Lucas do Rio Verde é um município do interior do Mato Grosso. Chamada de “Cidade Modelo”, é conhecida por seu alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e pela alta qualidade de vida da maioria de seus 52.843 habitantes. De uns tempos para cá, porém, não é nada disso que mais tem orgulhado os habitantes locais. Fundado em 2004, o Luverdense colocou o pequeno município no cenário esportivo nacional ao conquistar, no ano passado, o acesso inédito para a Série B do Brasileirão.

O ano de 2013 foi especial para o clube que joga no modesto Passo das Emas, com capacidade para 10 mil pessoas. Além do acesso para a segunda divisão do Campeonato Nacional, a equipe surpreendeu o Brasil na Copa do Brasil – que já disputou três vezes. Além de eliminar o Bahia, o Luverdense surpreendeu a todos ao vencer o Corinthians no primeiro jogo das oitavas de final por 1 a 0. No jogo de volta, a derrota por 2 a 0 eliminou o LEC, que, depois de dois títulos matogrossenses, vai chegando, aos poucos, entre os grandes times do Brasil. A história, os objetivos, os desafios e toda a preparação do clube para a Série B você acompanha nas linhas a seguir.

Luverdense na Série C de 2013 (Foto: Divulgação/Luverdense)

Decepção na Série C de 2012

Disputando a terceira divisão ininterruptamente desde 2008 e com boas campanhas em edições anteriores, o Luverdense entrou na Série C de 2012 como candidato a conquistar uma das quatro vagas na Série B do ano seguinte. No primeiro ano do novo regulamento, com dois grupos de 10 equipes divididas por critérios geográficos, o LEC ficou no Grupo A, ao lado de Águia de Marabá, Cuiabá, Icasa, Fortaleza, Guarany de Sobral, Paysandu, Santa Cruz, Salgueiro e Treze.

Fazendo valer seu favoritismo, o Luverdense somou 34 pontos em 18 jogos e conquistou uma classificação tranquila para as quartas de final, terminando em segundo lugar, atrás apenas do Fortaleza, que somou 39, e com 12 pontos a mais que o quinto colocado, primeiro a ser eliminado, o Treze. Ao todo, foram 10 vitórias, quatro empates e quatro derrotas, com 32 gols marcados e 26 sofridos.

O clube mato-grossense foi então, decidir uma vaga na semifinal e o acesso para a Série B contra o também ascendente Chapecoense, que havia ficado em terceiro lugar no Grupo A. Com a vantagem de avançar em caso de resultados iguais, o clube de Lucas do Rio Verde, fundado apenas oito anos antes, foi ao Estádio Índio Condá iniciar a batalha pelo acesso inédito.

Lá, porém, as coisas não foram como o torcedor esperava. O Luverdense perdia por 1 a 0 até os 21 minutos do segundo tempo, resultado que estava longe de ser um desastre. Porém, nesses 25 minutos finais, o clube do centro-oeste brasileiro sofreu mais dois gols e ficou distante, muito distante do acesso. No jogo de volta, o Luverdense se despediu da Série C com uma vitória por 1 a 0. A vaga na Série B não foi conquistada, mas parecia óbvio que ela estava cada vez mais perto.

Na última edição do Brasileiro, veio o sonhado acesso

Primeira equipe do MT a disputar a Série B desde 1995

Depois da decepção na edição de 2012, o Luverdense entrou mais uma vez como favorito ao acesso na Série C de 2013. Novamente no Grupo A, o LEC dividiu o chaveamento com outras 10 equipes – Águia de Marabá, Baraúnas, Brasiliense, CRB, Cuiabá, Fortaleza, Rio Branco, Sampaio Corrêa, Santa Cruz e Treze.

Mais uma vez, o Luverdense somou 34 pontos, mas agora em 20 jogos e novamente terminou em segundo lugar, mas agora empatado com o líder Santa Cruz e com apenas dois a mais que o quinto colocado, o Fortaleza. Foram 10 vitórias, quatro empates e seis derrotas, com 30 gols marcados e 20 sofridos.

