Entrevista. Gabriel Paulista afirma saber a fórmula para enfrentar trio MSN: "Guardada a sete chaves"

Em 2009, jogava pelo Taboão da Serra na Copa São Paulo e, pouco tempo depois, já estava na Europa lutando por títulos internacionais

Entrevista. Gabriel Paulista afirma saber a fórmula para enfrentar trio MSN: "Guardada a sete chaves"
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Por Marcello Neves / Filipe Rufino

Gabriel Paulista, 25, um dos representantes da nova safra do futebol brasileiro. Promessa, carrega consigo a expectativa de assumir a titularidade na Seleção Brasileira em breve. Em 2009, jogava pelo Taboão da Serra na Copa São Paulo e, pouco tempo depois, já estava na Europa lutando por títulos internacionais. Mas os desejos do zagueiro não param por aí. Em entrevista exclusiva à VAVEL, o próprio afirmou: "Quero a Premier League e a Copa do Mundo"

"Desde o primeiro momento em que tive contato com o futebol, me senti realizado e que aquilo era realmente o que queria. Estou ciente das dificuldades que existem para conquistar o espaço que conquistei, porém, esta condição exige ainda mais. Ao mesmo tempo que estou em um dos grandes clubes do futebol mundial, pouca coisa ou quase nada conquistei. Quero o título da Premier League e da Copa do Mundo", afirmou.

Sobre desafios, Gabriel Paulista terá um grande pela frente. Pela fase de oitavas de final, enfrentará o todo poderoso Barcelona, atual campeão e que desponta como grande favorito para o torneio. Para o defensor, serão dois jogos onde qualquer erro mínimo pode decidir.

"Acredito que serão dois duelos emocionantes, até por que são dois clubes de imenso respeito no futebol mundial. Em um clássico, o detalhe é o fator preponderante para definir o resultado. Quem errar menos leva"

Além disso, é claro, sua posição o fará ter pela frente a missão de parar o considerado melhor ataque do mundo: Messi, Neymar e Suárez. No entanto, Gabriel respondeu com bom humor e afirmou já ter a fórmula para parar o temido trio, mas não revelou para não colocar em risco a estratégia.

"A fórmula está guardada a sete chaves! Caso eu revele ela, posso colocar em risco nossa estratégia que não será das mais fáceis", declarou.

Confira a entrevista na íntegra com Gabriel Paulista

VBR: Toda mudança de país (e liga) é difícil, e, no seu caso, a mudança foi na janela de inverno, no meio da temporada, para um país em que você não falava o idioma. Mesmo assim, você correspondeu prontamente em campo e logo caiu nas graças da torcida. Ter esse apoio facilita as coisas? E quanto à cidade e o idioma, já se adaptou?

GP: Quando cheguei ao Arsenal procurei falar o idioma universal do futebol, isso em virtude da minha adaptação ao futebol inglês. Diz o ditado que “Deus ajuda quem trabalha e cedo madruga”, e nele me apeguei e depositei toda minha confiança. A Inglaterra é um país fantástico, assim como a torcida do Arsenal, e está me ofertando grandes aprendizados, inclusive o seu idioma (risos), que vou carregar pra sempre.

VBR: Muitos jogadores, como Özil e Alexis, dizem que ao falar com Wenger, souberam que ir para o Arsenal era a escolha certa a se fazer. Você falou com o técnico diretamente antes de fechar negócio? Na sua opinião, qual o segredo de Wenger para seduzir jogadores talentosos e extrair o máximo deles?

GP: Quando soube do interesse do Arsenal fiquei muito surpreso e ao mesmo tempo muito feliz, até por que estaria muito próximo de realizar o meu sonho de jogar a Premier League. porém, quem cuidou de todo esse processo de transição do Villarreal para o Arsenal foram os meus representantes. Qual atleta que não gostaria de trabalhar com o francês? Ele está há 20 anos no comando deste clube gigante. Ele tem uma bagagem inestimável e uma qualidade fora do comum, além do apreço por trabalhar com atletas jovens.

