor popular no país. Não teve o mesmo desempenho, somando uma vitórias, cinco empates e quatro derrotas. A Bolívia finalizou o torneio em 8º lugar, somente à frente do Paraguai.

Azkargorta comandando a Bolívia em 2013 (Foto: AFP)

No Bolívar, com essa campanha histórica na Copa Libertadores, parece ter se reencontrado. Todavia, o sucesso não é um acaso. Além das experiências em vários clubes e seleções descritas acima, Azkargorta foi professor de tática e estratégia na Escola Nacional de Treinador, na Espanha. Bigotón também fala seis línguas, sem incluir o castelhano: inglês, chinês, francês, japonês, catalão e vasco. Durante suas passagens por clubes, fez parte da formação de grandes jogadores como Fernando Redondo, ao qual levou ao Tenerife-ESP, Shunsuke Nakamura, que estreou com o técnico com 18 anos, e Marco Etcheverry, estrelha boliviana na Copa do Mundo de 1994. Azkargorta renasceu assim como o Bolívar nesta Copa Libertadores 2014.