Já conhecido no cenário nacional, principalmente pela vitória sobre o Corinthians na Copa do Brasil, o Luverdense foi mais uma vez decidir o acesso contra uma equipe do Sul do país, mas, dessa vez, uma bem mais tradicional: o Caxias, dono de uma das mais fanáticas torcidas do interior do Rio Grande do Sul.

A força da torcida Grená, contudo, não foi suficiente para segurar a jovem a equipe do Mato Grosso, que venceu o jogo de ida por 2 a 1 em pleno Estádio Centenário, em Caxias do Sul, e ficou muito perto do acesso inédito para a Série B. No jogo de volta, 4.506 pessoas (o que representa aproximadamente 8% da população local) estiveram presentes no Passo das Emas para ver o jogo do acesso. O zero a zero persistiu no placar até os 16 minutos do segundo tempo, quando Misael abriu o placar para os donos da casa. Dez minutos depois, Rafael Tavares marcou o gol que sacramentou a ascensão da equipe de Lucas do Rio Verde para a segunda divisão, sendo a primeira equipe do Mato Grosso a disputar o torneio desde 1995, época em que o torneio era bastante inchado, quando o Barra do Garças esteve no certame.

Com o objetivo conquistado, o Luverdense focou na disputa do título e reencontrou o Santa Cruz na semifinal. Com dois gols no segundo tempo, o Santinha venceu em Lucas do Rio Verde por 2 a 0 e, no jogo de volta, garantiu vaga na final com um triunfo por 2 a 1 no Arruda. Nada, porém, que estragasse a festa e o ano da equipe do Mato Grosso.

O nome de 2013: Rafael Tavares

Embora a força do Luverdense estivesse no conjunto e não no individual, impossível não destacar a importância do meia Rafael Tavares na equipe. Atualmente com 23 anos, ele começou na base do São Paulo e passou por clubes do interior paulista como Marília e Sertãozinho antes de chegar ao Mato Grosso em 2012.

Em 2013, ele se destacou mais a Copa do Brasil, mas também foi fundamental na campanha do acesso. Ele marcou quatro gols ao longo dos 24 jogos do Luverdense no torneio, mas foi na criação de jogadas que se destacou. Os gols marcados pelo artilheiro Tozin tinham, em geral, sua colaboração.

A boa temporada pelo Luverdense chamou a atenção do Goiás, que o contratou para a temporada de 2014. Sem ser aproveitado no elenco, ele foi emprestado ao Aparecidense, também do estado goiano.

O início da temporada

Na expectativa para o ano mais importante de sua curta história, o Luverdense já tem uma decepção na temporada. Foi no Campeonato Matogrossense, onde a equipe entrou como maior favorita por motivos mais que óbvios. Na primeira fase, esteve no Grupo B ao lado de Ceov, Mato Grosso, Mixto e Sinop e confirmou o favoritismo. Com sete vitórias e apenas uma derrota (na sétima rodada, 3 a 2 para o Ceov) em oito jogos, a equipe avançou em primeiro lugar.

Nas quartas de final, o Luverdense até tomou um susto no jogo de ida ao perder de 1 a 0 para o Cacerense, que ficou em quarto e último lugar no Grupo A, mas como o regulamento previa a classificação de todas as equipes, menos a última colocada do Grupo B, que tinha cinco clubes, avançou para as quartas de final. Regulamento estranho à parte, o clube de Lucas do Rio Verde conseguiu uma vitória por 2 a 0 no segundo jogo e avançou para a semifinal.

Lá, se reencontrou com o Ceov, mas não reencontrou o bom futebol do início do campeonato. Foram 180 minutos sem gols e a classificação para a final só veio após uma emocionante disputa por pênaltis, que terminou 7 a 6. A final foi contra o Cuiabá e o futebol abaixo do esperado enfim cobrou a conta. Com duas derrotas por 1 a 0 nos jogos finais, o Luverdense viu o rival da capital comemorar o bicampeonato estadual. Pior do que isso, o desempenho ruim nos últimos jogos começa a preocupar o torcedor da equipe, que já começa a se preparar para sofrer no Brasileirão.

