Dezenove de maio é um dia que ficará marcado para sempre na vida dos torcedores do Chelsea. Neste dia, em 2012, o clube conquistou sua primeira e única UEFA Champions League. Após múltiplos fracassos, os Blues chegaram àquela final completamente desacreditados. Mas o impossível aconteceu. Os azuis dominaram Munique, ou melhor, a Europa.

O retrospecto não era bom. O Chelsea escorregou nos pênaltis – literalmente – em 2008 contra o Manchester United, em 2009 caiu na semi-final para o Barcelona em um jogo extremamente polêmico. Em 2010 e 2011 foi eliminado pela Inter e pelo United nas oitavas e quartas, respectivamente. Mas a esperança, ah a esperança, ela é aquele negócio que nos faz persistir todos os dias e ela nunca morre.

Ninguém poderia imaginar o que aconteceria naquela noite. Uma final de Liga dos Campeões já é grandiosa por si só, mas, naquele caso, um dos finalistas era o dono do estádio. O Bayern de Munique tentava o título em casa e ainda contava com um time mais forte e mais talentoso. Era quase inimaginável que a orelhuda fosse para Londres.

Com emoção e muito coração

A campanha começou com um 2 a 0 sobre o Bayer Leverkusen, depois disso um empate com o Valência por 1 a 1 e uma goleada no Genk por 5 a 0. No jogo seguinte, o time belga segurou um empate por 1 a 1 e logo veio a primeira derrota, para o Leverkusen, na Alemanha, por 2 a 1. O último jogo da fase de grupos era crucial e qualquer erro poderia tirar os Blues precocemente da competição. O Chelsea conseguiu fazer 3 a 0 no Valência e garantiu lugar na fase seguinte.

Nas oitavas de final veio o Napoli e uma virada espetacular. Um placar desanimador de 3 a 1 no primeiro jogo diminuiu drasticamente as chances de classificação. A responsabilidade de tirar a diferença ficou nas mãos de Roberto Di Matteo, que assumiu o cargo de técnico até o final da temporada após a demissão de André Villas-Boas. A missão era difícil, mas, em um jogo sofrido e na prorrogação, o Chelsea fez 4 a 1 e assegurou a classificação.

Os Blues viajaram para Portugal nas quartas de final para enfrentar o Benfica. A primeira partida terminou com uma vitória apertada por 1 a 0 e os portugueses não conseguiram superar os ingleses no segundo jogo, que acabou 2 a 1. O sorteio determinou que Chelsea e Barcelona disputassem a semifinal. Tudo que tinha acontecido três anos antes era lembrado repetidas vezes; a ferida ainda estava aberta e essa poderia ser a vingança Blue.

Favorito é quem tem mais vontade

Didier Drogba conseguiu marcar no primeiro jogo em casa e fez 1 a 0 para o time de Londres. A volta foi disputada e emocionante, de uma forma que, quem assistiu, nunca poderá esquecer. O Barça abriu 2 a 0 e John Terry foi expulso aos 37 minutos, tudo parecia se encaminhar para a lógica, já que o time catalão é sempre franco favorito. Mas, ao final do primeiro tempo, Ramires marcou um gol memorável e diminuiu a vantagem.

Entretanto, aos 49 minutos, Drogba fez pênalti em cima de Fàbregas e Messi teve em seus pés a bola que praticamente daria a vitória ao clube catalão. O argentino bateu no travessão e deu mais um suspiro de esperança ao sonho azul. Fernando Torres, muito contestado, entrou aos 80 minutos e precisou de 12 para dar ao Chelsea a vaga na final.

Depois de assistir muitas chances perdidas e uma bola na trave dos adversários, Bosingwa tirou a bola da área de qualquer jeito e acabou encontrando Torres que, sozinho no campo de ataque, driblou Valdés e fechou o caixão Blaugrana.

O impossível Chelsea FC

O grande dia chegou. Sem Terry, Lampard assumiu a faixa de capitão. Ivanovic, Ramires e Raul Meireles também estavam fora. O time titular foi composto por Petr Cech; Bosingwa, David Luiz, Cahill e Ashley Cole; Mikel, Lampard e Bertrand; Kalou, Juan Mata e Drogba. A tensão era palpável e, por mais difícil que fosse, a confiança era enorme. O Chelsea já havia superado momentos adversos naquele ano. Havia chegado o momento, não é? Quando todos achavam que não ia dar, deu.

Foi um jogo feio, mas suficiente. O ônibus azul estacionou e se manteve intacto até os 83 minutos. Thomas Müller finalmente conseguiu furar a barreira e fez o primeiro gol da partida, aquele que muitos pensavam ser o único. Impossível? Didier Drogba fez o impossível. Aos 88 minutos, o ídolo da torcida Blue subiu de cabeça e mandou para o fundo das redes de Manuel Neuer. Estava tudo igual em Munique.

Prorrogação. Lá estava o destino tentando testar aquele time novamente. Logo aos 95, Drogba fez um pênalti em Ribery. A boa notícia é que um dos maiores heróis da campanha do Chelsea estava lá para eles, por eles. Petr Cech defendeu a cobrança de Robben e tudo permaneceu como estava.

Pênaltis. Tudo acabaria com muito nervosismo, como tinha que ser. O fantasma de 2008 assombrava a mente de quem tinha vivido aquele dia. Tinha que ser diferente. Lahm fez; Mata perdeu; Mario Gomez fez; David Luiz também; Neuer converteu; Lampard o mesmo; Olic perdeu; Cole fez; Schweinsteiger perdeu. 

O Chelsea estava a um pênalti da maior conquista de sua história; tudo estava nos pés de Didier Drogba. Como nem o mais incrível dos roteiros poderia reproduzir, nem o mais talentoso dos artistas seria capaz de pintar. Ele fez. Chelsea dos heróis improváveis, da superação. Chelsea, do impossível.

Ele conseguiu! A maior noite na história de Chelsea Football Club! Campeões europeus! Eles ganharam o Bayern em seu próprio campo! Eles acharam o Santo Graal depois de uma aventura cheia de perigos! E o Drogba pode nunca mais jogar pelo Chelsea de novo. Ele nunca será esquecido, ele é imortal neste clube”.

- Martin Tyler, 19 Maio 2012.