Clássico da Saudade: Santos, Palmeiras e um duelo repleto de histórias

Tanto no passado quanto no presente recente, Santos e Palmeiras fizeram grandes jogos. Domingo, mais um capítulo desse clássico começa a ser escrito

Clássico da Saudade: Santos, Palmeiras e um duelo repleto de histórias
Arte: Natália Furlan/VAVEL Brasil
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Por Julio Cesar Silva Gama

No próximo domingo (26), Santos e Palmeiras entram em campo, na Allianz Parque, pelo primeiro jogo da final do Campeonato Paulista 2015. Após 55 anos, o Peixe e o Verdão superaram a desconfiança, passaram por cima de obstáculos, derrotaram o favoritismo e vão decidir quem fica com a taça do estadual.

‘Clássico da Saudade’, é assim que foi batizado os confrontos entre Santos e Palmeiras, tudo por conta de um jogo, de uma década, de dois times que tinham dois dos melhores elencos do futebol brasileiro, e que por anos encantaram por onde jogaram, cativando até torcedores rivais, que as vezes deixavam até de ver o seu time para ir ao estádio ver o Santos de Pelé ou o Palmeiras de Ademir da Guia. Depois de exatos 55 anos, o Peixe e o Verdão voltam a decidir em uma final do Campeonato Paulista, a última vez em que isso ocorrerá foi em 1959, que teve a equipe da Barra Funda como campeã.

Santos e Palmeiras, dos quatros grandes de São Paulo, não eram unanimidade no estadual desse ano. Um perdeu vários jogadores e iniciou a temporada em crise, o outro contratou diversos jogadores e demorou para achar o time ideal. Nem de longe as duas equipes eram esperadas na decisão, mas ambos venceram a desconfiança, derrotaram os favoritos e agora vão decidir com quem fica a taça do Campeonato Paulista 2015. O primeiro jogo é no próximo domingo (26), na Allianz Parque, a nova arena moderna e luxuosa do Palmeiras, que vai receber pela primeira vez um jogo de decisão, e a volta está agendada para o dia 3 de maio na Vila Belmiro, em Santos, estádio calejado de receber tantas decisões e craques que fizeram história no futebol nacional.

A primeira vez: 1915

Na época ainda chamado de Palestra Itália, o Verdão queria disputar o Campeonato Paulista de 1916, mas a Associação Paulista de Esportes Atléticos, na época, impôs que, se quisesse disputar o estadual, tinha que vencer, em um amistoso, um time de ponta da época, a sua escolha. O Palestra escolheu o Santos, que apesar de não disputar o torneio estadual, já era conhecido e respeitado por conta do seu grande futebol.

O Santos acabou goleando o Palestra Itália por um sonoro 7 a 0, o que acabou com qualquer esperança da equipe da capital disputar o estadual. Mas graças a exclusão do Scottish Wanderes, clube de origem escocesa do século XX em São Paulo, por conta de comprar jogadores num campeonato amador, tanto o Palestra, como o Santos, disputaram o Campeonato Paulista de 1916.

O clássico que fez o Brasil e o coração parar: 1958

Se teve uma partida que o jogo entre Palmeiras e Santos fez jus ao nome de batismo, certamente foi o duelo entre as equipes em 6 de Março de 1958. O estádio era o Pacaembu, o clássico era pela rodada do Rio-São Paulo daquele ano, que, naquela altura, não valia nada, mas ainda assim era o clássico entre duas das maiores potencias do futebol brasileiro no momento. De um lado o Santos de Dalmo, Zito, Dorval, Pagão, Pelé e Pepe; Do outro o Palmeiras de Valdemar Carabina, Waldemar Fiúme, Mazzola e Urias. Certamente, quem foi ao estádio, ou que viu aquele jogo, se recorda de cada lance, cada gol, cada minuto daquela partida entre Santos e Palmeiras, que é recordado até os dias de hoje e tido, pelas pessoas que viram aquela partida, como a maior de todas, e que outra, como aquela, não se viu ainda.

Quem saiu na frente do placar foi o Palmeiras com gol de Urias aos 18 minutos da primeira etapa, mas viu Pelé, aos 21, e Pagão, aos 25, virar a partida rapidamente, mas Nardo tratou de deixar o placar em igualdade um minuto depois do gol do atacante do Peixe. Mas o Santos, naquela época, era uma máquina de fazer gols, e fez jus ao apelido quando Dorval, Pepe e Pagão, antes do fim do primeiro tempo, colocaram 5 a 2 no marcador do Pacaembu. Uma goleada que, certamente, desestabilizaria qualquer time, mas não aquele Palmeiras.