VBR: Mertesacker é capitão e ídolo do clube mas muitos elogiaram as partidas que você fez ao lado de Koscielny, principalmente por terem estilos parecidos (jogadores 'agressivos' em linha alta e com altíssimo poder de recuperação e velocidade). É questão de tempo para você ser titular?

GP: Posso afirmar que todo e qualquer atleta que integra o elenco do Arsenal tem totais condições de começar qualquer jogo como titular. Pra mim não existe reservas. Todos são titulares, dada a qualidade e capacidade técnica dos jogadores. O trabalho é árduo e intenso, mas espero que todos nós consigamos fazer jus a história construída pelo clube.

VBR: Você chegou ao Arsenal em Janeiro de 2015, e logo em Abril, você teve que entrar em um jogo decisivo, em Wembley, teve excelente atuação e quase fez o gol da vitória. Qual foi a sensação de jogar no grande templo do futebol inglês? E qual foi a sensação de ganhar o título um mês depois, no mesmo gramado?

GP: Para grandes conquistas existem grandes desafios, e você tem de estar preparado para encará-los. Se estou defendendo um clube do porte do Arsenal é por que tenho condições suficiente para tal propósito, e isso me fez ganhar força e estímulo. Ao pisar no Wembley, que só tive a oportunidade de vê-lo pela televisão, passou um filme sobre a minha carreira. Já ter a oportunidade de ser campeão é indescritível.

VBR: O Arsenal briga pelo título na Premier League e FA Cup. Se, hipoteticamente, o clube vencer as duas competições, você faria parte de um elenco que seria o primeiro desde o século XIX a ser tri campeão da FA Cup, e o Arsenal seria o primeiro time inglês na história a conquistar quatro doubles. Você sabia desses fatos? O elenco tem noção de quão histórica pode ser essa temporada?

GP: Temos conhecimento destas possibilidades e estamos lutando em conjunto para que todos nós possamos fazer parte da história dos Gunners.

VBR: O maior jogador brasileiro da história do Arsenal, o campeão do mundo Gilberto Silva, também era um defensor. Você já notou a idolatria da torcida de Londres por ele, e sonha em deixar um legado como esse para os Gunners?

GP: Não somente o Gilberto Silva, mas todos os brasileiros que defenderam o Arsenal são bem valorizados. Vou trabalhar para que tenha o meu nome sempre lembrado pelos torcedores e no clube.

VBR: No que Wenger te auxiliou mais até agora? Qual aspecto do seu jogo mais evoluiu a partir do momento em que você passou a ser comandado pelo francês?

GP: Não tem como não evoluir trabalhando com Wenger. Desde o meu início no Taboão da Serra, passagens por Vitória (BA) e Villarreal (ESP), ganhei uma bagagem imensa, que está sendo aprimorada e qualificada com os ensinamentos dele. Atualmente me sinto fortalecido para enfrentar qualquer desafio.

VBR: Em entrevista no ano passado, Özil, ex-camisa 10 do Real Madrid, disse que a Premier League é a melhor liga do mundo pois além de possuir jogadores tão técnicos quanto La Liga, exige muito mais físico e velocidade. Você, que também já jogou as duas ligas, concorda?

GP: Sou suspeito ao falar sobre a Premier League, até por que era o meu sonho jogar esta competição. Mas ele está certo. Disputamos o melhor campeonato nacional do mundo.

VBR: Qual a principal diferença no estilo de jogo dos atacantes em La Liga e na Premier League? E quais os jogadores mais difíceis de se marcar que você enfrentou nas duas ligas?

GP: Tanto uma quanto a outra tem suas características e particularidades, porém, tive a oportunidade de marcar três dos melhores atletas do futebol mundial na atualidade no futebol espanhol. Sem dúvida alguma marcar Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo é um verdadeiro vestibular para outras situações. Na Inglaterra, os atacantes são mais fortes e trombadores e isso exige não somente capacidade técnica, mas também do preparo físico.

