Existe vida na Seleção Brasileira sem Neymar?

Ausência do principal nome da Canarinho nas duas primeiras rodadas das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 pode ser a oportunidade para Dunga instaurar um futebol mais coletivo na Seleção

Existe vida na Seleção Brasileira sem Neymar?
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Por Luís Francisco Prates

Punido com quatro jogos de suspensão devido à expulsão contra a Colômbia, em partida válida pela segunda rodada da fase de grupos da Copa América 2015, o atacante Neymar Júnior perdeu o restante da competição continental. Como a Seleção Brasileira foi eliminada do torneio precocemente - sucumbiu diante do Paraguai, nos pênaltis, nas quartas de final -, a pena ao camisa 11 se estenderá às duas primeiras rodadas das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, contra Chile e Venezuela.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) até tentou diminuir a sanção junto à Corte Arbitral do Esporte (CAS), mas o recurso da entidade que controla o futebol brasileiro foi rejeitado.

É indiscutível que o jovem de 23 anos, capaz de desequilibrar qualquer partida, é o jogador mais talentoso da atual geração da Amarelinha. Mas, do plantel atual, a revelação do Santos não é o único protagonista tratando-se de clubes.

Debaixo das traves, Jefferson, Marcelo Grohe e Alisson são nomes consolidados em seus respectivos clubes: Botafogo, Grêmio e Internacional. É verdade que o ídolo da Estrela Solitária está jogando a Série B, mas sua qualidade como goleiro é indiscutível. Somam-se a isso seu espírito de liderança e sua vasta experiência como jogador, que pode ser repassada aos companheiros da posição – Grohe tem 28 anos; Alisson, 23.

Capitão da equipe carioca, Jefferson tem 32 anos e coleciona várias convocações para a Seleção, além de passagem pelo futebol do exterior e mais de 200 partidas pelo clube de General Severiano.

Entre os laterais, Daniel Alves foi um dos grandes nomes do Barcelona na segunda metade da última temporada europeia e garantiu a extensão de seu vínculo com o clube catalão. Tem experiência de sobra como integrante do seu clube e da Seleção, mesmo caso de Marcelo, do Real Madrid.

Filipe Luís, um dos ícones da Era Diego Simeone no Atlético de Madrid, e o jovem Fabinho, do Monaco, são outros bons nomes da posição.

Na zaga, a presença de David Luiz e a ausência de Thiago Silva (ambos do PSG) foram alvos de muitas contestações. Por outro lado, há nomes fortes: os regulares zagueiros Miranda e Gil. O primeiro rendeu 15 milhões de euros aos cofres do Atleti na negociação com a Internazionale, hoje vice-líder da Serie A. O segundo é um dos pilares da sólida defesa do Corinthians, líder do Brasileirão. Também se destaca o promissor Marquinhos, do PSG.

No setor de meio-campo, dois nomes em especial agradaram: Renato Augusto, do Corinthians, e Lucas Lima, do Santos. Ambos são jogadores versáteis e dão muita qualidade ao meio-campo.

Mas o nome da vez é Douglas Costa. Após seis temporadas no Shakhtar Donetsk, o meio-campista se tornou nada mais e nada menos do que o terceiro jogador mais caro da história do Bayern de Munique. A transação envolveu 30 milhões de euros, atrás somente dos 37 milhões pelo alemão Mario Götze, junto ao Borussia Dortmund, e dos 40 milhões pelo espanhol Javi Martínez, junto ao Athletic Bilbao.

Habilidoso e velocista, o jogador revelado pelo Grêmio vem justificando o alto investimento do clube bávaro. Até o momento, acumula cinco assistências e um gol em oito partidas. Segundo o técnico Pep Guardiola, o camisa 11 é, "assim como Neymar, um jogador com DNA tipicamente brasileiro, pois faz jogadas de efeito".

Douglas Costa é apontado como o maior candidato a "substituto" de Neymar no pontapé inicial das Eliminatórias. Ele deve dividir a responsabilidade de criar preciosas jogadas com Willian e Oscar, representantes do Chelsea na convocação. Ainda por cima, o ex-jogador de Corinthians, Shakhtar e Anzhi tem tido ótimo aproveitamento em jogadas de bola parada: fez três gols nas últimas três cobranças de falta. Apesar da má fase dos Blues na Premier League, os dois podem ser importantes para o elenco verde e amarelo.

Mais à frente, as convocações emergenciais de Kaká (33 anos), astro do Orlando City, e Ricardo Oliveira (35 anos), artilheiro do Brasileirão com 17 gols pelo Santos, contrastam com as presenças de nomes mais jovens: Hulk (29), craque do Zenit, e Lucas Moura (23), que cresce no PSG a cada temporada.

Apesar de outros nomes (Alexandre Pato, do São Paulo, e Jonas, do Benfica, por exemplo) serem reivindicados por boa parte da torcida, e até mesmo da imprensa esportiva, as presenças dos experientes Kaká e Oliveira podem ajudar ou aliviar um grupo que precisa conviver com a ausência de seu maior nome.

Ricardo Oliveira volta à Seleção depois de oito anos de ausência

É necessário que Dunga tire proveito do potencial de cada jogador e leve em conta o histórico de jogo bonito dos pentacampeões – a pragmática filosofia da Era Dunga tem sido alvo de críticas – e as exigências do futebol moderno – mais coletividade e menos "toca para o craque que ele resolve", filosofia com a qual o Brasil conviveu na última Copa do Mundo.

Espera-se que a ausência de Neymar seja a grande oportunidade para o técnico instaurar um futebol mais coletivo na Seleção – sem interferir nas posições ideais dos jogadores – e afastar a famosa tese da "Neymar-dependência". E consolidar o "coletivismo" nas partidas seguintes, quando o craque estiver de volta.

O Brasil passa a imagem de que joga somente quando precisa do resultado. No momento em que o tem em mãos, dá-se ao luxo de parar de ditar as ações da partida. Foi assim contra Venezuela e Paraguai, na Copa América. Diante dos paraguaios, pagou caro por abdicar de jogar.

É preciso acabar com a ideia de que só o talento resolve. É importante, lógico, mas disciplina tática e comprometimento com a camisa que veste e com a torcida a ser representada são fatores igualmente indispensáveis.

Vale lembrar que jogadores frequentes em convocações anteriores, como o lateral-direito Danilo, o meia Philippe Coutinho e o meia-atacante Roberto Firmino, estão lesionados. Quando voltarem aos gramados, eles podem ajudar a Seleção nos próximos compromissos.

Nomes promissores como, por exemplo, o meia Andreas Pereira, o meia-atacante Gabriel Boschilia e o atacante Gabriel Jesus, alguns dos jogadores que despontaram no Mundial Sub-20, e o também atacante "Gabigol", que vive boa fase no Santos, também podem entrar em cena ao longo da caminhada. A geração não é ruim. Só precisa ser bem aproveitada. Caso contrário, o Brasil não voltará a provar por que se tornara sinônimo de "futebol-arte".