Ainda no intervalo, Oswaldo Brandão, treinador do Palmeiras na época, pediu aos seus jogadores que tomassem vergonha, e trocou o goleiro, colocando em campo o uruguaio Carballo. Funcionou o puxão de orelha? Sim, funcionou. Mazzola voltou para o segundo tempo endiabrado, e comandou a virada alviverde. Paulinho fez o terceiro gol do Palmeiras aos 26 minutos, Mazzola marcou aos 19 e aos 27 do segundo tempo deixou o jogo empatado em 5 a 5. O que parecia impossível, se tornou real quando Urias, aos 34 da segunda etapa, virou o jogo para 6 a 5, era o milagre do Palmeiras se tornando realidade. Mas as emoções não pararam por ai, como dito anteriormente, o Santos era uma máquina de fazer gols, e, mais uma vez, tratou de fazer jus ao apelido novamente, inacreditavelmente, virou a partida para cima do Palmeiras em 7 a 6. Aos 38 minutos, Pepe, em um de seus chutes potentes, deixará tudo igual novamente e, aos 41, selava a vitória do Santos.

Um jogo de emoções fortes, que, infelizmente, segundo alguns relatos da época, levou algumas pessoas a morte. Ao que noticiaram naquele dia, cinco pessoas haviam falecidas por conta da partida, três delas dentro do próprio estádio do Pacaembu. Uma partida de 13 gols, de duas viradas, um dos clássicos mais emocionantes de todos os tempos, que marcou e deixou saudades para muitas pessoas, e que acabou fazendo com que outras pessoas ficassem com saudades de quem, numa fatalidade, acabou não suportando tanta emoção.

O dia em que o ‘Armeration’ colocou os Meninos da Vila pra dançar: 2010

O ano de 2010 para o Santos, sem duvidas, foi um dos mais marcantes para, não só o clube, como toda a torcida. Comandados por Neymar, Paulo Henrique Ganso e Robinho, os Meninos da Vila venceram e passaram por cima de muitos times, mas também teve suas pedras no caminho, e uma delas foi o Palmeiras. Em março daquele ano, Santos e Palmeiras, na Vila Belmiro, se enfrentaram pela 14ª rodada e fizeram um dos melhores jogos do campeonato.

O Peixe saiu na frente do placar com Pará, que recebeu na esquerda e, depois de tirar o marcador, bateu colocado, no ângulo, sem defesas para Marcos. Neymar, aos 30 minutos, ampliou para o time da casa. O camisa 11 recebeu lindo passe de Ganso e, na saída de Marcos, tocou por cima do goleiro e foi comemorar com dancinhas, característica essa que ficou eternizada e marcada naquele time do Santos. Mas, ainda no primeiro tempo, Robert, duas vezes, garantiu o empate antes do intervalo. Primeiro, aos 41, o atacante do Palmeiras subiu mais alto que a defesa santista e diminuiu, de cabeça, para o Verdão. Depois, aos 45, Armero cruzou e o camisa 20, de primeira, colocou para o fundo das redes. Assim como os jogadores do Santos, os atletas do Palmeiras, inspiradores pela dança bizarra de Armero, também comemoraram com dancinha, lance esse que marcou o clássico.

Na volta para o segundo tempo, após cobrança de falta, a bola sobrou para Diego Souza que, de peixinho, colocou no fundo do gol e virou para o Verdão, e teve mais ‘Armeration’ na comemoração. Aos 35 minutos da segunda etapa, o Santos empatou a partida com Madson. O baixinho recebeu dentro da área e, na saída de Marcos, colocou no fundo das redes, e na comemoração imitou um Porco, assim como Viola em 1993. Mas, já a caminho dos acréscimos, Robert, de fora da área, acertou lindo chute e colocou a bola no ângulo do goleiro Felipe, dando a vitória ao Palmeiras por 4 a 3, mostrando que dança por último, dança melhor.

Palmeiras x Santos na história

Ao todo, Palmeiras e Santos se enfrentaram 270 vezes, com ampla vantagem para o time alviverde: 114 vitórias, 65 empates e 85 vitórias para o time santista. O Palmeiras também se sobressai em confrontos pelo Campeonato Paulista: Em 180jogos, o Verdão venceu 88, perdeu 40 e empatou 52 vezes. Pelo Campeonato Brasileiro a história é bem diferente: Dos 54 confrontos, o Santos foi quem venceu mais, 19 contra 15 do Palmeiras, havendo ainda 20 empates. Quando o assunto é gol, o Palmeiras também leva a melhor em cima do Santos. Nos 270 clássicos até aqui, o Palmeiras balançou as redes em 455 oportunidades, enquanto o Santos 385 vezes.

No duelo entre as equipes pela fase de grupos do Paulistão nesse ano o Santos levou a melhor. De virada, a equipe da Vila Belmiro venceu por 2 a 1, gols Renato e Ricardo Olieira, Vitor Hugo marcou pelo Verdão. Santos e Palmeiras se enfrentam em dois jogos, mais duas paginas na história desse clássico que será escrita e definirá quem será o grande campeão do Campeonato Paulista de 2015.