VBR: Episódio Diego Costa: você disse que pra você já ficou no passado, mas a torcida do Arsenal ainda se revolta com a questão. Principalmente porque Costa poderia ter sido expulso muito antes de você se envolver, quando estapeou Koscielny. Na ocasião, o seu sentimento também foi de revolta? Até onde essa 'catimba', atitude recorrente do híspano-brasileiro, vale a pena?

GP: Volto a repetir que este episódio já está superado. Naquele momento cada um procurou defender os seus interesses e aquele foi o método que ele acreditou ser o mais correto. O Diego Costa é um grande atacante e joga por um dos gigantes do futebol mundial.

VBR: Episódio Wilshere: em agosto, você se envolveu em polêmica com Wilshere durante treinamento, onde acabou resultando na lesão de seu companheiro. Na época, você chegou a ser ameaçado de morte por alguns torcedores londrinos. Como você reagiu na época com aquela situação? E hoje, acredita haver alguma mágoa por parte dos mesmos quanto ao episodio?

GP: Este também é outro episódio totalmente superado. Foi um lance involuntário e que não tinha intenção de machucar o meu companheiro, que tem uma importância gigantesca para o elenco e o clube. Fiquei muito chateado e torcendo para que retornasse logo aos gramados.

VBR: Falta uma Champions League na galeria de títulos do Arsenal. E vocês são considerados como um dos melhores elencos da década. Existe pressão dentro do clube para conquistar esta sonhada taça que ainda falta? Principalmente após a conquista recente do arquirrival Chelsea?

GP: Todo grande clube existe pressão pelos grandes títulos. Não só o Arsenal almeja a conquista da Champions League, eu também o quero.

VBR: A Premier League desta temporada reservou uma grande surpresa: o Leicester City. Munidos de Mahrez e Vardy, o clube vem surpreendendo a todos e lutando pelo título. Como você vê a ascensão do clube que até então era apenas figurante no torneio? E o que você considera como grande diferencial para eles estarem lutando pela parte de cima da tabela?

GP: Isso mostra a qualidade e equilíbrio da Premier League. É um clube que até outro dia estava na 2ª divisão do futebol inglês e hoje está na liderança da competição. Eles estão mostrando ao mundo que ao se tratar de futebol nada é impossível. No entanto, apesar de todo furor sobre eles, o Arsenal vai ficar com o título (risos).

VBR: Como a atual Seleção Brasileira é vista pelos ingleses após o vexame contra a Alemanha e a eliminação na Copa América para o Paraguai? O Brasil perdeu um pouco de "credibilidade" nos últimos dois anos?

GP: O futebol brasileiro sempre foi visto de forma diferenciada, e claro que os últimos resultados abalaram a imagem do nosso futebol. A credibilidade ainda existe, mas não no mesmo patamar, porém, futebol brasileiro é futebol brasileiro.

VBR: Você não estava presente na Copa de 2014 e não vivenciou o 7 a 1 para a Alemanha dentro de campo. Entretanto, carrega a expectativa de ser um dos responsáveis pela nova safra que tem a missão de recolocar a Seleção em seu lugar. No tempo que você passou com o grupo das Eliminatórias, o que você pode notar de reflexo da goleada sofrida?

GP: Agora é uma nova história. Todos trataram de criar um ambiente capaz de superar este momento delicado que o futebol brasileiro atravessa para reerguer a Seleção Brasileira.

VBR: Como os jogadores mais antigos reagem nos dias atuais quanto a isso? E como os novatos são influenciados por essa pressão?

GP: Os mais antigos transmitem a experiência e ensinamentos que possuem, porém, são seres humanos como todos nós e demonstram um pouco de insatisfação pelo que aconteceu. Essa atitude serviu para não abalar os jovens que estão ingressando na Seleção e oferecer tranquilidade para mostrar o seu valor.