Devido ao desempenho não tão bom no Estadual em 2013, o Luverdense não disputa a Copa do Brasil em 2014.

Quem comanda: Júnior Rocha

O treinador do Luverdense, Júnior Rocha, é outro dos treinadores da chamada “nova geração”. Há dez meses no comando do Verdão, ele conseguiu o acesso para a Série B, mas faz questão de dividir o feito com todos os segmentos do clube, dos jogadores à diretoria.

Com características mais ofensivas, ele foi uma aposta acertada da diretoria para comandar a equipe. No primeiro jogo da final do Campeonato Matogrossense, ele gostou do desempenho da equipe e creditou a derrota com um gol aos 42 do segundo tempo ao gramado ruim do Estádio Presidente Dutra, na Capital Cuiabá. No segundo jogo, porém, reconheceu que o Cuiabá mereceu o título, mas considerou que o objetivo da equipe no torneio, a vaga na Copa do Brasil e na Copa Verde de 2015, foi alcançado.

Quem decide: Júlio Terceiro

Terceiro vai pra sua terceira temporada no LEC

Tal como Rafael Tavares, Júlio Terceiro é outro jogador que chama a atenção mais pela criação que pelas finalizações. Aos 30 anos, ele coleciona passagens por 11 clubes brasileiros e pelo desconhecido Italmaracaibo, da Venezuela.

Desde 2012 no Luverdense, ele se destacou na Copa do Brasil com uma boa atuação em Lucas do Rio Verde no jogo contra o Corinthians, pelas oitavas de final, e também foi importante na Série C. Dos jogadores que ficaram no elenco para 2014, o que não é caso de nomes como Rafael Tavares e Tozin, ele é o mais importante.

Quem promete: Reinaldo

Ele já jogou em grandes times do futebol brasileiro como São Paulo, Botafogo e Flamengo, mas agora tem uma casa mais modesta: o Luverdense. Aos 35 anos, ele, que disputou a Série B pelo Paraná Clube no ano passado, é a principal contratação da diretoria do Verdão para tentar ao menos se manter na segunda divisão.

Com passagens pelo futebol asiático e até pelo PSG, da França, ele chega ao Mato Grosso depois de disputar o Campeonato Catarinense pelo Metropolitano e faz parte de um pacotão de reforços da diretoria luverdense, que conta ainda com os atacantes Lê e Léo (que estavam no Veranópolis e no Paraná Clube), o zagueiro Tomazella (que estava no Batatais) e com a volta do meia Rubinho, que estava no América de Natal.

O desafio: se impor

Antes de pensar em se manter na Série B, o Luverdense tem uma missão que pode ser ainda mais complicada: conquistar o respeito de grandes times do futebol brasileiro, como, por exemplo, o Vasco, ou clubes mais tradicionais como a Ponte Preta e a Portuguesa.

Até pela baixa população local, a equipe não deve contar com o apoio da torcida e sofrerá, ainda, com o fato de, apesar de momentos de brilho no ano passado, ser uma equipe relativamente desconhecida e que não deve assustar muito seus adversários.

Dentro de campo, o desempenho, como dito anteriormente, não tem sido dos melhores e os reforços contratados pela diretoria são uma incógnita, principalmente o veterano Reinaldo. Como a equipe ainda não fez nenhum jogo contra uma equipe do nível Série B, é difícil prever como o Luverdense se sairá, mas é fato que, para fazer uma boa campanha, o caminho será longo e difícil.

Avaliação VAVEL

Apesar da ascensão meteórica, não é possível avaliar o Verdão, que tem uma simpática espiga de milho como mascote, de outra forma que não como candidato ao rebaixamento. O time não rendeu nesse primeiro semestre e, como os reforços só chegaram na semana passada, o clube pode enfrentar dificuldades de adaptação e entrosamento. Se o time se acertar durante o torneio, pode fazer um campeonato tranquilo, mas, por enquanto, as perspectivas não são as melhores para a jovem equipe matogrossense.

WP