Depois da surpreendente operação que culminou na prisão de diversos executivos da Fifa na Suíça, dentre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, a Justiça dos Estados Unidos garantiu que tais prisões são apenas o começo de uma investigação mais abrangente, visando acabar com a corrupção no esporte mais popular do planeta.

Em coletiva em Nova Iorque nesta quarta-feira (27), representantes do Departamento de Justiça norte-americano e do FBI garantiram com total afirmação que o principal objetivo é "limpar de vez o futebol".

O promotor federal de Nova Iorque Kelly Currie esteve presente na coletiva e não poupou palavras para comentar o escândalo: "Esses esquemas não são novos, acontecem há mais de duas décadas e estamos aprendendo como elas funcionam. Quero deixar uma coisa clara: esse é o começo do trabalho, e não vamos parar por aqui" - falou Currie.

O promotor ainda afirmou que o FBI irá trabalhar duro a fim de atingir ao fundo esse tipo de corrupção, e tentarão limpar o futebol com todas as forças.

"Ninguém jamais será impune. Prometo que em algum momento iremos esclarecer tudo o que acontece. Diversas pessoas se envolvem nesse tipo de prática pensando que vão se dar bem, mas não será assim. Estamos buscando desmembrar os esquemas e não iremos descansar até o momento que o mundo entenda que tais esquemas não são tolerados e serão castigados com todo o rigor da lei", acrecentou James Comey, diretor do FBI.

Além das investigações criminais, a Fifa e diversos dirigentes também entrarão na lupa da Receita Federal dos Estados Unidos, que desde já está buscando propriedades privadas adquiridas dentro da jurisdição norte-americana.

"Essa é a Copa do Mundo da corrupção, e hoje a Fifa levou cartão vermelho", disparou Richard Weber, investigador da Receita. "Continuaremos trabalhando com todos os nossos melhores investigadores ao redor do mundo para limpar tudo e fazer com que joguem de acordo com as regras do jogo", completou.

De acordo com Loretta Lynch, secretária de Justiça dos Estados Unidos, a esperança é que esse seja a última vez que a entidade principal do esporte, seus diregentes e seus ex-cartolas apareçam em casos de corrupção envolvendo o futebol.

"A Fifa já vem tendo problemas durante anos. Espero que após essa investigação, seja a última vez que a gente ouça alguma coisa sobre corrupção na entidade e problemas na eleição do próximo presidente", ressaltou a secretária.

"Estamos cientes das coisas incríveis que a entidade fez pelo futebol, mas em casos de propinas, não foi assim. Nesses casos, a Fifa não jogou a favor do esporte e sim em benefício prórpio de alguns indivíduos", observou Richard Weber.

Entendendo o escândalo

Um escândalo sacode a Fifa a dois dias da eleição para a presidência. Na madrugada desta quarta-feira (27), horário de Brasília, uma operação especial de autoridades suíças lideradas pelo FBI prendeu sete importantes executivos da entidade sob a acusação de corrupção, dentre eles o ex-presidente da CBFJosé Maria Marin.

O grupo dos detidos será extraditado para os Estados Unidos a fim de uma investigação mais a fundo sobre o assunto na federação mais importante do futebol mundial.

De acordo com nota oficial do Departamento de Justiça norte-americano, 14 réus são acusados de fraude, extorsão e conspiração para lavagem de dinheiro, entre outros delitos, em um "esquema de 24 anos para enriquecer através da corrupção no futebol".

Metade deles já foram presos na Suíça. Além de Marin, Jeffrey WebbEduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel estão envolvidos. Um mandado de busca também será realizado na sede da Concacaf em Miami.

O brasileiro José Hawilla, dono da Traffic, renomada empresa de marketing esportivo, é um dos réus que se declararam culpados, assim como duas empresas de seu grupo, a Traffic Sports International Inc. and Traffic Sports USA Inc.

Em dezembro de 2014, segundo a justiça dos EUA, ele concordou em pagar mais de 151 milhões de dólares, sendo que US$ 25 mi foram pagos na ocasião. As acusações são de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução de justiça.

Além de Hawilla, também se declararam culpados o norte-americano Charles Blazer, ex-secretário-geral da Concacaf e ex-representante dos EUA no Comitê Executivo da Fifa Daryan e Daryll Warner, respectivamente, filhos do ex-presidente da Fifa Jack Warner.